dezenove.

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Depois da sala, seguindo a linha do corredor da entrada, havia um outro corredor com três outras portas. Duas provavelmente eram quartos, e a terceira, bem no final do corredor, só podia ser o banheiro. E era. Quando Safira girou a maçaneta, consegui ver bem a banheira enorme no canto do banheiro de Naju. Sério, aquilo devia ser maior que meu quarto.

Antes que eu pudesse me apoiar na parede para esperar ela ir, Safira me puxou para dentro, e fechou a porta.

Engoli em seco, a observando, mas ela pareceu nem dar importância alguma pro que ela tinha feito. Ela se aproximou no espelho e se apoiou na pia para se ver melhor, franzindo o cenho.

— Minha maquiagem tá borrada e você nem me avisou. — Ela se virou para mim fazendo um bico.

— Eu não tinha percebido — gaguejei em resposta. Apoiada contra a porta, só tinha poucos centímetros de distância entre eu e a pia, e consequentemente, Safira.

Ela passou a mão debaixo do olho como se tivesse algo ali — acho que eu devo ser míope. Então, ela tirou um tubinho roxo do bolso, e começou a passar na boca, a dando um leve tom avermelhado. Quando terminou, ela fez um pop com os lábios, como eu via Bia fazendo para espalhar o gloss. Pelo espelho, ela me viu a observando, e sorriu para mim.

— Vem cá — a garota disse para meu reflexo, e então se virou de verdade para me colocar a sua frente. — Posso?

Ela fez uma menção com o tubinho roxo na mão e eu balancei a cabeça. Não era meu gosto, mas um pouco de batom não mataria ninguém, eu acho.

Safira então se aproximou um pouco mais e segurou meu queixo, e eu engoli em seco. O batom tinha cheiro de amora e era mais como um gloss do que qualquer coisa, e eu não fazia ideia do cheiro que poderia ser tão forte assim. Ou talvez aquilo fosse só a minha cabeça me pregando peças, com a proximidade da menina.

As palmas das minhas mãos estavam suadas quando ela se afastou para avaliar o seu trabalho, fazendo um bico.

— Faz assim — ela disse, fazendo o mesmo pop de antes com os lábios, e eu a imitei, tentando não rir.

— Que tal? — perguntei, posando com uma mão atrás da cabeça tal qual as modelos das revistas da casa de Bia fazem.

Safira deu uma risada.

— Ficou bonito. — Ela estava sorrindo, mas então franziu o cenho, e com a mão livre, removeu a peruca da minha cabeça. — Me promete que você nunca mais vai usar isso.

Foi a minha vez de rir, enquanto ela me entregava a cabeleira laranja.

— Não preciso nem prometer — respondi. Ela guardou o gloss no bolso, e com as duas mãos livres, passou as mãos no meu cabelo, que deviam estar para todo lado por causa da peruca. — Assim que eu chegar em casa ela vai direto pro cemitério de fantasias nas caixas da garagem. — Coloquei a peruca no bolso de trás da calça. — Sério, nunca mais confio no que a Ritinha fala. "Ficou legal, Mari!" mas a primeira coisa que escuto é que eu tô parecendo o Chuckie dos Rugrats.

Safira ri mais uma vez, passando uma mecha de cabelo para trás da minha orelha.

— Desculpa. Mas realmente ficou parecido. — Ela então se afastou e analisou o seu trabalho, séria. — Agora sim, mil vezes melhor.

Revirei os olhos, e me olhei no espelho. O batom ficava muito mais escuro na minha pele do que na de Safira, e era muito estranho me ver assim, de maquiagem. Eu parecia até outra pessoa.

Na verdade, era pior ainda. Eu parecia muito Maria Rita.

— Cara, eu tô igualzinha à minha irmã — murmurei, fazendo uma careta.

Os Fantasmas de Boa-Morte ⚢Onde histórias criam vida. Descubra agora