XXIX

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Biip, biip, biip.

Aquele som era incômodo ao extremo. Quanto mais aquilo apitava, mais meus olhos se forçavam a abrir.

Biip, biip, biip.

De certo modo, eu já estava acostumado a ouvi-lo. O típico som das máquinas trabalhando em um hospital. Ultimamente, meio que isso... é minha rotina, digamos assim. Quer dizer, eu vou parar toda hora no hospital, não?

Biip, biip, biip.

Ainda assim, isso é totalmente chato.

E o pior é acordar morrendo de dor em sei lá onde E escutando esse barulho.

Meus olhos ardiam como fogo quando os abri, a luz clara do ambiente branco dominando minha visão. Apesar de tudo, consegui me esforçar até mexer o pescoço de um lado para o outro, avaliando o cômodo em que estava. Era praticamente o mesmo que eu acordei alguns dias atrás - ou anos, sei lá -, mas é um hospital, e os quartos são todos iguais. Eu acho.

Não havia nenhum Sonic ou Silver no local como imaginei que haveria, apenas uma enfermeira que trocava o soro ou fazia alguma coisa com ele. Ela me viu acordar e mexer, mas não parecia emocionada por isso.

- Cadê o Silver? - A primeira coisa que consigo perguntar a ela é isso, com uma voz rouca, a garganta seca e dolorida.

- Quem é Silver? - Seu olhar vagou pelo quarto, pensativa por alguns instantes. Enfim, ela soltou: - Aquele garoto azul que tava aqui? Ah, ele foi fazer alguma coisa. Não, calma, Silver significa cinza...

- Significa prata, na verdade.

A enfermeira levantou uma sobrancelha acusativa em minha direção, até lembrar que eu era apenas um paciente.

- Oh, certo. Meu inglês é horrível.

Com certa dificuldade e um pouco da ajuda da moça de jaleco, me sentei na cama, notando partes de meu corpo com panos e curativos protegendo.

- Como eu sobrevivi? - questiono após um tempo, avaliando cada membro com cuidado. - Foi um tiro na cabeça, isso é... praticamente impossível. Eu devo ser imortal.

Uma interrogação surge na cabeça da enfermeira, me mirando como se estivesse louco. Talvez eu estivesse mesmo.

- Tiro? Não! O quê?! Você foi atropelado.

- Atropelado? Não, foi a Amy que... - E então caboom!! Tudo voltou à minha mente e me fez sentido. - Eu tô... Eu voltei!

Parece que a moça realmente não estava habituada a assistir pacientes que acabaram de acordar depois de serem atropelados por um carro comemorando, gritando e chorando por... ter voltado. Mas eu estava feliz!

Por pior que fosse, esse é o meu mundo. Tudo pode estar de ponta cabeça, mas esse é o meu lugar. O lugar que eu conheço desde sempre.

- Quanto tempo eu tava dormindo?! - pergunto rapidamente, embaralhando algumas palavras pelo caminho.

- Ahn... Uma semana, eu acho? - Ela pega uma planilha da frente da maca e a lê como um furacão. - Sim, uma semana. Isso é surpreendente pra alguém que ficou em coma. Acho que é a primeira vez que ouço falar em alguém acordando tão cedo de um estado desses.

- Por que é sempre coma? - sussurro para mim mesmo, a mulher escutando mesmo assim.

- Oh, coma é algo comum! - responde, apesar de não ter nada a ver com ela. - Só nesse hospital, mais da metade dos pacientes estão ou acabaram de acordar de um. E você é um deles! O mais forte, pelo que vejo.

Os Mil e Um Você (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora