Capítulo 1

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Playlist da fic: https://open.spotify.com/playlist/3kNXXz1PeMwDP3BKEWX97A?si=4804a3b6ce2c40cc

Boa Leitura!


Vivo. Após a batalha de Hogwarts, Harry mal podia acreditar que estava vivo. Mas logo percebeu que o peso da morte continuaria marcando presença com mais força do que nunca agora que tantas pessoas que amava haviam partido lutando ao seu lado. O bruxo cresceu com a sombra da morte de seus pais, mas depois dos acontecimentos da guerra, tendo ele mesmo acreditado e aceitado a própria morte, continuar vivo parecia muito errado. Por que ele merecia estar ali e não um de seus amigos? Bem, no fundo ele não achava que merecia, era só mais umas daquelas coisas que lhe aconteciam sem que ele tivesse controle e fazia com que todos o olhassem como se ele fosse não apenas "o eleito" para derrotar Voldemort, mas como se ele realmente fosse diferente das outras pessoas. Ele odiava se sentir assim, ainda mais sobre coisas que não tinha nenhum controle.

Nos primeiros dias, o foco foi homenagear os mortos da guerra e se despedir. Junto dos amigos e alguns outros colegas de Hogwarts Harry ajudou em tudo que podia, mesmo se sentindo esgotado com todo o clima de vitória mórbida causada pela dualidade do momento. Quando o foco passou para a reparação da escola que estava consideravelmente danificada, Harry aceitou o convite de Gina para ir com os Wesleys para a toca pois sabia que andar pelas ruínas do castelo só o fazia se sentir mais quebrado. A verdade é que, enquanto a maior parte do mundo bruxo o admirava por ter derrotado o Lord das Trevas, Harry apenas se sentia fraco por todos aqueles que não conseguiu proteger.

Como esperado, o clima na toca era pesado, também haviam perdido amigos próximos e a morte de Fred era sentida por todos. Harry tentava se manter o mais estável possível para ficar ao lado de Gina e confortá-la, passavam muitos dias sentados no jardim onde a garota gostava de deitar a cabeça em seu colo olhando o céu, muitas vezes faziam isso com Rony e Hermione que no meio da loucura do último ano tinham se entendido e estavam em algum tipo de relacionamento. O sentimento de impotência do garoto era sufocante, ele via a dor no rosto de cada Wesley que tanto amava e não podia fazer nada que realmente os ajudasse, então tentava se manter por perto, grato por ser tão bem vindo entre eles.

A dor funcionava de uma forma estranha, como um vento frio quando toda a neve já derreteu, se mostrando presente quando menos se espera. Depois de alguns meses da batalha, Harry recebe uma carta do ministério com informações sobre tudo que ele havia herdado de seus pais e também de seu padrinho, haviam algumas propriedades em seu nome e agora ele precisava se preocupar com muitas questões burocráticas, após as reformas no ministério que se fizeram necessárias após a guerra, tudo parecia funcionar de forma mais efervescente do que nunca. E foi quando ele estava pensando sobre o que faria com sua vida que Hermione chegou com clara animação explicando para ele e Rony que eles poderiam voltar para Hogwarts e concluir os estudos mesmo que com um ano de atraso, uma nova política interna organizou a escola para lidar com os danos curriculares. Harry viu que Rony se animaria com qualquer coisa que a garota se animasse também, mas ele não sentiu a mínima empolgação com a notícia. E perceber isso o assustou profundamente, já que uma vez chegou a pedir para Dumbledore se poderia morar naquele lugar onde finalmente se sentiu em casa.

Não era hora de voltar. Não era hora de reviver tudo que ele ainda nem conseguia esquecer. Foi muito difícil convencer os amigos de que ele não estava tão mal assim, e que queria um tempo para se organizar antes de voltar para a escola. Harry conseguiu conversar com a diretora McGonagall para adiar seus estudos por mais um ano que os seus colegas, ele pensou em vários argumentos para debater mas ela se mostrou extremamente compreensiva e atenciosa, bem diferente de quando Harry a viu pela primeira vez, ríspida, os conduzindo no primeiro ano para o salão principal. O plano do garoto era se mudar para uma das casas que herdou, uma em específico que era como um chalé isolado na Itália e tentar viver o mais tranquilamente possível e sozinho com seus pensamentos. Essa escolha causou certo conflito com os amigos, ele sabia que todos estavam sofrendo mas também pareciam desesperados para voltar ao normal, e não que Harry os julgasse por isso, só não achava possível e se incomodava com toda aquela agitação.

