Capítulo 22

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          Havia acabado de colocar a água em uma pequena chaleira antes de aquecer ao fogão, enquanto encostava meu corpo ao balcão da cozinha encarando o chão e buscando algumas palavras exatas nas quais eu não precisaria envolver Alice completamente. Balancei a minha cabeça e suspirei fundo voltando minha atenção a água que ainda não havia começado a ferver, até sentir pequenas mãos envolverem meu corpo por trás. Encarei a pele agora enfaixada com gaze a toquei levemente percebendo que aquele abraço era mais um conforto do que um simples obrigado. Ficamos desse jeito em silêncio por alguns segundos até que a segurei pelos antebraços virando-a de frente para que eu pudesse encará-la. Sua expressão era cansada, ao mesmo tempo amargurada, eu queria fazer o possível para que Alice não passasse por algo parecido novamente. Pela primeira vez eu tinha medo.

- Me perdoe. - Falei tocando seu rosto encarando aqueles olhos que algumas semanas antes me olhavam com felicidade, e agora não passava de um olhar tristonho e preocupado. - Isso tudo é culpa minha, eu deveria tê-la protegido.

- Obrigada. - Aquilo havia me surpreendido. Obrigada? Arqueei a sobrancelha confuso. - Por estar aqui comigo, fiquei preocupada que alguém pudesse fazer algo com você. Não consegui pensar em absolutamente nada quando percebi que havia alguém dentro do quarto.

- Não está numa posição favorável de se importar com alguém agora, não acha? - Segurei suas mãos justificando e logo Alice as recolheu cruzando os braços se afastando um pouco.

- Eu sou mais forte do que pareço ser. Estou aqui, não estou? - Ela deu um meio sorriso e caminhou em direção ao sofá que ficava a frente do balcão sem muita pressa. Aproveitei para desligar a água que havia fervido e servir nossos chás em pequenas xícaras que haviam próximas.

- Aqui. - Entreguei uma das xícaras e sentei ao seu lado ficando de frente para a mesma, até que um pequeno longo silêncio havia se instalado. Era um pouco perturbador e ao mesmo tempo não sabíamos o que realmente deveríamos dizer.

- Quero que me conte. - Ela começou a falar se enrolando em uma pequena manta que estava sob o sofá ficando de frente para mim enquanto sentava de lado.

- É uma longa história. - Suspirei encostando minha cabeça no sofá e encarando o teto.

- Mas quero saber, você me deve isto. Quem são eles? - Alice perguntou sem me encarar, não era uma resposta tão simples de se dar. Me pedir em meus pensamentos alguns segundos e sem arrodeios falei de uma vez. - Não posso viver nessa bolha que você mesmo me colocou. Preciso de respostas que só você tem.

- Família Seo e Young-Seo. - Ela encarou-me arregalando os olhos de forma confusa, aproveitei para desenrolar toda a história para que tudo não ficasse ainda mais complicado. - Meu pai confiava bastante na lealdade do senhor Seo, pai da Seo Hye-won.

- Mas o que ele quer? E porque me atacar?

- Seo Hye-won deve ter dado algumas dicas sobre qual melhor alvo que pudesse me atingir em cheio. Visto que nosso noivado foi cancelado, e eu tenho me afastado o máximo que posso dela. - Minha voz ao pronunciar o nome daquela mulher era de desprezo. - O Sr. Seo sempre teve interesse nas minhas ações desde que meu pai faleceu. Ele é um fracasso em pessoa e acredita que sou novo demais para liderar tudo sozinho, por isto sempre que tem uma oportunidade tenta puxar meu tapete a todo custo. Se algo acontecer comigo, automaticamente as ações vão para suas mãos.

- Desgraçado! Como ele pode achar tal coisa se não tem competência para dar conta ao menos da metade do que você faz? - Percebi que Alice apertava a xícara com força de raiva. - e a Seo Hye-won... - Ela apertou os olhos com força e mordendo seu lábio, coloquei uma de minhas mãos sob a sua tentando tranquilizá-la.

- Ele sempre foi ambicioso, só não sabia que chegaria a tal ponto. Quer minha cabeça para que possa assumir todas as ações. Me recusei desde o começo a assinar a proposta de repasse enviada, o fato de ser um homem mais velho não condiz com seu caráter e capacidade de assumir algo tão importante.

- Mas como a Young-Seo entrou nessa história? 

- Também me pergunto, mas acredito que o primeiro passo dado com toda certeza foi do senhor Seo. A Seo Hye-won deveria ter lhe passado alguma informação sobre a possível parceria. Ele deve tê-la chantageado com uma boa quantia para que tomasse partido de escolha dos negócios. - Aquilo me parecia bastante informação para Alice, já que a mesma havia fechado os olhos e suspirado. - Ao mesmo tempo acredito que exista uma razão maior, o senhor Cha está cuidando disto.

- Então seria muito mais fácil ter uma rentabilidade maior e lucratividade comigo fora do jogo, transações e lavagens de dinheiro não teriam uma certa fiscalização ou uma possível pedra que os impedissem de fazer isto. - Ela falou para si mesma.

- Exatamente, nós dois somos uma pedra no sapato dessa ambição.

- É difícil acreditar. Como conseguiu tanta informação? - Ela me encarou desconfiada.

- Senhor Cha fez o seu dever de casa.

-Então por isto os encontros e ausência na empresa. - Alice realmente era observadora.

- Exatamente.

- Porque não me contou antes? Talvez poderíamos ter evitado tudo isso.

- Não tinha ideia de que ele iria tão longe, claro que se eu soubesse que ele faria isso... - Encarei seus machucados - Eu jamais teria deixado você sozinha naquele quarto de hotel.

- Eu só peço que não se culpe, apenas que me prometa algo. - Alice me encarou segurando uma de minhas mãos.

- O que quiser.

- Não teremos mais segredos, ok? - Ela apertou de leve minha mão.

- Eu prometo. - Confirmei e aproximei-me para lhe dar um beijo em sua testa. - Sem segredos.

- Fico aliviada, não me sinto confortável sabendo que está aguentando tudo sozinho para que não me envolva. Você fez isto e o resultado não foi tão bom. - Ela baixou a cabeça.

- Estamos seguros aqui, preciso apenas pensar no próximo passo antes que aconteça o pior. A partir de hoje você não vai sair do meu lado mesmo que queria.

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