Um visconde enfeitiçado (I)

485 46 2
                                    

Anthony apresentou a Simon a sua sala particular para um jogo e mais Wisky, ele não contou quantas horas ficaram lá dentro, mas Anthony acredita que foi bastante tempo.
As conversas rodaram entre a infância, novidades de Simon e algumas sobre a sociedade Londrina. Até que eles resolverem finalmente ir encontrar Clarice e Lilyan que estavam esperando por eles.

O salão começou a se esvaziar, os convidados indo para seus aposentos na hospedagem em Aubrey Hall e alguns ainda dançavam, ou comiam, conversavam, bebiam.

As garotas estavam no Hall lá fora, onde a noite já havia feito descanso, bonita demais era ótimo de se admirar. Quando Anthony e Simon se aproximaram delas, elas deram atenção aos dois. Fazendo uma reverência educada para os cavalheiros. Uma criada, não muito longe as acompanhava, por segurança, claro.

— Simon, está é Clarice. Minha futura noiva- apresentou Anthony enquanto ela fazia outra reverência rápida em comprimento.

— É um prazer conhecê-la, Senhorita Dragoner. Como vai? - perguntou, acenando com a cabeça.

— Eu vou bem Vossa graça, obrigada. E o senhor? - perguntou em tom gentil.

A postura dela era tão inconfundívelmente reta e perfeita que Lilyan teve a sensação de estar completamente torta. De ser... vulnerável.

Anthony olhou de relance para a tentativa dela em arrumar a postura que já estava normal. Franzindo a testa, e quieto.

— Vou bem também -  respondeu Simon a Clarice. Com um sorriso amigável

— Por que não vamos dar uma volta? - sugeriu Anthony, tirando os olhos da ruiva.

— uma ótima ideia milorde - concordou Clarice, com um sorriso exagerado.

As vezes ela era assim, pensou Lilyan, era bonita. Era impressionante, era muito... encantadora. Mais as vezes exagerava, bem, ela percebia, os outros com certeza não, a achariam adorável e sempre na medida certa. Nada nela parcia exagerado.

Eles então foram em direção ao gramado para a caminhada. Clarice foi na frente com Simon, estavam conversando, Anthony e Lilyan logo atrás, e claro, a criada um pouco mais longe deles.
Lilyan segurou o vestido, andando pela grama e encarando o chão, não a frente, não o Anthony, o chão.

— sinto que tenha repulsa de mim - ouviu, Anthony dizer.

Ela levantou a cabeça, olhando pra ele agora. Anthony sentiu o ar lhe faltar por um tempo com seus olhos castanhos o encarando, ela de todas as irmãs parecia mesmo a que mais clamava os dois pais. Sua íris castanha afundava ele em um mar de carinho.

— do que está falando milorde? - perguntou ela, visivelmente confusa.

— não olha pra mim, me pergunto o que eu poderia ter feito- respondeu ele quase que imediatamente.

— Eu não tenho repulsa do senhor, claro que não. - ela poderia se sentir quase ofendida com a acusação

Ele ficou em silêncio por um tempo, andando e observando que Simon e Clarice já estavam um pouco mais a frente. A criada tinha os passado. No meio, observando os dois a frente. Anthony parou, olhou pra ela.

— olhe pra mim, Lady Dragoner. Por favor- pediu.

Ela parou um pouco mais a frente, soltou o vestido e subiu o olhar para vê-lo. E ele sentiu que talvez estivesse vendo a alma dele.
Anthony nunca teve tanta vontade de beijar uma mulher como teve agora. Mais não era um pensamento pronto para levá-lo ao manicômio? Não. Beijá-la seria doce, seria mágico e ele não queria acreditar nisso. Ela tinha o cheiro forte de lírios que o deixava enfeitiçado, ele podia quase imaginar que seus lábios teriam gosto de morango.

Mais ele não podia fazer isso, estava noivo de sua irmã. Não gostava de Lilyan, não assim...

Não, não gostava, não podia.

— seus olhos são lindos - deixou escapar, atônito

— perdão milorde? - interrogou ela, abrindo a boca levemente.

Esse cheiro, ele pensou, esse cheiro...

Ele não disse nada, e ela ficou em silêncio por um tempo também. Sem saber o que poderia ou não falar. Estava com o coração batendo forte pelo elogio que ela não conseguia assimilar.

— não tenho repulsa do senhor, lorde Bridgerton- garantiu ela, mechendo as mãos- acho que... será um ótimo marido para a minha irmã e isto basta.

Ele balançou a cabeça negativamente de vagar. Uma vez.

— não quero olhar pra você e sentir que me odeia - disse ele, um passo mais próximo.

— não o odeio! - falou, rindo fraco - não, não o odeio milorde. Só... só fomos estranhos desde o começo, até aqui.

— perdoe-me- pediu ele.

Ela fez uma reverência, com um sorriso dançando nos lábios e ele se sentiu como no  jogo do Pall mall aquele dia. Quando trocaram palavras sinceras e amigáveis. Ela também se sentiu assim.

— o senhor está perdoado, milorde - garantiu ela e ele sorriu.

— Anthony - corrigiu - apenas Anthony.

Ela assentiu, estendendo a mão aveludada. As luvas azuis cintilantes.

— apenas Anthony.

Ele pegou sua mão, e juntos foram para perto de Simon e Clarice novamente.

[...]  Ao final do passeio naquela noite, Lilyan se encontrava em seus aposentos. Puxando as fitas do vestido para tirá-lo de seu corpo enquanto encarava seu reflexo no espelho e pensava no que aconteceu algumas horas atrás. Apenas Anthony, ela pensou, sorrindo pequeno pra si própria.

Agora, ele não era mais tão estranho. Agora, seria um bom par pra sua irmã. Não é? Talvez ele sempre fora ela só não percebeu, ou só não aceitou.
Mais se perguntava porque essa ideia a aborrecia tanto. Porque a ideia de que Clarice se casasse com lorde Bridgerton a incomodava tanto?

Antes, ela tinha certeza de que era porque sabia que ele era um libertino, não sabia se suas intenções eram sérias. Mais agora... bem, talvez fosse porque ainda não sabia sobre o dia no escritório, ou aquele bilhete que ele não lhe dera quando fora a sua casa meses atrás. Aquele bilhete que dissera ser para seu pai.

Lilyan, apesar de tudo ainda precisava descobrir sobre isso. Precisava ter certeza de que não era essa coisa escandalosa de que estava pensando.

Clarice entrou no quarto, já vestida para dormir e observou a irmã.

— porque está sorrindo assim? - perguntou com malícia- se interessou por Vossa graça?

Perguntou e lilyan a olhou horrorizada. Tirando os sapatos e descendo o vestido.

— claro que não Clarice! Não seja tola - resmungou achando um absurdo.

— eu vi como ele a olhava, ele é um duque, um ótimo partido - continuou a irmã.

— um duque, que não quer se casar e não quer herdeiros- rebateu a irmã - ele foi um homem gentil, e só. Será um ótimo amigo.

Terminou, vestindo sua roupa para dormir. A irmã não desistiu. Se sentou na cama e olhou para Lilyan antes que apagasse a vela.

— Mais e Benedict então? - perguntou - sei que ele tem interesse em corteja-la.

Clarice própria não pareceu feliz com a possibilidade, fez uma cara estranha e Lilyan franziu a testa. Incomodada? Porque estaria.

Mais Lilyan tratou a dizer.

— Benedict é meu melhor amigo! Apareceu em um momento que eu precisava e me deu consolo. Amigos, não pense nada mais que isso. - terminou.

A irmã deu uma risada que não continha humor, percebeu novamente a ruiva. E então Lilyan apagou a vela e se deitou, fechando os olhos e tentando tirar os pensamentos da cabeça.

Tinham mais um dia apenas em Aubrey Hall. E logo voltariam para a sociedade Londrina, apenas para ficar um pouco e arrumar suas coisas. O Natal se aproximava. Baxter Hall os aguardava.

E provavelmente os Bridgerton também.




Culpa do amor - Anthony Bridgerton - 1° Livro  Onde histórias criam vida. Descubra agora