dezessete.

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Eu nem mesmo cheguei a entregar o papelzinho para minha irmã antes que ela negasse o convite.

— Nem morta — Rita respondeu, sem nem mesmo tirar os olhos da apostila que estava lendo.

Eu dei uma risadinha, e me joguei do seu lado no sofá.

— É, eu imaginei que você ia dizer isso. — Coloquei o papelzinho sobre a mesa de canto, perto do telefone, e bisbilhotei a matéria que ela estudava. Era alguma coisa sobre músculos do braço, eu acho.

— Mas você devia ir — disse, como se não fosse nada demais. Eu me virei pra ela com os olhos cerrados, tentando entender se era piada ou não, mas ela estava seríssima.

— Eu nunca nem conversei com a Ana Julia direito. — Cutuquei a costura do braço do sofá, sem graça.

— Ela não vai ser a única pessoa lá, né, idiota. Seus amigos vão? A Bia, o Mateus e aquela doida do supermercado?

Dei uma risadinha pelo jeito que ela se referiu a Safira.

— Bia tá viajando. Os outros dois querem ir, eu acho. — Dei de ombros. Safira tinha ficado decepcionada quando falei que não ia.

— Então vai junto, Mari. Não custa nada, e é aqui do lado. — Minha irmã levantou os olhos da apostila e balançou a cabeça para dar ênfase.

Fiz um bico. Eu não gostava muito de festas, mas nunca tinha ido numa festa de verdade, de pessoas da minha idade. Talvez fosse ser legal, eu acho.

— Não tenho fantasia — lembrei, mordendo o lábio.

— A gente arruma. Você vai ou não? — Ponderei por alguns segundos. O que poderia dar errado? Dei de ombros, aceitando. — Liga pra eles e avisa, então. É que hora?

— Começa às oito.

Ritinha olhou para o relógio acima da porta da cozinha.

— São só duas agora. Vocês tem bastante tempo ainda.

 Vocês tem bastante tempo ainda

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Liguei primeiro para Mateus. Não sei direito o que falei, mas tenho absoluta certeza que as palavras "festa" e "se arruma" foram repetidas várias vezes. Instintivamente, quase disquei o número de Bia, mas aí me lembrei que ela nem estava em Boa-Morte, e tive que procurar onde eu tinha anotado o número de Safira na minha agenda.

— Você mudou de ideia? — ela repetiu, parecendo não estar surpresa com aquilo.

— É. Você tem fantasia pra vestir, né? — perguntei. — Isso se você ainda quiser ir. — Enrolei o dedo no fio do telefone como sempre fazia, e ouvi ela dar uma risadinha bem baixinha.

— Qual o endereço da casa dela? — Safira perguntou, finalmente. Enquanto eu ditava, ela fez vários uhum's e então disse. — Não sei que horas vou ficar pronta, então se vocês quiserem chegar mais cedo ou mais tarde, não precisam me esperar.

Os Fantasmas de Boa-Morte ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora