onze.

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— Acho que vou na locadora hoje — Mateus diz, assim que o sinal do intervalo toca. — Cês vão comigo?

Bia balança a cabeça, começando a desembrulhar o salgado que ela tinha trazido de casa, e eu apenas sigo os dois a caminho do pátio da escola, amarrando uma blusa de frio do uniforme ao redor da cintura.

— Acho que posso, mas não sei se quero. — A garota dá uma mordida na esfirra, e Mateus franze o cenho para ela, esperando que ela termine de falar. — Tá cedo demais na semana pra ver você falhar miseravelmente em flertar com a Raquel.

Mateus fica vermelho, as bochechas como um pimentão, e eu quero rir da cara dele. Fico feliz que não sou a única que sabe do penhasco que ele tem pela vendedora da locadora. Pelo menos Bia teve a coragem de falar sobre isso com ele.

— Bia! — ele reclama, e a garota ri, enquanto todos nos sentamos num banco de cimento debaixo de uma arvorezinha no pátio.

— Tô falando sério, amigo. Tá na hora de você superar. Ela é muito mais velha que você, e você não é nenhum Anakin Skywalker em Ataque dos Clones pra uma mulher mais velha linda igual a Raquel te querer.

Mateus faz uma careta, decepcionado, e eu dou uma risadinha. Bia também era nerd igual Mateus, então não fico muita surpresa quando ela também solta a referência do nada.

— Vou ignorar o que você disse e pensar só na parte que a Raquel seria a minha Padmé. — ele disse, olhando pro céu de uma forma sonhadora exagerada.

— Deixe de ser idiota. — Bia dá um tapa no braço dele, o fazendo choramingar. — A pobre coitada da Raquel não merece um zé-mané igual tu.

Dou uma risada com a cena.

— Eu desistiria, se fosse você. Ela me disse que foi num encontro semana passada. — comento, observando as pessoas andarem ao redor de nós como se fossem personagens de um programa de TV enquanto tomo meu suco pelo canudinho.

Ambos Mateus e Bia se viram pra mim com uma velocidade surreal. É a primeira vez que falo qualquer coisa hoje, e acho que eles não esperavam que eu soltasse aquela bomba de primeira assim.

— Quem? Raquel? — Mateus pergunta só pra confirmar, e eu assenti. — Com quem?

Dou de ombros.

— Ela não me falou, e mesmo que eu soubesse, não te falaria. Não é da sua conta — digo. — Supera ela, cara. Já passou da hora.

Bia balança a cabeça, concordando.

— Tem tanta gente legal na escola pra você ter uma queda, pra quê gostar de uma menina que é quatro anos mais velha que você? — argumenta. — Imagina se fosse a Maria Madalena gostando do seu irmão.

Imediatamente paro de sugar o canudinho e faço ânsia de vômito. Mateus também faz uma careta ao mesmo tempo.

— ECA — falamos, juntos, olhando um para o outro com repulsa.

Só a sugestão de eu gostar de alguém tipo o Dudu faz calafrios subirem pelas minhas costas, e eu não sei se é porque ele é irmão do meu melhor amigo que me assistiu crescer ou se era porque ele era horroroso de tão feio.

— Sério, que nojo, Bia — Mateus continua, fazendo todo tipo de caras e bocas em desgosto, e se vira para mim logo depois — Me promete que você nunca vai namorar o meu irmão.

Ele estende o mindinho. Faço outra careta, tendo que me segurar para não vomitar, e faço o juramento com o dedinho.

— Eu juro pela minha vida. Se um dia eu sequer olhar pra ele por mais de cinco segundos vocês podem me atirar de um penhasco, porque não aquela pessoa não é mais eu — afirmo, o olhando nos olhos para que ele tenha certeza que estou falando a verdade. Me viro para Bia. — Sem brincadeira, que nojo, Bia. Vou ter pesadelos hoje por sua culpa.

Os Fantasmas de Boa-Morte ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora