Como se eu fosse te perder.

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— Está tudo bem, Serena? — Kassandra perguntou percebendo uma certa diferença no comportamento da filha.

— Está sim, mama. — Ela mentiu em um suspiro enquanto mexia na comida fingindo que estava comendo.

— Sei. — Encarou a filha. Acontece que a matriarca também estava diferente, só que queria saber se o motivo de Serena era o mesmo que o dela, mas já deveria prever que sua a mulher não se abriria tão facilmente. — Então coma, hija. — Pediu colocando a mão sobre a da mulher e acariciando.

— Estou sem fome. — Deu de ombros, empurrando a comida guela abaixo, sem nenhuma vontade, até sentia que se forçasse mais acabaria colocando tudo para fora.

— E tem algum motivo pra isso? — Queria poder falar para a mulher que sentia o mesmo que ela, porém não conseguia.

— Apenas mal estar. — Abaixou a cabeça, estava tão sensível que qualquer pergunta já conseguia deixar seus olhos marejados.

— Sabe... — Kassandra falou atraindo a atenção da filha. — Apesar de eu sempre falar muito da sua beleza interior e do seu coração, percebi que nunca elogiei seu corpo físico. — Pronunciou pensativa, a mulher a sua frente franziu o cenho em confusão por ela ter puxado esse assunto. — Você já deve estar acostumada com as pessoas falando dela e eu nunca quis que você desse importância demais pra isso, pois queria que você aprendesse o seu valor e que se importasse mais com o seu coração, com a alma. Eu fico feliz por você nunca ter se ludibriado com todas as denominações que recebe. — A mão da matriarca seguia acariciando Serena. — Desde quando você começou a se negar a usar vestido florido demais, a brigar por algo que não considerava justo, isso ainda muito pequena, desde ali eu sabia que eu iria ter uma filha forte, uma filha corajosa, diferente, e que iria me dar trabalho... Bastante trabalho. — Conseguiu fazer a moça gargalhar. — O que quero dizer é que eu não mudaria nada em você, na construção do seu eu, tenho certeza que será uma mulher decidida, que sabe o que quer, na verdade já é. Por mais que a nossa cultura exija um posicionamento diferente, posicionamento esse que eu baixei a cabeça e aceitei, lute sempre por aquilo que você acredita ser o certo, tá bom, hija?

Serena pendeu a cabeça analisando o rosto da mãe, rosto que era parecido com seu, mas com muito mais marcas da idade, o semblante sério dela logo se abriu em um sorriso sincero, a moça morena se viu mais uma vez encantada pela própria mama, a mulher que carragava uma admiração imensa e ouvir ela dizer tudo o que disse, havia sido importante.
Ela então assentiu tímidamente como fazia todas as vezes.

— Você é o meu bem mais precioso, eu te amo muito. — Declarou o seu sentimento com sinceridade, levantando-se. — Agora eu preciso ir trabalhar. — Atuou com sua frase de todos os dias, não iria de verdade, mas fingiria para que a morena seguisse sua rotina, como todos os dias, pois ela sabia que Serena não ficava mais em casa.

— Eu também te amo, mama. — Se levantou acompanhando a mãe. — Tenha um bom trabalho.

— Venha, me dê um abraço. — Pediu um tanto emotiva.

Serena estava estranhando toda a conversa e aquela sensibilidade tamanha, mas cedeu apertando a mãe nos braços e pousando seu ouvido no busto dela para ouvir as batidas do coração, que por algum motivo batia aceleradamente.

— Quero um beijo na bochecha dessa vez. — Falou sorridente. — Odiei quando você deixou de me dar eles porque estava crescendo. — Fez a filha gargalhar.

Ergueu-se e deu um beijo na bochecha da matriarca, o abraço demorou mais tempo que o normal, o que fez a morena ficar mais tocada do que já estava pois seu coração pesou pela intensidade daquele momento.

Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora