Capítulo 12. Lembranças

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Numa casa isolada, em seu quintal, um homem e uma garotinha plantavam sementes para um lindo jardim florido, mesmo que fosse uma tarde cheia de nuvens que estavam prestes a chover.
De repente um homem desconhecido se aproxima, sem mal trocar palavras ou olhares, ele chuta o homem de cabelos castanhos que estava ao lado da garota e tenta perfurar seu rosto.
Se levantou e pegou uma das pás e jogou contra o homem, ele jogou seu pai e correu até a menina. Agarrou seu vestidinho rosa e abriu um corte profundo em seu nariz.
Seu pai gritou e puxou o homem, se afastando da menina enquanto lutavam.
O homem se vestia como uma pessoa comum, entretanto, em seu pescoço havia um colar com uma cruz de madeira. Seus olhinhos puxados brilharam, aquela cruz em específica não representava a famosa igreja católica, mas algo similar.
Começou a gritar, com sorte sua mãe e irmão estariam próximos de voltar das compras na cidade ao lado.
Mas então, ouviu um som específico que fez tudo a sua volta parar, com apenas esse som a garota voltou seus olhos para sua frente. Com uma faca cravada em seu estômago, seu pai perde as forças e vai ao chão.
Como um silêncio devastador em sua mente, como se de fato o mundo tivesse parado e nada mais fosse real.
Seu sangue ferveu, seus olhos cheios de lágrimas se tornaram negros pela primeira vez, sua fúria tomou conta de seu corpo e soltou o objeto.
Um grito de dor e ódio da mesma garota, uma barreira sonora empurra o grande homem para longe, que bate contra uma grande árvore e a quebra em milhões de pedaços.
Uma luz de mana emite em volta de seu pequeno corpo, seus longos cabelos castanhos se tornaram rosa e flutuavam no ar. E em um breve momento, enquanto andava, com intenção de atacar o homem que aos poucos perdia cada vez mais forças, ouve — Minha flor...
— Pai? — Seu corpo voltou para a mesma simplicidade de antes.
Ao chegar, já era tarde, aqueles eram seus últimos momentos de vida.
Lágrimas escorrem por todo seu rosto, lágrimas gordas e salgadas, ela aperta a camisa de pai e afunda seu rosto em seu peito enquanto soluçava — Papai!
O homem acaricia os cabelos da garota, ela se levanta, sua camisa estava manchada pelo sangue tanto dele quanto do próprio rosto de sua filha, seus lábios se curvaram num sorriso débil.
— Pai! Me desculpa, pai! — Soluçou — Desculpa!
— Você não fez nada...
— Não me deixe sozinha! Por favor, papai! Não me deixe sozinha!
Tossiu — Cuida bem da mamãe e do mano pra mim, tá bom?
— Papai… — A voz falhou, puxando os lábios enquanto a garganta ardia.
— Me perdoa por não conseguir ficar mais tempo… Eu queria te ver ir pra faculdade… Te levar pro altar no seu casamento…
Ela o abraça, sentindo o toque de sua mão acariciar seus cabelos e a aliança reluzir a fina linha de sol sobressaindo das nuvens cinzentas e o trovoar.
— Papi te ama, mi caro fiore.
O homem parte, a garota chorava como chorou em seu nascimento, feito um bebê.
A chuva veio a cair sobre seu corpo, como se queimasse-a. Seu coração doía como nunca.
Por muito tempo a garota ficou abraçada ao corpo já sem vida, esperando que tudo não passasse de um sonho, um sonho terrível. E aos poucos o corpo que segurava não podia mais esquentá-lá
Apenas podia ver o vislumbre de sua mãe deixando as compras cair e as lágrimas de seu irmão ao lado.

Haviam se passado cerca de trinta e uma luas.

Lilith acabava de acordar em seu quarto de hotel, em puro pânico. Chorava desesperadamente, a mulher se levanta, se escora sobre a parede enquanto descia devagar até sentar ao chão com uma mão sobre a boca e a outra jogando o cabelo de seus olhos para trás e os segurando dessa forma. Focou seus olhos no carpete vermelho debaixo de seus pés descalços, esperando com que seu corpo suado e trêmulo se recuperasse do pesadelo.

Se levantou, pegou uma toalha do hotel e saiu correndo do quarto em direção a banheira, ela passa pelos dois irmãos e o pirata que andavam em direção a seu quarto.
— Senhorita Lili... — Sun a chama mas se cala ao ver que ela o ignora e entra na sala da banheira feminina.

Lilith passou muito tempo ali, suficiente para que seus dedos ficassem enrugados, até que finalmente pudesse se sentir melhor e pronta para encarar a realidade que vivia. Por um momento a garota se senta na banheira, encarando a água, pensando no que havia acabado de sonhar — Oh, papà... — Olhando para a água quente, a imagem do homem morrendo em seus braços surge rapidamente como uma facada em seu peito. Tentando ignorar sua mente, Lilith finalmente sai da banheira. Andando até os armários para buscar suas roupas, nota que era a única naquele local. Já vestida, a mulher fecha a porta do armário e se vê contra um espelho. Passou os dedos calmamente pelas cicatrizes, duas das que tinha eram em seu rosto, ambas eram as que tinham histórias de seu passado. Lembrou de como era vaidosa na juventude, de como priorizava a beleza assim como a mãe, de como queria se amar também. Aos poucos, viu como se tornou apenas parte do que um dia foi, da garota que foi. E tudo desmoronou após a maldita guerra. Seu cérebro jovem estava perturbado demais para aguentar qualquer outro incidente, e quando mais um veio, explodiu em cores vibrantes e chamativas.
Essa era uma maldição que não podia se livrar.

Assassina de PandoraOnde histórias criam vida. Descubra agora