XVI

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Meu despertar lento foi o suficiente para atrair a atenção de Sonic, que consequentemente estava sentado ao meu lado. O tanto de branco que inundou minha visão, juntamente dos sons tão conhecidos de máquinas de hospitais, deu-me a entender onde exatamente estava. Meu corpo pesava na maca desconfortável, um único e fino lençol cobrindo meu físico. As lembranças ainda estavam vívidas em minha mente.

- Shadow! Você está bem! - gritou Sonic, sua voz abafada em meus ouvidos. Logo fui abraçado por ele cuidadosamente, e com cuidado, ajudou-me a sentar no móvel em que estava.

- Como vim parar aqui? - questionei confuso quando voltei a mim, avaliando minuciosamente o soro conectado ao meu braço.

- Blaze e Amy trouxeram você. - Suas palavras mágicas vieram no momento exato em que ambas meninas adentraram o quarto, usando das mesmas roupas que me lembrava da última vez.

- Nós mesmas - afirmou a gata com um sorriso de canto discreto, escorando-se na parede branca. Tanto ela quanto Amy pareciam contentes por seus feitos recentes, mas uma pergunta não parava de pulsar em minha cabeça curiosa.

- E o Silver?

Por um longo tempo, as duas apenas se encararam em silêncio, Sonic mirando o chão tristemente. Já havia desistido de obter respostas quando a arroxeada resolve me dar o que queria saber.

- Depois que você desmaiou, trouxemos os dois aqui para o hospital. Agora ele está com cuidados redobrados na prisão. Por incrível que pareça, ele confessou todos os seus crimes e ainda nos deu a localização de uma prova contida em um cartão de memória, comprovando a tentativa de homicídio contra Sonic. O lado bom é que ele facilitou muito nosso trabalho.

Eram informações demais para processar ao mesmo tempo, era evidente. Rose percebeu o quanto estava confundido, desejando mais confissões sobre o assunto, e com um sinal, pediu para o azulado deixar a poltrona em que estava, ambos trocando suas posições. Quando se sentiu mais confortável, cruzou as pernas, um demorado suspiro deixando seus lábios antes de começar um conto mais detalhado sobre os incidentes.

- Você deve estar se perguntando como eu sabia sobre tudo isso. - Assentindo em concordância com suas palavras, prosseguiu: - A verdade é que estou há muito tempo com Blaze tentando resolver esse caso. Encontrar e acolher Sonic foi uma mera coincidência do destino, mas que nos ajudou muito nisso. Ela recebeu uma informação de um garoto em um orfanato sobre esse tal de Silver e o que ele tinha a ver com Sonic, e quando descobrimos que era o mesmo que morava em minha casa, passei a fazer parte da investigação por estar mais próxima dele do que os outros. Todo aquele tempo, a casa estava repleta de câmeras escondidas que captaram a quase morte do Sonic. - Amy lançou-lhe um olhar culpado, que foi retribuído por ele com choque. - Foi tão difícil ver aquilo e ter que fingir que estava tudo bem, que eu não estava morrendo de preocupação com sua saúde. A partir daquele dia, eu sabia que era a hora em que ele começaria a atacar, mas não podia interferir pois isso atrapalharia Blaze na hora de pegá-lo. Nós hackeamos o celular do Sonic, assim como fizemos com o de Silver. Os dois também têm um rastreador. Por isso soubemos que hoje ele iria terminar com tudo. Também não foi difícil, estando na posição dele, hackear os aparelhos de vocês para mandar aquelas mensagens. Com a ajuda do rastreamento, conseguimos chegar na hora, pelo menos. Não me perdoaria se alguma coisa acontecesse com vocês.

Mais uma vez, minha cabeça rodava de informações, as perguntas vindo de uma só vez.

- Pode perguntar - disse a garota, lendo minha mente. Sorrindo gentil, fez um sinal com a mão. - Vou responder tudo que quiser saber.

Tentando me reorganizar, respirei fundo três vezes, acalmando mentalmente meus nervos.

- Como assim "informação do orfanato"? - perguntei após um tempo de silencio, Amy respondendo de prontidão.

- Bem, o dono do orfanato chamou a Blaze certo dia, mostrou algumas filmagens antigas e tudo começou.

- Dono do orfanato? Você quer dizer... Robotnik?

Ela franziu o cenho, demonstrando confusão. Do outro lado do quarto, Blaze respondeu:

- Sim. Se não me engano, o nome dele era Shane Robotnik.

Uma das diversas perguntas em minha cabeça ficou mais clara, metade da frustração indo embora; Shane seguiu mesmo os passos de seu pai, ou seja, encontrá-lo não será um sacrifício.

- E como eram essas filmagens? - prossigo, Blaze ainda dando-me as respostas.

- Algumas em que Silver, mesmo pequeno, agredia ou dizia coisas suspeitas para Sonic, inclusive os últimos momentos que tiveram juntos no local.

Meu olhar demonstrava toda a decepção que sentia, Sonic atravessando o pequeno cômodo para sentar ao meu lado na maca, fazendo carinho em meus espinhos de forma fofa, encorajando-me a continuar, por mais que doesse. Eu tenho apoio.

- Mas por quê? Por que ele fez isso? O que motivou ele a ser assim? Esse não é o Silver que eu conheço...

- Você sabe que o que motivou ele a ser diferente com você era a afeição que sentia por ti... - murmurou Sonic a meu lado, angustiado. Blaze e Amy, por outro lado, deram de ombros, sendo uma das únicas respostas que ninguém havia realmente obtido.

- Não sabemos - proferiu a rosada, entristecida.

- O interrogamos e tudo - prosseguiu Blaze -, mas ele se nega a dar um motivo exato para as barbaridades que fez.

O ar no hospital estava diferente, todos submersos em seu próprio mundo de sentimentos dolorosos. Amigavelmente, Rose começa a falar baixinho com Sonic, mesmo que todos presentes pudessem ouvir.

- Eu acho que posso te contar, já que ainda somos amigos, apesar de tudo.

- Claro - soltou ele, virando-se na direção da ouriça envergonhada, que brincava com seus próprios dedos um pouco corada.

- Eu perdi o interesse por você porque descobri que gostava de outra pessoa. - Lançando um olhar e sorriso significativos para a gata roxa, concluiu: - Eu estou apaixonada pela minha melhor amiga.

Eu reconhecia o sentimento muito bem, e saber que ambas estavam felizes me deixou mais contente e forte para enfrentar dificuldades, principalmente quando Blaze completa com um risinho abobalhado:

- E o melhor é que eu sempre retribuí os sentimentos.

- Desde então - Os olhos da rosada se voltam a meu namorado -, somos um casal, mesmo que à distância na maior parte das vezes.

Sonic comemorou, afirmando que sempre percebeu o quanto as meninas pareciam ter uma conexão escondida, abraçando-as e parabenizando-as.

Mesmo feliz por aquilo, não conseguia me dar o luxo de comemorar, a curiosidade de saber o porquê de Silver ter agido daquela maneira atrapalhando tudo. Ainda assim, estava disposto a descobrir os motivos, não me importando com o tempo que isso fosse me custar.

Os Mil e Um Você (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora