O Primeiro Dia de Aula.

156 10 18
                                    








Estar de volta à Hawkins era fodidamente ruim. Não me leve a mal; como qualquer outra garota da minha época, morar naquele lugar e ter tão pouca expectativa de vida e sucesso era o que menos desejava.

No fim, você tinha apenas duas opções: continuar  naquele lugar ou se mudar para bem longe durante a faculdade. E eu fiz exatamente isso.

Eu vivi durante doze anos na Califórnia, mas o maldito telefonema de meus pais e a minha falta de sorte em conseguir um bom emprego para pagar as minhas contas básicas fez com que eu aceitasse a vaga.

Professora de artes do ensino fundamental de Hawkins Middle School. E por mais que eu amasse aquele lugar na minha infância e adolescência, estar de volta ali me trazia uma maldita sensação de fracasso.

— Senhora Cunningham? — a voz de Brad soou e eu só desejei enfiar minha cabeça contra a parede do lugar. — Olá! Bem, me siga... Espero que tenha preparado todo o cronograma de aulas...

— Senhorita — eu o corrigi, ainda que soasse irrelevante agora. E soava. Brad sorriu para mim, ele era mais alto que eu, tinha um cabelo louro cor de areia e olhos azuis. Ele não era musculoso, mas estava tentando não se matar na vida de coordenador em uma escola pública. Agora eu entendia. Ele estava na faixa dos trinta anos e eu pedia a Deus para não chegar em sua idade tão deprimida quanto ele, embora fosse ridículo da minha parte, já que eu já estava. Seu sorriso não era grande coisa, eu podia ver uma fileira de dentes que mostravam o uso de cigarro e café em excesso. E eu fiz uma nota mental para parar de fumar e beber café. — Sim, eu fiz um cronograma, mas...

— A coordenação precisa aprovar — ele disse, como se não fosse nada demais. Para eles nunca era. Eu devia dizer o quão o país era lindo e em como eu não podia mostrar nada muito adulto para eles. Alienação... E eu agradeci por não estar lecionando biologia. Eu lembrava do quão insatisfatório era para o senhor Deves ensinar um bando de crianças sobre órgãos de reprodução.

—Sim — eu disse, puxando de dentro da minha pasta a minha lista de cronograma educacional para o ano letivo. Eu sabia que teria problemas, no entanto.

Nós caminhamos pelos corredores do colégio, encontrando paredes enfeitadas com pinturas à dedo de crianças e fotografias de turmas passadas. E eu quase desejei poder parar e observar aquilo. Era lindo como crianças poderiam demonstrar tanto talento para as artes.

Brad continuou seus passos para a sala da coordenação, o que me deixou nervosa. Eu estaria lecionando junto à professores meus, tantos anos de trabalho duro.

— Olhe só quem está aqui! — a voz da senhora McKenzie soou. E eu só pude sorrir. Eu sabia que os comentários sobre como meu potencial desperdiçado viria. Mas ela me abraçou, carregando uma caneca de chá e um cigarro nos dedos. Ela tinha cheiro de lavanda em um vestido longo, até os pés. Seus cabelos que antes eram negros agora traziam um cinza. Ela havia envelhecido bastante nesses últimos doze anos.

— Senhora McKenzie! É maravilhoso vê-la! — cumprimentei, retribuindo seu abraço.

— Me chame de Iolanda agora, querida! — ela disse, se afastando para dar uma boa checada em meus jeans claros e minha bata florida. Ela pareceu gostar do que viu e eu fiquei feliz por isso. — Você está linda!

— Obrigada — eu disse, sentindo minhas bochechas arderem.

— Sabe, Conrad... — ela se virou para um rapaz um pouco acima da minha faixa etária, ele era moreno, de uma pele amendoada, assim como seus olhos. Conrad sorriu educado, aguardando a continuação de Iolanda. — Chrissy foi nossa líder de torcida no ano de 86, agora se junta à nós! Não é maravilhoso? Estou recebendo meus alunos de volta, agora como meus colegas de trabalho. Eu fico realmente encantada!

Um Amor Para ChrissyOnde histórias criam vida. Descubra agora