Não estava preparada para você.

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Olho nos seus olhos, me prendendo, me derrubando

Olhe para o meu coração, debaixo dos seus pés, no chão

Pergunto agora, alguém pode me dizer como

Cheguei nesta posição em que estou?

Não estava sendo um dia fácil para Serena, talvez fosse o dia mais difícil que teve em toda a sua vida, até então.

Seu sono turbulento avisava a confusão interna que a moça se encontrava, sem amparo, chorava durante a noite aos poucos, controlando seus soluços, tentando externalizar a dor que sentia e pedia para que seus olhos não ficassem tão inchados e para que a sua tristeza não ficasse tão aparente.

Logo cedo pulou da cama, lavou seu rosto com água gelada para tentar acordar o seu eu interno e brigou consigo exigindo força e valentia, porque não podia se comportar como uma sem vida. Era doloroso não poder reagir da forma em que sua dor pedia, era sufocante e duro. Tentava fugir dos próprios pensamentos, não queria pensar no que iria acontecer nesse dia, mas eles apenas davam voltas e voltas retornando para o mesmo lugar, Flora entrando na igreja e dizendo sim para outra pessoa. Mesmo que em segredo disesse sim para Serena, mesmo que Serena soubesse que se dependesse das duas estaria ali no lugar de Ezequiel.

A morena andou pela casa, cogitando sair, mas preferiu não dar trabalho a sua mãe, não nesse dia, porque não tinha psicológico o suficiente para ouvir as reclamações depois.

Estava tão ansiosa que seu estômago embrulhava em agunia, então deitou-se novamente sentindo-se mal, fechava seus olhos e as mesmas coisas vinham, ela estava a ponto de surtar por causa da repetição em sua cabeça, não mudava seu foco por mais que tentasse.

Kassandra ainda insistiu para que Serena comesse algo, para que bebesse água, mas a moça estava incomunicável e ninguém conseguia conversar de verdade com ela. Ao cair do sol quando o céu foi começando a ficar escuro, a morena ouviu as batidas na porta e a ordem da sua mãe para que ela se arrumasse para o casório. Era dia de festa, mas a cerimônia era mais intimista, apenas para a família e pessoas extremamente próximas, sendo assim, a família Kalitch foi convidada para o imenso azar de Serena, que até preferia não ver todo o processo acontecendo.

Como uma boa filha obedeceu, se vestiu com as roupas mais chamativas que tinha, como era obrigatório, colocou seus anéis e pulseiras, argolas e colar. Todos os convidados precisavam esbanjar riqueza, era como mandava na cultura.

Ao caminharem até a pequena igreja do vilarejo, ao ver as portas abertas e a decoração no altar, as pernas de Serena fraquejaram e ela sentiu tontura por alguns minutos, seu corpo dava um jeito de colocar para fora a dor psicológica, já que a moça havia parado de chorar fazia tempo.

Por que minhas mãos memorizam cada parte de você?

Por que seus lábios se movem junto aos meus como eles fazem?

Pensei que eu era tão forte, mas você me provou o contrário

Nunca pensei que alguma vez me veria assim...

Tudo era muito farto, o altar com tapete vermelho, as decorações com flores coloridas ao extremo, era muito chamativo para mostrar que a família do noivo possuía dinheiro e que estavam dispostos a "pagar" caro por Flora.

A cerimônia se iniciou e a inquietação de Serena aumentou de nível, chegou a hora do noivo entrar e ela finalmente iria ver quem seria o felizardo que teria a honra de se casar com Flora, com a sua amada.
O homem surgiu na porta, fazendo o sangue da morena ferver em raiva e ela não conseguia parar de mover suas pernas freneticamente expulsando a ansiedade, ou talvez, aumentando-a. Ezequiel tinha olhos claros, verdes, o cabelo baixo liso e loiro, era branco e alto, usava um terno preto com detalhes em dourado que ficava justo em seu corpo, um corpo musculoso até.

Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora