Algo muito errado deveria ter acontecido. Não que Serena tivesse um bom pressentimento sobre qualquer coisa desde que Erik decidira fugir, mas quem era ela para dizer alguma coisa...
Ali estava ela perdendo seu tempo observando os piratas destruírem o elegante quarto de hóspedes da rainha como se estivessem em uma taberna à beira mar. Só faltavam as prostitutas. Eles já haviam achado as garrafas de licor nos armários e as campainhas que chamavam criados, de forma que agora estavam fazendo listas de pedidos aos cozinheiros. Miguel estava dentro de uma banheira, desaparecido no meio da espuma e ela estava simplesmente cansada.
A tripulação estava ocupando quatro quartos naquele corredor. Serena inspecionou cada um deles, para ver se tudo ia bem dentro do possível. Quando fechou a última porta, decidindo que era um caso perdido, ela inspirou profundamente, recostando-se na parede. Foi então que avistou Erik passando correndo no outro extremo do corredor. Ele não a viu, sequer parou para dizer alguma coisa, só continuou correndo em direção ao gabinete da rainha. Sem encontrar sinal do capitão que deveria estar com ele, Serena decidiu segui-lo.
Desejava não ter feito isso, pois agora estava parada em frente à porta do gabinete vendo Erik de mãos dadas com uma jovem que parecia uma boneca de porcelana que ganhara vida. E os olhos dele... Os olhos dele pareciam enfeitiçados por ela, vidrados, cheios de... Paixão.
O coração de Serena afundou no peito.
Como podia ser isso?
Por um instante ela pensou na bruxa do mar e em uma possível traição. É isso, ela roubou um corpo para enfeitiçar o príncipe e me impedir de ter sucesso! Mas a troco de que ela faria isso, Medusa sequer se interessava pela vida humana. Ela vivia na Fenda, no fundo do mar, pouquíssimas coisas realmente a interessavam e a vida de uma sereiazinha com certeza era o menor dos problemas dela.
A rainha estava falando, mas Serena não conseguia ouvir, pois seus ouvidos estavam rugindo com a pressão de seu próprio sangue. Ela tentou respirar e acalmar as batidas de seu coração.
— Ainda assim, não vai conseguir me distrair da questão principal que me trouxe aqui — era Erik falando. Sua voz não parecia tão convicta quanto ele tentava fazer soar, mas foi suficiente para ancorar Serena de volta a realidade. Ela prestou atenção nele, se esforçando para ouvir com clareza, além da surdez de suas emoções.
A rainha suspirou cansada.
— Eu estou aqui falando do seu casamento e você não consegue me ouvir nem por um segundo! — ela reclamou. Serena sentiu o coração parar por um instante. Seus ouvidos zumbindo com mais intensidade. Erik ia se casar? A rainha o prometera em casamento?! — Eu sei que tem sido anos difíceis para você. Sei que é muita responsabilidade para alguém tão jovem, mas não foi fácil para ninguém. Eu ate entendo sua crise de rebeldia e esses piratas... — a mãe fez uma careta — e se você quiser conversar sobre eles depois, tudo bem, mas podemos focar no compromisso primeiro? O reino precisa disso Erik.
Erik estava cedendo. Seu firme e tempestuoso Erik estava cedendo como um gatinho, enfeitiçado pela jovem a seu lado. O Erik que Serena conhecia há um ano teria irrompido em uma crise de fúria ao ser forçado a casar-se.
— Eu quero conversar com meu pai. — anunciou o príncipe.
A rainha suspirou.
— Eu já marquei um chá anunciando seu noivado...
— Assim que eu conversar com meu pai podemos fazer quantos chás e festas a senhora quiser. Com outra condição.
Ele não ia lutar contra o casamento? Um nó parecia estar sendo feito no pescoço de Serena, como se a tivessem mandado para a forca. Aquele outro fenômeno detestável que só acontecia na terra também se fez notar: lágrimas. Serena estava tendo que lutar contra a vontade de chorar e odiava isso.
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O Devorado
RomanceE se a pequena sereia se apaixonasse pelo príncipe errado? O herdeiro do trono da Dinamarca está em busca de um elixir miraculoso que resolveria todos os problemas de um homem. Serena, sua companheira de viagem, é a sereia que um dia o salvou de um...