Pov Leonor
Após sair daquele lugar com os nervos à flor da pele sentindo todo meu corpo tremer em um mix de sensações tão inesperadas quanto incompreensíveis, eu dirigia em silêncio com Agnes ao meu lado, igualmente quieta. Minha amiga já havia notado que eu não estava bem desde que a puxei pela mão com o desejo queimando em meu coração de ir para qualquer lugar que me garantisse ficar longe da diaba de cabelos platinados e tudo o que a envolvesse.
Quando estacionei o carro diante do condomínio de Agnes, ela não me convidou para subir, ela simplesmente determinou que assim eu o fizesse. Agnes costuma ser meio doidinha de vez em sempre, mas sabe a hora de falar sério, e eu gosto disso nela porque sinto que ela é um ponto de equilíbrio quando estou um caos. Sinto que apesar de estar sozinha, eu nunca de fato sou sozinha porque a tenho para mim sempre que preciso de um ombro amigo. Aliás, é por esse tipo de demonstração que rotineiramente Agnes me presenteia desde que nos conhecemos, fazendo-me saber que nunca estou de fato sozinha, que aprendi um pouco mais sobre muitos valores aos quais tinha desacreditado após a dupla traição que sofri, e constatei que um poeta hindu estava certo quando a centenas de anos descobriu que a verdadeira amizade é fosforescente porque ela resplandece melhor quando tudo já escureceu. Foi assim entre Agnes e eu, ela surgiu como luz em minha vida quando tudo estava escuro. Ela me entendia como ninguém mais era capaz de entender, me ajudava mesmo com seu silêncio, me amava e me repreendia quando necessário, ela era um porto seguro.
Segui com minha amiga para seu apartamento me deixando ser levada por ela que segurava firme em minha mão, caso contrário eu sentia que minhas pernas eram incapazes de seguirem para qualquer rumo naquele momento. Assim que entramos enquanto ela retirava o próprio salto alto eu me joguei em seu sofá desejando esquecer aquela noite. Eu provava nos últimos dias, a cada segundo com mais intensidade, o sabor amargo da culpa que parcialmente me cabia. Eu me frustrava pela a força que me faltava, a resistência que eu não tinha... Sim, eu já sabia antes, mas agora depois dessa noite eu já admitia para mim mesma que estava completamente envolvida por Margort Lefort, embora eu não soubesse de fato a dimensão e força do sentimento que me unia a ela. Estar envolvida por uma mulher comprometido nunca esteve em meus planos, nunca pensei em ser a terceira pessoa, a pessoa que destruiria uma relação... Nunca pensei ser Laurence, nunca desejei ser como minha irmã, mas agora que eu me via naquela situação não sabia como agir.
– O que aconteceu que te deixou nesse estado deplorável?
Olhei para Agnes que esperava pacientemente por uma resposta que no fundo eu sabia que ela já imaginava qual era, afinal de contas, ela me conhecia melhor que qualquer outra pessoa.
– Nos beijamos! – Afirmei sem temer um julgamento. – Quer dizer, ela me beijou.
– E você não retribuiu nem por um momento? Então posso caracterizar como um assédio?
Eu sabia o que Agnes estava tentando fazer. Minha amiga tentava me fazer rever a forma como me coloquei ao pintar o quadro do episódio e assumir minhas responsabilidades. E foi o que fiz! Suspirei pesado e em seguida reformulei minhas palavras.
– É, nós nos beijamos. Embora tenha partido dela dar o primeiro passo para isso, eu retribui com o mesmo desejo faminto.
Fiquei em silêncio ao abaixar a cabeça fugindo do contato visual com Agnes. No fundo eu estava me sentindo envergonhada, desesperada... Eu não queria estar naquela posição, não queria vestir o papel de amante, mas a cada dia que passava eu percebi que não tinha muito o que fazer, eu já estava atraída pela mais velha.
– Você não vai me dizer nada? – Questionei Agnes quando seu silêncio me incomodou.
– O que espera que eu diga? O que eu tinha para te dizer sobre isso, já o fiz antes. Mas não podemos ignorar o destino, não é mesmo? As vezes não nos resta muitas opções além de esperar que ele faça o que tem que ser feito. A nós só nos resta viver e lidar com as consequências.
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Casos de amor em Paris
RomanceParis é o coração francês, popularmente conhecido como o centro dos grandes amantes, os românticos, os passionné, enamorados, apaixonados... É assim, em diversas línguas, porém dividindo o mesmo significado, que ao longo do tempo Paris ficou conheci...