Minha mente rodava com tantas informações e esclarecimentos, me culpando por tudo que havia feito nos últimos dias.
Silver achava que Sonic estava morto, que tinha concluído seu objetivo de eliminá-lo. Mas, então, eu fui lá e mostrei a ele que Sonic só não estava vivo, como também estava envolvido comigo.
Isso explicava muita coisa: o sumiço repentino de Silver na noite que o convidei para fazermos uma festa do pijama, sua reação quando "reapresentei" o azulado como meu namorado... Mas ainda tem uma pergunta rodopiando em minha cabeça incessantemente: por quê, Silver? Por que justo você?
Eu tinha que fazer algo, proteger Sonic dele ou alguma coisa assim. Mas o que eu poderia fazer quando meu (ex) melhor amigo é um policial? Ninguém desconfiaria dele! E a filmagem talvez não fosse prova o suficiente de que ele era um assassino.
Em pensar que tudo que vivemos juntos, que compartilhamos e falamos, poderia ter sido uma grande mentira, e que eu só estava sendo usado para chegar até Sonic.
Me sentia péssimo com isso, explodindo internamente com tantas dúvidas e culpa. Me negava a acreditar que ele seria mesmo alguém tão terrível, e ao mesmo tempo, me negava a acreditar que Sonic mentiria com uma coisa tão pesada quanto aquela.
Dentre meu melhor amigo e meu namorado, eu tinha que escolher um. E, eu sinto muito, Silver, mas eu escolho o Sonic.
Me sobressalto com a campainha, tentando me recuperar do choque antes de atendê-la. Retiro o cartão de memória do notebook, mas o som irritante ecoando pelos corredores me obriga a deixá-lo sobre a mesa, me dirigindo até a porta.
Quando a abro, por muito pouco não vomito, tomando um grande susto com ninguém mais, ninguém menos que Silver na porta, sorridente, como se nunca tivesse cravado uma faca em alguém.
Foco, Shadow!!!
- Olá, olá! - saudou, acertando-me um soquinho no braço de forma amigável antes de adentrar a sala de estar. - Ganhei uma promoção e um dia de folga! Agora, temos vinte e quatro horas juntinhos aqui para fazermos o que quiser!
A ideia aumentou minhas náuseas, minha mente me pregando peças pensando em diversas coisas que ele poderia ter plenejado para fazer comigo.
Eu não havia nem ao menos percebido a demora para responder, então Silver fechou seu sorriso, me avaliando com aqueles olhos policiais que agora me amedrontavam.
- Aconteceu alguma coisa com você, Shads?
- Me desculpa! - Abandono-o sozinho no cômodo, desabando dentro do banheiro e cuspindo para fora tudo que estava me incomodando. Não demoro mais que dois minutos lá, limpando a boca e saindo do local um pouco tonto.
Ao retornar para a sala, não encontro Silver, um barulho vindo do meu quarto acertando-me em cheio.
Subindo as escadas como um furacão, desespero-me ao ver o que mais temia: Silver com o cartão de memória em mãos, investigando-o minuciosamente.
- O que é isso? - Sua voz provocou arrepios por meu corpo, e seja lá o que ele soubesse, estava evidente naquela curta frase.
- Nada! - Pulei por cima do garoto, removendo o objeto de seus dedos. Ele não pareceu satisfeito, mas concordou.
- Beleza. Vamos voltar pra sala, então?
Desviando do assunto, concordei brevemente, o guiando de volta até o cômodo, abandonando o cartão onde antes estava: em cima da mesa.
Passar o dia com Silver sabendo o que ele fez parecia uma enorme tortura para comigo, mas se eu simplesmente expulsá-lo, levantaria suspeitas nele de que eu sabia de alguma coisa que não deveria saber.
Portanto, a única escolha plausível que tinha para fazer no momento era aguentar tudo aquilo como se não fosse nada, suportando um assassino dentro da minha casa o dia inteiro.
Era excitante, mas igualmente assustador.
Eu temia Silver, principalmente agora. Havia algo de diferente nele, e não era inteiramente culpa de minha visão acerca dele ter mudado; ele estava agindo estranhamente, mais avaliativo do que antes.
Fosse o que fosse, ele estava me testando, e eu compreendia isso pelo seu olhar selvagem que me fitava quando achava não o estar assistindo.
Ele tinha poder, isso é evidente; a escolha de sua profissão foi deveras crucial para livrá-lo de muitos casos, principalmente para alguém tão renomado na delegacia. Se não obtivéssemos provas o suficiente para demonstrar que Silver é, sim, tanto filho de assassinos quanto um próprio, Sonic e eu poderíamos acabar sendo mortos se não agirmos rapidamente, ou até mesmo acabarmos presos por mentir coisas sobre alguém tão importante.
Tipicamente, Silver falava e falava, sem imaginar que minha mente estava quilômetros de distância, sofrendo quanto ao certo a se fazer. Era agonizante crer que as coisas poderiam chegar a um patamar precário, e apelar por violência me faria perder muitos pontos naquela altura.
Claro que me sentia usado e excluído, sentindo dores que jamais imaginei sentir justamente de meu amigo mais confiável, que continuava tagarelando sozinho, atirado no sofá maior da sala de estar de minha residência.
Me permiti refletir exageradamente quando fui deixado sozinho, Silver tendo ido ao banheiro para fazer necessidades e ajeitar seus espinhos bagunçados pelo tempo que passou deitado sobre eles no móvel estofado.
Ele não tardou a volver, dizendo que precisava ir. A noite já estava iniciando do lado de fora, e assim que o prateado partiu rumo à sua própria casa, dei um pouco de luz à minha, acendendo lâmpadas e abajures.
Numa forma protetora, temendo pela minha segurança, fiz questão de trancar todas as portas e janelas, o peso nos ombros diminuindo por enfim estar afastado de quem me enganava secretamente.
Desgastado pelo dia ter sido completamente arruinado, entrei em meus aposentos e atirei-me contra o macio da cama, desenhando padrões no cobertor agora bagunçado abaixo de mim.
Quando enfim me sentei, cocei os olhos deliberadamente, apertando-os e tentando enxergar a mesa. Algo faltava ali, e temia estar sonhando ou vendo coisas.
Para ter certeza de que estava tudo bem, levantei-me e caminhei até lá, minha garganta se fechando quando compreendo o que exatamente me fazia falta ali em cima.
Silver pegou o cartão de memória.
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Os Mil e Um Você (Volume 1)
FanficEm um oportuno momento, Shadow encontra um ouriço desesperado, exalando mistério do início ao fim. Nada do que fazia ou dizia parecia se encaixar, e as coisas ficavam mais estranhas à medida que se conheciam de forma mais profunda. Shadow queria aju...