Capítulo 3 - Ninho do terror

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O corsário se encolheu tanto que poderia ter ficado preso à madeira. Serena sentiu a risada do capitão mais do que a ouviu, um ronronar profundo em seu peito. Ele a apertou mais, levando-a consigo enquanto avançava na direção do homem.

— Então, quem é esta jovem adorável?

Com a aproximação do pirata, Tomás virou o rosto, fechando os olhos.

— Ela me ajudou quando fui resgatado — murmurou baixinho — mas o capitão disse que ela não existia, que foi uma alucinação minha. O médico também concordou.

Uma sobrancelha escura se arqueou quando o capitão mirou Serena intensamente.

— Será possível que a senhorita é um fantasma? — ele entortou a cabeça — ou uma tripulante clandestina que se acha muito inteligente? Estou curioso para saber o que você pretendia ao me interceptar.

— Ela provavelmente queria ajudar a tripulação.

Serena já estava bastante preocupada sem o acréscimo de mais nenhum elemento na situação, de forma que quando a ponta da espada de Erik mirou a garganta do Devorador ela achou que o destino estava sendo bastante cruel com ela.

O príncipe estava postado do outro lado do pirata, firme e intenso, com a espada em punho e expressão feroz. Ele trocou um breve olhar com ela, o suficiente para se certificar de que ela estava bem, então fixou o olhar unicamente no Devorador, com dentes cerrados. Qualquer vestígio do garoto empolgado com quem ela falara mais cedo desaparecera.

Serena olhou ao redor, para os demais piratas que não se moveram para interceptar Erik enquanto ele avançava para o capitão, e percebeu que também eles estavam ligeiramente letárgicos, todos embebidos pela voz do Devorador. O efeito neles era menos aparente, mais sutil, talvez menos intenso, mas tornava seus movimentos mais lentos, sua atenção menos focada.

Por isso ele ficou no Netuno e não ajudou no ataque, pensou Serena, respondendo sua dúvida anterior. Seus homens não eram imunes ao seu poder, aparentemente apenas ela conseguia resistir um pouco. Bem, pelo menos ela achava que conseguia. Era a única que não parecia estar letárgica e que ainda conseguia raciocinar, os demais tinham a expressão sonhadora. Ela começou a se perguntar se também sua própria atitude impulsiva em guiar o capitão até o navio não fora um efeito da sedução e começou a se envergonhar. O que aconteceria com Erik sob o encanto dele?

Mas o príncipe não estava afetado pela voz do homem, não havia nele o brilho febril e apaixonado que cruzava o rosto daqueles que ouviam as vozes amaldiçoadas das sereias.

— Deixe minha amiga ir — exigiu Erik, dando um passo a frente. A espada encostando na garganta do Devorador.

Ela queria gesticular para que ele não fizesse nenhuma besteira, mas agora Erik não olhava mais em sua direção. Sua atenção estava inteiramente focada no pirata.

O Devorador avaliou Erik com um olhar breve e se ficou surpreso por ele não ter sido enlaçado por seu charme, não deixou transparecer.

— Não faça nenhuma besteira, garoto. Você certamente não sabe com quem está lidando.

Serena tentou balançar a cabeça, chamando a atenção do príncipe, mas ele continuou a ignorá-la.

— Solte minha amiga. — Exigiu.

O pirata arqueou uma sobrancelha, então liberou Serena, que repentinamente se viu sem o apoio das mãos firmes do capitão e perdeu o equilíbrio, caindo sentada aos pés dele.

— Feliz agora? — perguntou o Devorador. Risinhos varreram a tripulação do Netuno. Erik trincou os dentes. — Deixe-me adivinhar. — continuou o capitão, guardando no cinto a adaga de Serena e cruzando os braços na altura do peito enquanto encarava o príncipe. — Era você quem queria falar comigo.

O DevoradoOnde histórias criam vida. Descubra agora