Capítulo 7 - O capitão das sereias

38 6 0
                                    


No fim tudo havia saído como ele queria. Não como planejara, mas certamente como queria.

De dentro do navio, o capitão observou as sereias nadando em liberdade, acompanhando o casco do Netuno. A sereia de cauda lilás lançou um beijo molhado para ele antes de submergir, seguindo seu novo rumo em liberdade, um caminho separado do dele. Era melhor assim. Aksel apoiou os cotovelos na amurada e suspirou perguntando-se se alguma vez voltaria a ver aquela outra sereia, mas não se permitiu pensar muito nisso. Já fazia muito tempo. A vida estava cheia de mulheres mais interessantes... Certo, nada seria mais interessante do que uma sereia, mas a vida certamente tinha mulheres bastante bonitas, inteligentes e ávidas para compartilhar sua cama. Ele bem poderia fazer um esforço para conseguir gostar delas.

Seria mais saudável inclusive do que se deitar na cama do fundo do mar de que as sereias tanto gostavam.

Afinal, o fundo do mar tinha gosto de lama, ele bem sabia.

Permitindo-se fazer algo que nunca fazia, Aksel olhou para trás, para a praia do Novo Mundo onde a tribo da Garganta ainda se recuperava, um pouco atordoada, de seu encanto. Ele ainda estava um pouco chocado por quase ter virado jantar de uma tribo canibal — quem diria! — mas no final ainda se sentia aliviado por poder libertar cada uma das pessoas que acabavam se encantando por sua magia.

Ele sabia o quão terrível era ser devorado e não, não desejava aquilo para ninguém, embora fosse um truque muito útil.

Maúma estava dando ordens, movendo seus braços ossudos para cima e para baixo. Aksel sorriu com escárnio. Era melhor a velha matriarca se apressar, pois nem todas as sereias perdoavam fácil como ele. Várias barbatanas coloridas, magras pelo tempo passado na lagoa, ainda estavam rondando a praia, prontas para seduzi-los na primeira oportunidade.

Bem, agora a sorte estava lançada. Aksel tinha feito sua parte.

O vidrinho com a panaceia repousava frio em seu peito, a corrente pesando ligeiramente em seu pescoço, e ele ainda não sabia o que faria com isso.

— Meu herói! — Miguel tinha saído de sua cabine e lançara os braços ao redor dele, afastando qualquer pensamento. O capitão se desvencilhou do abraço.

— Não transforme isso em rotina.

— O que? Ser salvo por você? — Miguel riu. — É o grande objetivo da minha vida! — ele apoiou os cotovelos na amurada, de costas para o mar. Do outro lado do navio, o príncipe e a ratinha perambulavam juntos, de mãos dadas. Miguel os encarou, coçando o queixo, pensativo. — Então, o que vai pedir pelo resgate do garoto?

Aksel temia que ele perguntasse isso.

— Não sei ainda. — suspirou. — Uma pequena fortuna, talvez.

— Ora, vamos! Ele é o príncipe herdeiro! Por que você se contentaria com uma pequena fortuna quando pode ter uma coroa?

Aksel rolou os olhos.

— E o que eu faria com uma coroa?

— Se declararia rei dos piratas? Use como enfeite! Sei lá, estamos com todas as cartas na nossa mão! Repito, o garoto é o príncipe herdeiro! O pai fará qualquer coisa para reavê-lo...

Aksel levantou um dedo.

— Exatamente. Inclusive enviar tropas para nos emboscar nos portos da Espanha.

— Eles não fariam isso.

— Fariam e farão. Não podemos aportar na Espanha, seremos obrigados a deixar o garoto em outro lugar e pensar em outro plano para pegar a recompensa. — Miguel gemeu frustrado. — Viu, só? É por isso que não devemos nos entusiasmar tanto com príncipes...

O DevoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora