Evandra Reinhard Zola
As luzes dos postes desligam assim que o relógio da torre do Arcanato marca seis horas da manhã, deixando as ruas de Arbelian em penumbra, conforme o sol surge além do oceano.
Os sons de motores a vapor e núcleos Tahrtec se ativando anuncia a vida da cidade, que pulsa com energia, trabalhadores construindo novos sistemas de encanamento para as zonas mais altas da cidade, onde não moravam, e operários lapidando pedras para pavimentar estradas onde carros, que não possuíam, poderiam passar. Mas, apesar da desigualdade, existe ânimo e excitação nas pequenas ruas e vielas da cidade que se localiza em um penhasco diante do oceano, no extremo norte dos Reinos Humanos: estudantes prontos para enfrentar os testes de aceitação do Centro de Pesquisa de Arbelian, pequenas oficinas cheias de mentes curiosas e, às vezes, brilhantes tentam criar algo digno de ser levado para avaliação, jovens magos que buscam uma nova chance de ingresso no Arcanato oferecendo seus serviços e conhecimentos para nobres menores.
O sol toma seu lugar de destaque no céu, iluminando a face da cidade e, acima de toda a agitação e das nuvens de vapor, a pequena garota de pele branca e negros cachos até a altura da maçã do rosto o encara, de olhos semi cerrados por ousar encarar a luz do poderoso astro.
Seus pés descalços sentem a pedra fria da sacada de seu quarto que, aos poucos, absorvia o calor solar, e sua camisola branca tremula com o vento que trazia o cheiro de maresia e os gases da cidade abaixo.
E em sua mão, uma carta de baralho com a figura de um escudeiro.
— Vinte e três — murmura, desafiando a grande estrela.
Cerca de dez minutos depois, uma batida apressada na porta do grande quarto chama sua atenção.
— Entre — diz sem aumentar o volume da voz e passa pelas cortinas azuis-bebê da sacada para o quarto.
— Bom dia, doutora — a loira com o cabelo amarrado em um coque perfeito e um uniforme de camisa branca e saia azul marinho entra com duas sacolas e alguns papéis.
— Evandra.
— Ah, certo. Bom dia, Evandra — sorri.
— Você está atrasada — se senta na frente da penteadeira e encara o espelho.
— Mas tenho um ótimo motivo para isso — coloca as sacolas em cima de um banco e pega um cupcake com uma vela em cima, em seguida o colocando em cima da penteadeira e acendendo a vela. — Feliz aniversário!
— Tiziana, ele é tão pequeno — encara o bolinho com um brilho no olhar.
— Bem, eu ainda não recebi esse mês e...
— Eu gostei, ele é fofo — fala e Tiziana sorri aliviada.
— Bem, faça um pedido e assopre a vela.
— Normalmente eu faço o pedido com o bolo que meus pais compram.
— Você pode fazer um pedido por bolo, é uma regra secreta dos aniversários — diz em tom divertido.
— Eu quero mais bolos — assopra a vela.
— Não é assim que funciona! — segura a prancheta de papéis contra o peito.
— Oh, que pena — tira a vela e a coloca em cima de um lenço umedecido. — Quer dividir o bolo?
— Eu aceito um pedacinho sim, obrigada — dá uma mordida pequena na lateral do bolo. — Está muito gostoso.
— Tiziana.
— Sim?
— Por que você não cortou um pedaço com uma faca?
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Crônicas de Albaran: O Vigia da Montanha
FantasiApós os eventos do primeiro livro, os Guardiões partem em busca de Grandel, um dos quatro feéricos originais e única pessoa que pode lhes ajudar no conflito que os espera. Cordélia enfrenta fantasmas do seu passado em uma disputa que pode resultar e...