— Acho que vou na locadora hoje — Mateus diz, assim que o sinal do intervalo toca. — Cês vão comigo?Bia balança a cabeça, começando a desembrulhar o salgado que ela tinha trazido de casa, e eu apenas sigo os dois a caminho do pátio da escola, amarrando uma blusa de frio do uniforme ao redor da cintura.
— Acho que posso, mas não sei se quero. — A garota dá uma mordida na esfirra, e Mateus franze o cenho para ela, esperando que ela termine de falar. — Tá cedo demais na semana pra ver você falhar miseravelmente em flertar com a Raquel.
Mateus fica vermelho, as bochechas como um pimentão, e eu quero rir da cara dele. Fico feliz que não sou a única que sabe do penhasco que ele tem pela vendedora da locadora. Pelo menos Bia teve a coragem de falar sobre isso com ele.
— Bia! — ele reclama, e a garota ri, enquanto todos nos sentamos num banco de cimento debaixo de uma arvorezinha no pátio.
— Tô falando sério, amigo. Tá na hora de você superar. Ela é muito mais velha que você, e você não é nenhum Anakin Skywalker em Ataque dos Clones pra uma mulher mais velha linda igual a Raquel te querer.
Mateus faz uma careta, decepcionado, e eu dou uma risadinha. Bia também era nerd igual Mateus, então não fico muita surpresa quando ela também solta a referência do nada.
— Vou ignorar o que você disse e pensar só na parte que a Raquel seria a minha Padmé. — ele disse, olhando pro céu de uma forma sonhadora exagerada.
— Deixe de ser idiota. — Bia dá um tapa no braço dele, o fazendo choramingar. — A pobre coitada da Raquel não merece um zé-mané igual tu.
Dou uma risada com a cena.
— Eu desistiria, se fosse você. Ela me disse que foi num encontro semana passada. — comento, observando as pessoas andarem ao redor de nós como se fossem personagens de um programa de TV enquanto tomo meu suco pelo canudinho.
Ambos Mateus e Bia se viram pra mim com uma velocidade surreal. É a primeira vez que falo qualquer coisa hoje, e acho que eles não esperavam que eu soltasse aquela bomba de primeira assim.
— Quem? Raquel? — Mateus pergunta só pra confirmar, e eu assenti. — Com quem?
Dou de ombros.
— Ela não me falou, e mesmo que eu soubesse, não te falaria. Não é da sua conta — digo. — Supera ela, cara. Já passou da hora.
Bia balança a cabeça, concordando.
— Tem tanta gente legal na escola pra você ter uma queda, pra quê gostar de uma menina que é quatro anos mais velha que você? — argumenta. — Imagina se fosse a Maria Madalena gostando do seu irmão.
Imediatamente paro de sugar o canudinho e faço ânsia de vômito. Mateus também faz uma careta ao mesmo tempo.
— ECA — falamos, juntos, olhando um para o outro com repulsa.
Só a sugestão de eu gostar de alguém tipo o Dudu faz calafrios subirem pelas minhas costas, e eu não sei se é porque ele é irmão do meu melhor amigo que me assistiu crescer ou se era porque ele era horroroso de tão feio.
— Sério, que nojo, Bia — Mateus continua, fazendo todo tipo de caras e bocas em desgosto, e se vira para mim logo depois — Me promete que você nunca vai namorar o meu irmão.
Ele estende o mindinho. Faço outra careta, tendo que me segurar para não vomitar, e faço o juramento com o dedinho.
— Eu juro pela minha vida. Se um dia eu sequer olhar pra ele por mais de cinco segundos vocês podem me atirar de um penhasco, porque não aquela pessoa não é mais eu — afirmo, o olhando nos olhos para que ele tenha certeza que estou falando a verdade. Me viro para Bia. — Sem brincadeira, que nojo, Bia. Vou ter pesadelos hoje por sua culpa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Fantasmas de Boa-Morte ⚢
Roman d'amour[HIATO] A pequena cidade de Boa-Morte sempre foi muito crédula em todos os sentidos: em Deus, em santos, em fantasmas, aparições, mal olhados e todo o resto. Todos os seus habitantes eram extremamente supersticiosos, e Maria Madalena e sua família n...