A relação mais abalada, inevitavelmente, foi com Gina. Eles não estavam necessariamente namorando, não haviam discutido sobre ter algo sério ou não, só estavam sempre por perto e por mais que Harry gostasse muito da garota, não conseguia vê-la ao seu lado. Mal conseguia vislumbrar uma vida para si, menos ainda gostaria de compartilhar esse vazio e estragar a vida dela. Quando ele explicou que não iria para Hogwarts a garota não aceitou muito bem, e chegou a falar coisas muito ruins sobre o garoto pois acreditava que ele estava indo viver com outra bruxa qualquer, e não importava o quanto Harry se explicava, as tentativas de conversas só acabavam em brigas mais feias, ele ficou até mais aliviado de ter que para onde ir e encurtou sua estadia na toca. Mais um lar que ele perdia.

O tempo que Harry passou sozinho naquele chalé, que de certa forma aprendeu a gostar tanto, era como um borrão em sua memória, todas as lembranças se embaralham entre noites sem dormir, pesadelos, longas caminhadas no campo, e a ideia que considerou estúpida de retornar com velhos costumes trouxas na falha tentativa de se encontrar nas atividades tão familiares que executou por tanto tempo. Se sentia idiota usando uma vassoura pra varrer depois dos anos como apanhador da Grifinória, mas desistiu de vez dessa ideia quando, depois de um mês, se atrapalhou no fogão e se queimou com uma chaleira. O bruxo também passou a maior parte desse tempo sem muitas informações, fez questão de não assinar nenhum jornal e trocava poucas cartas com Hermione que sempre se preocupava com ele.

Quando Harry atravessa a passagem para a plataforma 9 3⁄4 e escuta aquela familiar agitação de crianças animadas se despedindo da família e os sons do trem, ele foi arrancado de seus pensamentos sobre como ele foi chegar ali, com 20 anos de idade pegando o expresso Hogwarts ainda como aluno. Ele não esperava que seria o momento mais fácil da sua vida, mas ver todas aquelas crianças fez com que ele se sentisse muito mais velho do que realmente era, começara a chamar muita atenção na plataforma, mesmo tendo saído dos holofotes ele sabia que seu nome estava na história do mundo bruxo, mas jamais poderia se acostumar com os olhares curiosos, animados, de pena, e até de desprezo, então o melhor era apertar o passo e entrar logo no trem e torcer pra encontrar uma cabine vazia.

Não seria uma tarefa fácil, Harry chegou bem tarde e era difícil se locomover pelo trem agora que se sentia um idoso e tinha até medo de pisar em uma pequena criança. Sério, ele era desse tamanho em seu primeiro ano ou eles estão encolhendo? Ele passava os olhos rapidamente pelas cabines vendo tanta felicidade como ele mesmo já havia vivido ali um dia. De longe em uma cabine o garoto avista Luna Lovegood e se lembra de como era divertido estar com a garota, mas antes de cogitar ir se sentar com ela ele escuta a voz de Gina que estava com a amiga da Corvinal então Harry abaixa a cabeça andando ainda mais rápido, pois esse é um conflito que ele quer evitar.

Já estava chegando o fim do trem, estranhou as cabines parecerem tão cheias, será que não havia espaço para um atrasado? Foi então que ele viu a última cabine com a porta meio aberta , e esta parecia finalmente vazia. Harry entrou rápido e só quando fechou a porta, querendo abafar o ruído agitado, foi que ele percebeu que já havia um aluno ali, sentado meio encolhido olhando pela janela e parecia ainda não ter notado a entrada do garoto.

— Ah ... me desculpa, o resto do trem está cheio ... — Só quando o aluno levantou o rosto pra ele que Harry pode reconhecer — Malfoy?!

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