Me olhe.

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O fogo da fogueira ajudava a iluminar o pequeno vilarejo juntamente com o único poste do centro e a luz da lua.

A fumaça das madeiras queimando se mostravam por causa da claridade do fogo, havia  música alta e as pessoas cantando. Era aniversário de Pedro, que fazia parte da comunidade, e como sempre, tinha festa, celebração.

Pedro era um dos vários homens interessados em Serena. Kassandra, a mãe da moça, queria que ele fosse seu genro e por esse motivo arrumou a morena de forma radiante e chamativa.

Serena usava argolas nos braços e outras grandes nas orelhas como brinco, as unhas pintadas e os lábios também. Um corset preto lhe apertava deixando os seios mais avantajados do que já eram, a saia longa e rodada cobria suas pernas e tinha um cinto de moedas de ouro na cintura, parte dos seus cabelos soltos estavam cobertos por um Diklô verde, um lenço.

Normalmente mulheres casadas quem os usava, em oferecimento a Santa Sara Kali, a padroeira dos roma, o povo cigano. Mulheres solteiras os usavam para anunciar que já haviam menstruado, que já eram mulheres prontas para se casar e ter filhos. 

Claramente Serena não concordava em trajá-lo, tinha um pensamento a frente do seu tempo e um marido era a última coisa que queria, estava feliz sozinha... Mas ela foi obrigada, precisava obedecer seus pais, já que o respeito aos mais velhos era um dos maiores pilares do povo cigano. Decidiu usá-lo, mas com a consciência de que não ia dar atenção a Pedro ou a outro homem caso eles se aproximassem, pretendia curtir a festa sozinha, ou melhor, com Flora.

Assim que saiu de casa já sorriu ao avistá-la, ela trajava o mesmo estilo de roupa só que não usava o lenço nos cabelos,  eles estavam presos em uma trança bonita. A ruiva conversava animadamente com mais duas mulheres, não havia notado a presença de Serena ainda. 

A morena iria de imediato falar com a nova amiga, mas sua mãe a impediu mandando ela ficar ao seu lado, iriam conversar com Pedro antes, os pais de Serena queriam que ela desse as felicitações e informasse ao moço que usava o Diklô por causa dele.

O lenço verde significava saúde, proposperidade, vitalidade, e era tudo o que queriam desejar para Pedro. Então ofereciam o Diklô para Santa Sara como um pedido para que essas bençãos caíssem sobre o homem.

— Eu não quero ir. — Serena cruzou os braços em revolta, já tinha achado demais se vestir daquele jeito, apesar de gostar, não ficava feliz com o motivo, era para agradar um homem.

— Não seja desobediente, Serena. — O pai da morena falou de forma séria, fazendo a moça fechar sua expressão facial. Trincava os dentes com força e tinha suas sobrancelhas franzidas em raiva, se esforçava para não revirar os olhos.

— Non le camelo, mama! (Não o quero, mãe!). — Reclamou em sua língua nativa.

Os casamentos eram arranjados, os pais normalmente que faziam a escolha do pretendente das suas filhas e cabia a eles aceitar ou não a opinião da mulher, se caso quisessem, Serena se casaria, ela tendo vontade ou não.

Tinham sido pacientes com a morena, mas o tempo estava passando e ela precisava de um marido, para dar filhos, fazendo assim sua contribuição.

Eles eram cuidadosos nessa questão, Serena tinha sido quase nomeada a moça mais bonita daquele vilarejo, isso fazia com que muitos homens crescessem seus olhos para cima dela. Decidiram levar em conta a opinião de Serena sobre seu futuro marido, a moça rejeitou todos os que lhe queriam independente do dote que eles podiam oferecer, mas os pais da mulher já haviam esperado demais e precisavam fazer a moça se casar.

— Non querela, baguin. (Não faça caso). — Reclamou puxando a filha pelo braço. — Ele é um bom homem e será um ótimo marido.

Pedro sorriu gentilmente olhando Serena dos pés a cabeça encantado com a beleza da moça e sonhando com a possibilidade dela ser a sua esposa. Serena também forçou um sorriso, passou a mão pelo seu Diklô para que ele se atentasse, como sua mãe havia pedido, estavam flertando, sem flertar de fato.

Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora