Ao Amanhecer

17 - Caça à Bruxa

Pela primeira vez em muitos anos, Goku sentiu o chão abrir sobre os seus pés. Sentiu ser engolido pela terra. Sentiu a respiração falhar e o coração apertar no peito. Sua visão ficara um pouco turva, havia um zumbido no seu ouvido que o impediu de escutar o restante da conversa com tanta clareza, mas não lhe restavam dúvidas. Chichi passara a noite com o sujeito dos olhos coloridos.

O seu primeiro impulso foi fechar os punhos com força. Sua vontade era de segurar Granola pelo colarinho da camisa e esmurrar seu rosto de porcelana até que seus dentes brancos e perfeitos se quebrassem, até que seu olho ganhasse uma nova coloração, um roxo bem grande e seu nariz fosse enfeitado com um belo tom de vermelho sangue.

Mas ele não fez nada daquilo. Ao invés disso, deu a meia volta e saiu da clínica. Entrou no carro e respirou fundo buscando colocar a cabeça no lugar.

Depois sentiu raiva, muita raiva, principalmente de Chichi. Ele ficara todo preocupado com ela a madrugada toda enquanto ela estava dando para aquele sujeitinho.

Goku pressionou o maxilar com força e respirou fundo encostando a testa no volante do carro. Uma. Duas. Três vezes até que o zumbido em seu ouvido passasse por completo e seu olhar não estivesse mais tão nublado. A sensação de traição que o dominava naquele instante, era inevitável.

A última vez que havia se sentido daquela maneira fora quando vira seu pai ir embora da sua casa, para sempre. Havia sido uma sensação tão ruim que jurou para si mesmo que jamais iria sentir algo parecido com aquilo novamente.

E, no entanto, ali estava ele, com aquela sensação horrível outra vez.

Ele ergueu a cabeça quando escutou um barulho do lado de fora e viu Granola entrando no próprio carro estacionado a sua frente. Goku apenas o observou sair dali enquanto fantasiava com centenas de maneiras diferentes de assassinar o sujeito. Um misto de ciúme e possessão tomaram conta dele, porque aquele sujeito, aquele homem, estivera com Chichi, na noite em que ele deveria ter estado, do jeito que ele deveria ter estado. Era na casa dele que Chichi deveria ter esquecido aquele colar. De ninguém mais.

O porquê ele estava sentindo aquilo não era racional para Goku. Não fazia sentido. Chichi era livre para sair com quem bem entendesse. Não havia nada de exclusivo entre eles. Nunca houvera.

Então por que sentia como se ela estivesse escapando por entre seus dedos?

Goku balançou a cabeça e respirou fundo outra vez, jogando a cabeça para trás no banco do carro. Aquilo só podia ser o seu lado competitivo falando mais alto. Porque ele sentia que havia perdido aquela luta. Sentia que Granola estava um passo a sua frente.

E tudo por conta daquela porcaria de maldição.

*

Nervoso, Goku batucava os dedos sobre a mesa de madeira enquanto a perna esquerda balançava incessantemente. Ele olhou para o relógio no seu pulso outra vez e depois na direção da porta do estabelecimento.

– Você tem certeza que essa é uma boa ideia, Goku? – Perguntou Kuririn, que estava logo ao seu lado e parecia tão nervoso quanto.

– É claro que sim, Kuririn, não tem outro jeito.

– Mas cara, ela já te amaldiçoou uma vez, você não tem... sei lá, medo do que ela possa fazer? Talvez até lançar uma maldição pior como te transformar em um sapo?!

Goku parou de batucar a mesa e fitou Kuririn, mas em seguida chacoalhou a cabeça.

– Não! Eu... Eu preciso fazer isso, Kuririn, só ela pode me livrar dessa maldição!

Kuririn suspirou, incerto. Ele não tinha certeza sobre essa ideia do amigo, não tinha como confiar naquela mulher. Ela não parecia querer ajudar Goku desde que ele a encontrara nas redes sociais, por que ajudaria agora? Goku acreditava com o apoio de Helles, Ribrianne poderia ceder, mas ainda tinha receio em encontrar a bruxa sozinho, por isso deu um jeito de arrastar Kuririn junto. O baixinho, logicamente, não quis ir, mas acabou não vendo outra alternativa. Ele só esperava que aquilo não respingasse nele. Já pensou se fosse ele quem acabasse amaldiçoado?