Colhendo ervas.

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— Tudo bem. — Serena respondeu puxando ar, seus lábios estavam mais carnudos que o normal, inchados pelo intenso contato assim como os de Flora. — Acho que nos distraímos demais. — Ela alertou olhando para o céu que começava a escurescer.

Flora que estava totalmente perdida e esquecida das suas preocupações, olhou o céu que era tomado por azul escuro aos poucos, arregalou seus olhos e se sentou em um solavanco.

—  Posta del can! (Pôr do sol!) — Levantou de uma forma agitada. — Precisamos ir, meus pais já devem ter chegado. — Procurava em desespero por seu Diklô que Serena havia jogado longe e elas não tiveram a preocupação nenhuma de procurá-lo pois estavam muito entretidas.

Serena olhou para a mulher agitada, era possível ver o medo em seu rosto, mas a morena só conseguia rir, sentou-se e se espreguiçou na maior calma do mundo e depois olhou diretamente para o lenço que estava no chão. Quando estamos agitados demais não conseguimos ver o que está em nossa frente, isso serve tanto para sentimentos e respostas, quanto para objetos.

— Bamos, Serena. (Vamos, Serena). — A ruiva seguiu o olhar da morena e gargalhou achando graça da sua distração, correndo para pegar o tecido logo depois.

A morena se levantou arrumando toda a sua roupa bagunçada e agarrou o lençol onde estavam deitadas antes, balançou ele no ar para tirar o excesso de areia, dobrando logo depois e colocou o tecido dentro da cesta, decidiu parar de brincar com a agitação de Flora e foi mais rápida, visto que sua preocupação era grande demais a ponto dela ficar rodando como uma barata tonta em inquietação, de um lado para o outro.

A ruiva se enfiou no meio da plantação de trigo sem nem se importar se eles furavam sua pele, esqueceu que não sabia andar dentro deles. Serena só conseguiu ouvir o grito de dor porque Flora havia entrado de corpo inteiro, e mesmo com pena a morena gargalhou alto, porque a sua impaciência era tão grande que a ruiva não raciocinou que Serena teria que colocar ela nas costas novamente.

A morena entrou junto a Flora nos trigos e então pôde ver o sorriso da ruiva, parecendo uma criança que havia feito coisa errada e não queria que a mãe descobrisse, sorria forçadamente de forma exagerada tentando esconder a vergonha que sentia, a ingenuidade de acreditar que conseguiria sozinha sem ter ensinamento. Serena apenas pressionou seus lábios segurando o riso e decidiu explicar para Flora o jeito correto de andar naquelas áreas.

— Você vai pisar no final do galho. — Explicou a moça. — Assim. — Então ela pisou, mostrando que eles dobravam para os lados e os fios que perfuravam a pele ficavam bem longe do corpo, sem correr perigo de se machucar. — Está vendo? Eles dobram e consequentemente caem por cima uns dos outros. Sem riscos.

Flora imitou dando o primeiro passo igualmente a Serena e não sentiu dor nenhuma no processo, então comemorou junto com a morena fervorosamente, como se comemorassem a conquista do mundo. Eram adoráveis.
Em passos largos e ágeis a ruiva seguiu na frente, afastando todos os trigos até sair finalmente da plantação, esperando Serena enquanto desembolava seu Diklô e limpava ele com as mãos. A morena ainda rindo de toda a situação, passou na frente da ruiva, sendo seguida pela estrada de terra, andavam rápido pois não tinha energia elétrica naquelas áreas e estava ficando escuro, difícil de ver as coisas que apareciam no caminho e se demorassem demais, não conseguiriam voltar.

A ruiva que já estava aguniada com toda a situação, não disfarçava e quase corria, passando de Serena outra vez,  a morena sem querer ser deixada para trás, adotou passos mais rápidos ainda, passando novamente de Flora.
E assim começaram uma brincadeira mesmo sem querer, uma passava da outra o tempo inteiro e quando perceberam já gargalhavam e corriam em uma disputa que nem tinha sido declarada. Claramente Flora ganhou, pois Serena ainda segurava sua cesta, não estava pesada, mas ainda sim era um peso a mais.

Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora