Uma semana havia se passado desde meu encontro com Eddie no Hideout e eu havia fugido daquele lugar como o inferno. Na realidade, eu tinha aceitado minha condição de solteirona e me trancafiado em casa, enquanto assistia E O Vento Levou de novo e de novo.E eu não me sentia mal por estar de pijamas comendo MacCheese com muito molho e pouca perspectiva de vida. O que poderia ser pior do que isso? Definitivamente encontrar com algum idiota dizendo sobre como eu não era ninguém sem Jason.
Com um suspiro frustrado, eu me levantei, acendendo um cigarro e o tragando com vontade. A rua estava movimentada, afinal era sexta feira e todos ali curtiam seus finais de semana. E eu senti falta daquilo.
Então, me vestir e sair para tomar um sorvete e observar as pessoas não parecia ruim. Não quando eu estava trancada em casa desde que cheguei da escola. Suspirei.
A cada dia que passava eu amava mais meus alunos. Sim! Eu podia dizer qualquer coisa sobre os pais deles, mas nunca sobre eles.
Eu tinha todo tipo de criança em sala de aula: as malvadas e valentonas, as doces que sofriam com os valentões, as tímidas, os implicantes com os assuntos dados em sala de aula, os terrivelmente amorosos... tudo. E cada dia que passava eu amava mais aquela dinâmica.
Além do mais, eu tinha começado a ganhar presentes deles. Não era algo que se gastava dinheiro com. Eram maçãs, canetinhas coloridas, pequenos bilhetinhos de carinho e de amor.
Sim! Um dos meus alunos havia me mandado uma cartinha de amor, elogiando o quão bonito era meu cabelo e meu sorriso, até a forma como eu cruzava os braços quando estava irritada. James era seu nome, mas chamávamos ele de Jimmy.
A parte complicada disso era não alimentar sentimentos em uma criança de sete anos, na qual eu não sabia muito sobre os pais. Jimmy citava o pai vez ou outra, mas apenas como se divertiam nas quintas jogando vídeo game no centro, ou como o pai cozinhava maravilhosamente bem o maccheese. O que me trazia a dúvida sobre sua mãe, mas nunca tinha tido coragem de questionar sobre.
Eu saí de casa, esperançosa em fazer algo bom aquela noite. Eu não pretendia ir em um bar e dar de cara com Eddie Munson e suas frases passivo agressivas. Mas de repente estar presente com pessoas que estiveram no meu passado e eu não tinha compartilhado tanto não parecia tão ruim. E eu sabia que ser pioneira da solidão em Hawkins era uma merda. Eu quase podia escutar Iolanda reclamando sobre como eu precisava sair com gente da minha idade.
Então, eu até um restaurante de comida chinesa não muito distante de casa, me sentando e me servindo algum tempo depois de Dan Dan Mian e Baozi. E eu não podia mentir: a culinária em Hawkins havia melhorado drasticamente.
E enquanto comia, eu então os vi. Não muito afastado de onde eu estava meus colegas de trabalho.
Brad e Conrad conversavam próximos, enquanto observavam tudo ao redor. E eles pareciam um casal... suas mãos estavam entrelaçadas e seus olhos firmes, como quem não buscasse aceitar críticas sobre aquilo. E eu sabia que se eu estivesse certa, eles sofriam absurdos com o pessoal daquela cidade.
Um grupo de rapazes se aproximou deles, comentando alguma gracinha estúpida em direção a eles e eu vi Brad respirar fundo, à um tris de transbordar. Então, eu fiz o que eu julguei o correto naquele momento: eu me levantei e caminhei até eles, me sentando de forma evasiva.
Os olhos de Conrad me estudaram alguns instantes, tentando entender o que estava acontecendo ali. Eu sorri para eles.
—É ridículo como Hawkins tem um restaurante bom de comida chinesa — comentei, como se estivéssemos juntos a todo instante. Conrad me fitou sem entender.
Mais uma vez um dos rapazes que diziam gracinhas em direção a eles passou, pronto para dizer qualquer coisa até que me viu. E eu o reconhecia... Era um idiota que sofria bullying na época da escola, eu lembrava como Jason era maldoso com ele e o trancava nos armários após os jogos. E eu sempre havia odiado aquilo, mas assistir como ele havia se tornado igualzinho aos meninos do time que faziam isso era triste. Eu lembrava seu nome como Andy.
— Perdeu algo aqui, Andy? — indaguei, sustentando seu olhar sobre os dois homens ali.
Andy abriu a boca para dizer alguma coisa ruim para mim, mas não disse. Ele apenas fechou a boca em seguida e voltou a caminhar com seus amigos.
— Você conhece esse idiota? — Brad indagou, irritado. Eu sorri, voltando a suavizar minha expressão ao olhar para meus colegas de trabalho.
—Na realidade, eu conheço a maioria das pessoas que vivem aqui atualmente. Parte delas foram meus colegas de escola nos anos oitenta. —dei de ombros, fazendo um sinal para o garçom trazer algo para eu beber. — Eu sinto muito por esses idiotas, rapazes. Parece que cresceram e os cérebros foram diminuindo.
Conrad recuperou sua voz, seus olhos me estudavam ainda. Mas agora ele parecia mais confortável. Eu não era uma acusadora, ele podia notar.
— Obrigado, Chrissy —ele disse, sua voz dura de certo modo. Eu suspirei, me levantando, até que ele continuou. —Não é porque você ajudou duas bichas numa situação chata que faz de nós amigos. Assim como espero que ninguém do trabalho fique sabendo deste episódio. Você ainda é Chrissy Cunningham, você poderia estar com a metade do rosto derretido que as pessoas ainda diriam que você é incrível. Mas veja bem... você andava com o topo da cadeia alimentar. E eu não posso esquecer disso.
Eu engoli em seco, me sentindo completamente idiota por ter me permitido escutar aquele desabafo. Eu me sentei novamente, cansada.
— Não... Não somos amigos. Mas vocês dois entendem que são vocês dois quem educam os filhos de pessoas dessa cidade? Desde que cheguei tudo o que eu escuto é sobre como ninguém esperava nada de mim sem o Jason Carver. E veja só: eu sou tudo o que não esperavam... eu sou uma solteirona na casa dos trinta, sem filhos, trabalhando em uma escola pública. Tentando defender de alguma forma os colegas idiotas de trabalho de serem mortos por machões que eram justamente acusados de serem "bichas" na escola.
Brad segurou a mão de Conrad, sentindo que algo ruim sairia da boca de seu parceiro. E eu esperei.
— Você sabe há quanto tempo estamos juntos nessa merda de cidade? — este foi Brad. Eu o fitei, sentindo raiva subindo em mim. — Nós retornamos para Hawkins porque pensamos que as coisas seriam diferentes. Estamos no final de um século e as pessoas permanecem primitivas, acreditando que têm controle sobre nossos corpos. Eu agradeço o que fez, Chrissy. Se manchar por nós dois. Mas não significa que ganhará seu posto de boa moça por isso.
— Eu não estou... — o interrompi.
— Todos nós estamos, querida. A vida é feita de formas desesperadas de sermos aceitos. Seja na escola ou depois dela. E eu não te julgo. Deve ser insuportável deitar a cabeça no travesseiro e dormir com tantas expectativas criadas em cima de você e então falhar miseravelmente. E eu sinto muito.
Eu senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Uma lágrima ruim, na qual fazia com que toda a minha postura fosse desfeita. Eu não queria chorar na frente de pessoas como Conrad e Brad. Pessoas que tentavam magoar outras para não se sentirem tão feridos.
No fim, tinha sido uma estupidez acreditar que eu poderia ajudá-los de alguma forma. Eles não queriam minha ajuda. Eles tinham um ao outro e isso bastava para eles. E eu quase os invejei.
Eu me levantei, caminhando de volta para a minha mesa, pagando a minha conta e retornando para casa. Irritada e decepcionada. Não com Brad e Conrad, mas comigo. No fim, eu sabia que eles estavam certos.
Voltar para Hawkins não tinha sido uma boa ideia.
< notas da autora >
Hey, lindezas! Como estão? Espero que tenham gostado do capítulo, apesar dos pesares.
A Chrissy está passando pela agonia de "voltar para casa e não ter um lugar " e isso vai fazer ela se sentir muito mal até que chegue ao estopim. Inclusive no próximo capítulo teremos isso. A primeira explosão pelos reencontros com pessoas do passado que esperavam coisas específicas dela.
Obrigada por acompanharem. É delicioso estar de volta, dessa vez com algo mais leve do que Os Lábios de Vênus.
Um bom fim de semana para vocês e acredito que domingo tem cap novo. 🫶🏼🤟🏽
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Um Amor Para Chrissy
ChickLitAnos após a conclusão do ensino médio, Chrissy Cunningham retorna à Hawkins como professora do ensino fundamental. Ela sabia que não seria fácil retornar após tantos anos, quando deixou toda sua vida e perspectivas de um futuro perfeito para trás. ...