II

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- Eu não sei como não te reconheci antes, Sonic.

O ouriço ao meu lado soltou um leve riso, ajeitando a sua postura de forma que a pouca luz da lua ao longe o deixasse com uma aparência estonteante, chamando-me a atenção que há tanto não sentia.

- As coisas aconteceram de forma rápida, está tudo bem não ter me reconhecido. Afinal, também já faz tanto tempo, não é?

Não podia discordar; a última vez que vi Sonic foi em meu último dia no orfanato, ao qual Silver e eu saímos, e outrem acabou por quedar-se, por ser um ano mais jovem que nós. Foi exatamente neste ínterim que nos perdemos, seguindo cada um o seu caminho e perdendo o contato completamente.

- E mesmo assim, quando vejo você de perto, meu coração ainda acelera como louco - declaro-me quase sem perceber, o olhando exasperado assim que as palavras escapam de minha boca. Ao contrário do que imaginei, sua expressão não mudou, aquele sorriso fofo ainda presente em seu belo rosto sereno.

Quando resolve volver os lumes até mim, a primeira coisa que diz assusta-me, deixando-me confuso por alguns segundos.

- Ding-dong.

- O quê? - questiono após um tempo de espera por uma explicação, que nunca veio.

- Ding-dong - repete, deixando-me mais uma vez sem compreender a causa exata da situação.

Levo um grande susto, pulando da cama e levando comigo os lençóis que me cobriam, juntamente do travesseiro e meu celular, que estava sob este.

Tiro alguns segundos para me recompor, acordando para a vida quando ouço a campainha à distância tocando.

Ding-dong.

Aquilo fora apenas um sonho deveras esclarecedor, revelador de desejos por tanto obscurecidos pelo tempo; era verdade, Sonic fora mesmo o terceiro ouriço de nosso trio no orfanato, assim como fora o único capaz de ter feito meu coração tão infantil da época agitar-se todo. Recordar-me dele trouxe de volta todas essas sensações, que insistiam em intensificar quando pensava mais nele.

O soar da campainha se repete, tirando-me dos meus devaneios e obrigando-me a ir até a porta da frente, já cansado de tanto ouvir aquele som que reverberava alto em meus tímpanos.

Mesmo com a aparência de quem acabou de levantar - o que não era totalmente mentira -, abri a porta coçando os olhos, um Silver sorridente aparecendo do lado de fora, aparentando estar deveras ansioso.

- Espera, você não dormiu aqui? - A lembrança da noite anterior estava vívida em minha mente, pois as loucuras que Silver é capaz de fazer estando bêbado são realmente inesquecíveis. O garoto se alcooliza muito facilmente, enquanto as três garrafas de whisky bebidas não fizeram nem ao menos cócegas em mim.

- Que demora pra abrir essa porta, hein? - Afobado, ignorou minha pergunta, passando por mim como se fosse invisível e adentrando minha residência. - Esqueci meu distintivo. Lembra onde eu coloquei?

Fechei a porta atrás de mim, desconfiado de tanta lerdeza vinda do acizentado. Mesmo parecendo estar sóbrio, ainda agia feito um completo bêbado.

- Er, Silver... é a sua semana de folga.

Uma luzinha se acendeu no topo de sua cabeça, a expressão surpresa tomando forma em seu olhar.

- Oh! É verdade! Então, o distintivo tá na minha casa! - Rindo feito um maluco esquecido, deu meia-volta, abrindo a porta que há pouco fechei e passando para o lado de fora. - Como sou desastrado! Obrigado, amigo. Desculpa incomodar seu sono de princesa.

Neguei com a cabeça, esperando sua silhueta sumir de vista para voltar para dentro de casa, me espreguiçando e forçando a mente a voltar a trabalhar com mais precisão.

Os Mil e Um Você (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora