Debaixo do pé de tangerina.

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"Olá, linda Flora.

Agora que você já está permitida a entrar em minha casa sem esconderijos e passar o tempo comigo, queria te levar para um dos meus lugares favoritos desse lar.

O pé de tangerina do quintal.

É dele que recolho as flores e faço meu próprio perfume, lembro que me perguntou de onde minha fragrância vinha e do que era.

Estou ansiosa, por mais que seja apenas uma árvore que dá frutos, é o meu pé de tangerina...

Ele é especial e acredito que você vai gostar de ficar comigo debaixo dele. Podemos prosear, comer algo ou tomar o nosso chá de costume.

Espero que aceite meu convite.

Um abraço apertado.

- Serena".

Flora prontamente foi, não recusava convites ainda mais sendo os de Serena. Desde que se conheceram, queria saber de onde vinha aquele perfume com cheiro tão específico e agora parecia tudo muito claro, como não identificou que era tangerina? Se perguntava abismada.

O dia tinha ocorrido bem, passaram a tarde juntas e a noite começava a aparecer escurecendo o céu e o quintal, já que a luz que tinha era a do poste que ficava no centro do vilarejo e ela não chegava até o espaço onde as mulheres estavam. Sendo assim eram banhadas pela claridade da lua e somente ela.

Sentadas debaixo do pé de tangerina, lado a lado, Serena tentava puxar assunto de qualquer forma, buscava no fundo da alma um bom humor, já que havia se esgotado durante a tarde pois Flora tinha um comportamento estranho, distante, e por mais que a morena tentasse puxá-la para vida real, não conseguia.

- Flora, aconteceu alguma coisa? - Serena se cansou da forma em que a ruiva estava agindo, não estava sendo ela mesma, se comportava como um robô.

- Não, nada. - Mentiu, mas sua voz vacilou. Era péssima em mentir, isso se tornava três vezes pior quando era para a morena ou para seus pais.

- Pode confiar em mim, estou sentindo você diferente desde que chegou. - Tentou transpassar algum tipo de confiança.

- Eu tenho uma coisa para lhe contar. - Respondeu impaciente, exausta de todo o teatro que havia feito.- Eu fui prometida a um homem. - Falou em um tom baixo com a voz trêmula.

A informação acertou em cheio o coração de Serena, que ficou nervosa de imediato, sentiu seu sangue ferver em ciúmes, não queria de forma alguma que aquilo acontecesse, mas o que ela iria fazer? Não podia fazer nada. A sua vontade era esbravejar, quebrar algo, gritar para mostrar que não gostava da informação, mas não podia fazer nada. Apenas engoliu em seco por mais que fosse difícil de digerir, respirou fundo apertando suas próprias mãos e adotou uma maturidade fora do normal.

- O nome dele é Ezequiel, parece ser um bom homem. - Tentou até apaziguar a situação, até porque era uma das informações em que se agarrava, torcia para que ele fosse um bom homem.

- E você quer se casar? - Foi a única coisa que conseguiu dizer.

- Eu mudei de comunidade para isso, não foi? Mudei para arrumar um marido. - Deu de ombros em tentativa de fuga.

- Não foi isso que perguntei, estou falando sobre sua vontade... Você quer se casar, Flora? - Foi um pouco mais ríspida, séria.

- Não sei se estou pronta. - Respondeu em sinceridade.

- Lembre-se do que eu falei da última vez em que conversamos sobre esse assunto, você também pode escolher. - Seu coração doía tanto e a moça segurava para não deixar sua voz ficar trêmula, pois sabia que seria um caminho sem volta, iria chorar, e se chorasse, demoraria a parar.

Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora