Capítulo 49 - Um fato perturbador

204 23 5
                                    

CAPÍTULO 49 - UM FATO PERTURBADOR




Já fiquei nervosa com muita coisa, falando sério. Eu vivo nervosa e ansiosa, mas dessa vez estou nervosa de verdade. Observo a mesa posta e então respiro fundo. Respiro fundo umas cinco vezes.

Preparei o jantar e sigo esperando que o Sasuke chegue. Não tenho noção do seu horário, e isso me deixa mais apreensiva. Ele saiu um pouco antes do almoço, satisfeito e meio desconfiado que eu tinha aceitado ficar em casa. Parece que tinha que passar na empresa e depois tinha uma audiência para comparecer na parte da tarde, mas que voltaria para casa logo depois.

Não sei que audiência longa é essa, pois já passa das sete horas.

A Hinata ficou até as cinco, alegando que voltaria no dia seguinte - dessa vez, com o café da manhã nas mãos - e eu aproveitei para começar a cozinhar.

Apaixonado por mim.

Ata.

Sasuke Uchiha, o professor demônio, incrivelmente gostoso e atraente, apaixonado por mim? Impossível. Sasuke deve sair com modelos, mulheres bem sucedidas ou sei lá, algo desse nível. E não com estagiárias que não tem nem mesmo uma casa para morar. Definitivamente não.

A Hinata, como uma boa amiga, não quis fornecer mais explicações para a sua afirmação insana, alegando que não podia me forçar a aceitar um fato.

Um fato.

Isso definitivamente não é um fato, porque nem sequer faz sentido. Sasuke não pode ter sentimentos assim por mim, pode?

Suspiro, segurando minha lata de Coca-Cola. Queria vinho. Preciso de vinho. Mas não, não posso beber por causa dos remédios. Como ela me solta uma bomba dessas, justamente quando não posso encher a cara?

Criatura cruel.

Mais um fato que ela tem um comum com o Uchiha.

Está vendo? Isso sim é um fato.

Sasuke apaixonado por mim? Ah, não. Totalmente improvável. O cara fica arrumando desculpinhas para não tirar minha virgindade! Como pode gostar de mim de um modo romântico quando nem sequer consegue me comer?

Suspiro, terminando minha bebida.

Preciso de vinho.

Quantas horas deve-se esperar depois de um remédio para começar a beber? E o que acontece se não esperar o tempo certo? Não acho que seja aconselhável tomar álcool quando se está tomando medicamentos. Se eu soubesse que iria precisar tanto de vinho, não teria tomado remédio nenhum.

Bocejo, me levantando.

Jogo a lata no lixo e considero pegar mais uma. Ainda está cedo, e eu estou cansada, e com fome, e ele não chega. E se tiver acontecido alguma coisa?

Pressiono os lábios, procurando o meu celular.

Provavelmente não aconteceu nada, ele apenas deve ter se ocupado com alguma coisa, mas é melhor conferir. Não consegui puxar meu antigo número, então fui obrigada a usar um chip novo. Não tenho quase nenhum contato salvo, mas o do Sasuke está lá. Assim que o "diabo que me inferniza" aparece na tela, coloco no ouvido, ouvindo chamar. Sei que devia estar feliz por ele estar com bateria, mas não consigo deixar de reclamar mentalmente que se ele estava com bateria, poderia ter me mandado uma mensagem.

Só acho.

- Já está com saudades, Haruno? - ele pergunta ao atender o telefone, e o meu coração dispara de um modo bem irritante.

Escuto barulhos no fundo, mas não consigo identificar nada em especial.

Obviamente não estou com saudades, só preocupada que a comida vai esfriar se ele não chegar logo. E eu pretendo cumprir com a minha parte do nosso acordo: todo dia vou fazer alguma coisa para comermos. Mas para isso, ele precisa estar em casa.

Não acho que ele pensou nessa parte.

- Só achei estranho você não ter chegado ainda - respondo, dando os ombros.

Sei que ele não pode ver, mas queria que pudesse.

Porque ele está errado, pois eu não estou com saudades.

- Preocupada comigo?

Reviro os olhos.

Eu não chamaria de preocupação, exatamente. Uma voz feminina fala no fundo, e eu fecho a cara. To aqui esperando ele para jantar, e ele está com uma outra mulher.

Ok.

Tudo bem, isso só prova que a Hinata está completamente errada. Se ele realmente estivesse apaixonado por mim, tenho certeza que não estaria com outra agora mesmo.

- Estava te esperando para comer, mas como você está ocupado, vou ir jantar.

Sozinha. Jantar sozinha.

A mulher fala de novo.

Ah, não, aí é palhaçada. Ele não pode ir falar com ela, sei lá, no inferno talvez? Falta de respeito.

- Passei no mercado comprar algumas coisas, então acho melhor não comer sem mim. A menos que não queira uma caixa de chocolate.

Ele disse chocolate?

Ok, eu exagerei. TPM, certeza. Sasuke só foi no mercado, provavelmente porque não estava contando com a minha presença na sua casa. Se bem que aqui tem comida para um batalhão comer, se quer minha opinião.

Eu comi tanta besteiras hoje que não tenho certeza se vou conseguir jantar. Mentira, vou sim porque já estou com fome.

- Não esqueça a coca-cola - resmungo.

Não posso ver, mas tenho a impressão de que ele está revirando o olhos do outro lado da linha.

- Chego em dez minutos.

- Se demorar onze eu vou comer todas as batatas.

Ele ri.

- Dragão.

Espreito os olhos.

Essa é a segunda vez que ele me chama de dragão. Ofensivo, porque tenho certeza que um dragão come bem menos do que eu.

- Fala na cara, palhaço.

- Você me chamou de palhaço?

- Ficou surdo é? - sem esperar resposta, continuo - Agora você tem dez minutos.

Rindo, encerro a chamada.

Coloco o celular na mesa e vou buscar outro refrigerante. Quando me sento no sofá e ligo a televisão, percebo que apesar dos machucados, da cólica e da falta de álcool no meu organismo, eu estou bem.

Mais do que bem.

É tipo uma sensação de paz, que eu não sei exatamente como explicar. Só é bom estar sentada no sofá, tomando um refrigerante, assistindo um desenho e esperando o Sasuke para jantar.

Estou quase na metade do episódio sete da primeira temporada de Rick and Morty quando a porta se abre, e eu quase pulo do sofá, olhando para trás. Sasuke está com a mesma roupa de mais cedo, segurando a pasta em uma mão e as sacolas de marcado na outra.

Os olhos negros param em mim, e eu sinto meu coração disparar

Sasuke sorri para mim.

Não é um daqueles seus sorrisos maliciosos que faz meu estômago se embrulhar, nem aquele sorriso sarcástico que me deixa irritada. Ele só sorri, como se estivesse feliz em me ver.

E eu me pego sorrindo de volta.

Realmente não sei se ele está apaixonado por mim, mas sei que talvez eu possa estar me apaixonando por ele.

E esse é um fato incrivelmente perturbador.

FingindoOnde histórias criam vida. Descubra agora