Capítulo 17

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          Assim que cheguei no quarto de hotel, joguei minha bolsa em alguma parte da sala e esparramei meu corpo sobre o sofá fechando os olhos. Estava cansada, para falar a verdade estava exausta. Ao mesmo tempo em que eu pensava sobre o que havia acabado de acontecer naquela simples sala de escritório, me peguei buscando em minhas lembranças sobre qual momento deixei passar a ideia de que Young-Seo poderia me passar a perna desta forma.

          Bufei e balancei a cabeça levantando e indo em direção ao meu quarto buscando meu roupão e alguma roupa confortável, ouvi meu estômago roncar e só agora lembrei de que ainda não havia comido absolutamente nada. Abri meu aplicativo delivery e pedi a primeira comida que me apareceu, precisava organizar meus pensamentos e procurar uma solução para o suposto golpe. Eu deveria mesmo confiar no Tae-Moo? Nos conhecemos apenas poucos meses, então porque ele está fazendo tanta questão em me ajudar? Eu tinha perguntas nas quais precisavam de respostas que não fossem vagas ou genéricas. 

          Outra pergunta que me deixava curiosa era o fato da Seo tentar uma falsa aproximação com a Young-Seo, o que ela queria naquele momento? Aliados ou talvez numa tentativa falha de ganhar pontos através dos incidentes nos quais estão correndo eventualmente com o Tae-Moo? Eu seria sincera para Young-Seo e não deixaria passar a ideia de que estávamos em um relacionamento estável. Era apenas algo casual, afinal, isto não era de interesse de ninguém que não fosse apenas eu e Tae-Moo. Estamos falando de algo pessoal. 

         Adentrei na banheira em água morna assim que amarrei meus cabelos em um coque, e tentei relaxar meu corpo entre as espumas e alguns sais, a luz estava baixa como de costume, o que deixava o ambiente agradável. Suspirei algumas vezes quando fechei os olhos e cantarolei baixo alguma melodia criada de forma aleatória, até que ouvi um pequeno barulho vindo da sala. Sentei rapidamente desconfiada pelo susto e segurei na borda da banheira com força como apoio olhando para a porta do banheiro que estava entreaberta. Ergui meu corpo tentando fazer o mínimo de barulho possível e vesti meu roupão rapidamente olhando ao redor buscando algum objeto de defesa pegando um frasco de essência de vidro.

           Será que alguém havia adentrado no quarto errado? Eu estava tão confiante da segurança do hotel a alguns segundos atrás que aquilo me fez parecer uma idiota. Caminhei em direção a porta erguendo o frasco de essência na altura da minha cabeça afim de acertar quem quer que seja a pessoa. Continuei caminhando devagar e abri a porta lentamente andando na ponta dos pés olhando ao redor vendo que as luzes haviam sido apagadas, com exceção a da cozinha, encostei-me na parede indo em direção a cobertura na qual a porta de vidro estava aberta fazendo a brisa fria bater contra minha pele deixando-me arrepiada. Fechei a porta sem fazer o mínimo de barulho e busquei o telefone afim de ligar para a recepção do hotel e pedir para que a segurança validasse de que não havia nenhum intruso. 

          Assim que disquei os primeiros números esperei que alguém atendesse, olhei mais uma vez ao redor e podia sentir meu coração quase sair pela boca, minha pulsação havia acelerado, eu estava com o sentimento de estar sendo observada por alguém, de fato eu não estava sozinha. 

- Recepção do hotel, em que poderia ajudar? - a recepcionista atendeu no quinto bipe.

- Olá, sou Alice do 307. Poderia mandar a segurança para o quarto para uma vistoria? Acredito que alguém entrou sem minha autorização.

- Sim senhora, você está sozinha? - Assim que a mesma perguntou, ouvi um outro barulho vindo do quarto.

- Estou, mande o mais rápido! - Falei nervosa.

- Estarei enviando agora mesmo. Fique em algum lugar seguro.

- Seja rápida! - Sussurrei transparecendo medo.

          Olhei a minha volta mais uma vez, e desliguei o telefone enquanto pensava em andar em direção a cozinha em busca de uma faca. Era a única forma de defesa em que eu tinha ao invés de um simples frasco de vidro. Podia-se ouvir alguns passos se aproximarem, deixando minha respiração ainda mais ofegante.

- Eu chamei a segurança. Vá embora enquanto pode! - Falei alto sem desviar meu olhar do quarto ao meu lado. 

          Não sei se era coisa da minha cabeça, mas eu podia jurar ter ouvido um barulho de uma arma sendo recarregada. Arregalei meus olhos e um frio percorreu por minha espinha. Eu nunca imaginaria morrer dessa forma, e pior, sem algum motivo em específico. Talvez eu até então não sabia o motivo, e também não viveria para saber. 

- Você deve ter se enganado. - Percebi que minha voz estava trêmula - Deve ter confundido a pessoa. Sou Alice, trabalho atualmente na Golden. Não sou Coreana e não tenho participação política. 

           Na ponta dos pés, dei um passo para o lado sem desviar meu olhar do quarto no qual o suposto invasor estava, e por extinto corri em direção a porta, o que fez com que a pessoa atrás de mim apressasse seus passos e me puxasse pelos cabelos, fazendo o vidro da essência cair no chão e meu corpo sobre os cacos cortando minha mão e meu braço, causando um dor insuportável assim que atingiu minha pele. - Ah! - Gritei e logo recebi um soco em uma das maçãs de meu rosto junto a um chute no estômago me fazendo encolher-se. Senti meus cabelos sendo puxados novamente e uma figura masculina de boné preto e uma balaclava, no qual não revelava seu rosto me encarou nos olhos. Seus olhos que eram negros e vazios. O encarei enquanto sentia as lágrimas escorrerem por meu rosto. - Quem é você? - Perguntei segurando um de seus braços em apoio, sentindo os cacos de vidro furarem minhas mãos a medida em que eu apertava contra sua pele.

- Você sabe demais. Esse é o último aviso. - Ele falou de joelhos ao meu lado enquanto ainda erguia apenas minha cabeça agarrando meus cabelos próximo a nuca.

- Eu não sei do que está falando! Você está enganado. - Eu podia sentir o desespero em minha própria voz.

          Ele encostou a arma em minha cabeça e fechei os olhos com força esperando pelo pior. Mordi o lábio com tanta força que podia sentir sangrar. Do que ele estava falando? O que eu sabia no qual não deveria saber? Minhas últimas memórias vieram a mente, meus pais no Brazil junto a minha cachorrinha Lois que sempre me esperava em casa junto a eles quando eu ia os visitar. Minha infância passou diante dos meus olhos com todos os acontecimentos em meros segundos, então era assim que acabava? Sem alguma explicação? Talvez um acidente de carro fosse mais digno e com sentido, do que uma morte sem motivo. 

          Uma forte dor me atingiu a cabeça fazendo tudo escurecer de uma vez deixando apenas um vazio.


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