Capítulo 19

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          O efeito da medicação estava me deixando cada vez mais sonolenta. Talvez não apenas a medicação e sim pelo cansaço de todo o ocorrido anteriormente, lembro-me de ter cochilado alguns minutos depois de ter uma breve conversa com o Tae-Moo. De fato eu estava drogada, minha visão estava turva novamente e isso me assustava, estar em um ambiente desconhecido novamente que não fosse minha casa era uma sensação aterrorizante, também podia sentir um enorme frio debaixo do cobertor, estas roupas de hospitais eram tão finas ao ponto de quase ser transparente. Senti um pequeno tremor nas pernas e braços mesmo estando com o cobertor na altura do pescoço, encolhi um pouco as pernas de forma inquieta e tentei virar do lado oposto do machucado ficando de costas para porta e de frente para Tae-Moo.

- Vou pedir para que tragam mais alguns cobertores para você, está bem? - Tae-Moo levantou da cadeira ao meu lado e acariciou o topo da minha cabeça, apenas assenti fechando os olhos novamente até que pude ouvir a porta abrindo antes mesmo que ele terminasse de fazer a volta pela cama.

- Senhor Tae-Moo? - Young-Seo havia chegado e eu estava impossibilitada de falar qualquer coisa e até mesmo expressar. Não me movi um centímetro para confirmar de que realmente era ela ali.

- Senhorita Young-Seo, acredito que veio ficar com a senhorita Alice. - Era incrível como ele conseguia ser educado mesmo sabendo de que ela era uma possível coautora do crime.

- Sim, apenas fui correndo para casa buscar algumas roupas para Alice. Mas o que o senhor faz aqui?

- Irei ficar com ela hoje a noite. Gostaria que me desse a autorização, afinal, me sinto responsável por vocês aqui em Seul. - Continuei de olhos fechados lutando contra meu próprio sono.

- Ah - Young-Seo pareceu confusa. - Não precisa se incomodar conosco, e acredito que ela não ficará tão à vontade sabendo que eu a deixei sozinha.

- Tenho certeza que não. Alice não seria tão ingênua para pensar dessa forma. 

- Verdade. Mas realmente não queremos incomodar. - Sua insistência estava me irritando.

- Não incomoda, como havia falado. Eu me importo com vocês e quero fazer isto para me redimir. - Ouvi alguns passos e algumas sacolas sendo pegas - Estas são as roupas? 

- Sim, são as roupas e coisas que talvez ela precise. - A voz da Young-Seo era de tristeza, talvez estivesse desapontada por não ter conseguido o que queria. - Mas Tae-Moo, a senhorita Seo - Uma pequena pausa antes dela concluir me incomodou. - Não ficará chateada?

- Senhorita Seo? - Ouvi um pequeno riso que se transformou em algo maléfico - Por favor, não sei qual mentira ela contou desta vez, mas nosso relacionamento não passa apenas de profissionalismo. 

- Entendo, me desculpe por interpretar errado.

- Não precisa de desculpar, afinal não devemos confiar em todo mundo, não é mesmo? - Aquilo parecia mais uma indireta para a senhorita Young-Seo do que para a Seo.

- Verdade. Então eu estarei aqui amanhã, tudo bem? 

- Não precisa se incomodar, se puder dar andamento no lugar da Alice em relação aos processos eu ficaria grato, informarei ao meu secretário senhor Cha que irá me substituir estes dias.

- Entendido. Me ligue se precisar de algo mais e principalmente quando ela acordar.

- Sem problemas.

- Até mais. - Ouvi o barulho dos saltos afastarem-se assim que a porta foi fechada e um longo suspiro do Tae-Moo.

- Aquela mulher é realmente não desgruda. - Ele resmungou enquanto colocava as sacolas sob a escrivaninha atrás de mim. Apenas ri baixo ainda de olhos fechados. - Você deve estar drogada agora.

- Um pouco. - Respirei fundo - Destruída. Parece até que um trator passou por cima do meu corpo.

- Eu imagino que sim, mas hoje é seu dia de sorte. - O cobertor ao meu lado foi levantado e a cama afundou ao meu lado aos poucos, Tae-Moo deitou-se ao meu lado passando um de seus braços por minha cintura e a outra por baixo do meu corpo com cuidado para que não machucasse meu braço.

- Não vai buscar os cobertores? - Perguntei abrindo os olhos e me aninhando ao seu corpo passando minhas pernas entre as suas buscando calor.

- Mudança de planos, serei seu cobertor hoje. - Deitei minha cabeça em seu braço e podia sentir minha temperatura subir aos poucos.

- Você realmente estava com frio. - Ele brincou.

- Achou que era mentira? - Fechei meus olhos me sentindo protegida.

- Talvez, nunca se sabe quando você quer meu corpo. É difícil de saber quando eu sempre sou o usado. - Dei uma pequena cotovelada em seu estômago e ele riu. - Eu fiquei preocupado, quando me ligaram, não consegui pensar em mais nada. - Ele suspirou. - Não estou te cobrando nada, eu realmente me importo com você e não porque transamos, mas porque essa coisa de imaginar alguém machucando você me deixa maluco.

- Eu estou bem. - Tentei acariciar sua mão que estava em minha cintura.

- Você quase morreu. Eu vou caçar esse cretino nem que seja no inferno e irei fazê-lo se arrepender por ter encostado em você.

- Não vamos gastar energia com ele agora, temos coisas mais importantes para priorizar.

- Verdade, sua segurança é uma delas. Senhor Cha providenciou um lugar seguro onde poderá ficar o tempo que quiser, nem mesmo Young-Seo poderá saber.

- Não precisa criar tanto alarde, a pessoa que fez isso não seria idiota em voltar novamente.

- Quem garante isso? - Ele se remexeu um pouco desconfortável. - Desta vez irão querer terminar o trabalho que não conseguiram antes.

- Eu discordo. Temo que exista uma próxima vítima. - Abri meus olhos quando um frio percorreu minha espinha só de pensar na possibilidade de que Tae-Moo poderia sofrer algum tipo de agressão por minha causa.

- Isto já foi tentado. - Uma onde de ansiedade me atingiu em cheio. - Mas falharam miseravelmente, só não sabia que viriam atrás de você.

- Do que você está falando? - Arqueei a sobrancelha e tentei sentar, mesmo com toda dor em meu corpo, mas fui surpreendida por seus braços que estavam a minha volta e me mantiveram no mesmo lugar.

- Não há motivo para aborrecimento agora. Descanse , não vamos gastar energia com isto agora. - Ele usou a mesma frase que eu havia utilizado no início da madrugada.

- Não vá embora assim que eu dormir. - Falei me rendendo ao sono.

- Não vou te deixar sozinha, principalmente hoje. - Senti seus lábios tocarem minha nuca fazendo meu corpo arrepiar-se por inteiro, me fazendo encolher-se um pouco sorrindo. - Descanse, está segura agora.

          Aquelas palavras eram mais do que eu gostaria de ter ouvido mais cedo, segura. Definitivamente era algo que eu não estaria depois daquela noite, estava destinada a investigar e por um fim de uma vez por todas em todas as artimanhas em que estavam tramando. Mas por hora apenas gostaria de aproveitar o momento e a sensação de estar sendo cuidada por alguém que realmente se importava comigo. 

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