Andarilho.

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Deixa eu te levar

Pra tomar um café

No meu mundo favorito

Onde o Sol

Beija nossa pele

Nas manhãs de tons azuis...

Serena abria a janela que dava para o quintal, ainda totalmente desnuda parou em frente a ela para contemplar a vista. Sentia o calor dos raios solares em sua pele, era bom, estava relaxada... Fechou seus olhos, ergueu os braços se espreguiçando e sorriu quando ouviu Flora se aproximar, então sentiu o corpo da ruiva, também nu, colar no seu por trás e os braços pálidos dela lhe envolveram em um abraço enquanto o seu nariz arribitado roçava no pescoço moreno sentindo o cheiro do perfume de flor de tangerina.

Os pelos castanhos se arrepiaram e a ruiva deixou um beijo carinhoso no ombro da sua amada, também fechou seus olhos curtindo o momento e a calmaria que era difícil de se ter... Obviamente a obtinha quando estava nos braços de Serena, mas por causa da história complicada do casal, onde se tinham muitas nuances em um sobe e desce contínuo, a paz que sentiam agora quase nunca acontecia.

E preferiram aproveitar disso, todo mundo merece um pouco de descanso.

— Amor. — Flora falou calmamente.

— Sou o seu, felizmente. — Serena respondeu em bom humor, a ruiva riu baixinho.

— Sim, você é. — Afirmou apertando mais o abraço e ouvindo o suspiro de alívio da sua amada. — Me diga como se sente. — Pediu. Estava se referindo a tudo, do físico ao psicólogico, era como se perguntasse se Serena sentia alguma dor ou se tinha se arrependido pela atitude que tomou horas atrás.

— Estou bem, meu doce. — Acalmou, realmente se sentia bem, ótima, o arrependimento não pairou em sua mente por nenhum segundo. — E você, como se sente? — Questionou um pouco nervosa sobre, ela sim tinha medo de Flora ter se arrependido, já que era tão apegada a coisas "corretas" e por causa da sua reação ao primeiro beijo das duas, tinha medo de que acontecesse novamente.

— Também estou bem. — Respondeu em naturalidade, com a voz mais rouca que o normal.

Seu interior estava uma confusão, mas não ia expôr para Serena, não se arrependia pelo que teriam feito, havia gostado muito de tudo. Porém estava indo contra a tudo aquilo que lhe foi ensinado desde criança, não tinha como não estar do jeito que estava, não tinha como não pensar sobre isso.

Zoraída havia sido uma mãe muito rígida, principalmente quando se tratava de religião, Flora havia crescido num ambiente tóxico onde só era aceito uma única opinião e todas as outras se configuravam como erradas, sendo assim, desde muito pequena, a ruiva só confiava em si mesma para ser quem realmente era.
Tentava se podar ao máximo, se comportava como era necessário, repetia as mesmas frases de adoração ao seu Deus, mas no seu íntimo, apenas ela sabia o que fazia, apenas ela sabia o que sentia e apenas ela lidava com a própria confusão.

Não ia negar, acreditava sim em um Deus, mas não compartilhava isso com sua amada porque achava que Serena não tinha crenças já que era totalmente livre e vivia a vida do jeito que queria, não se arrependendo de nada que teria feito de errado e proíbido.

A ruiva, na sua adolescência até então, passou a acreditar que tinha dois lados, o lado do pecado, onde ela sabia que desejava mulheres descaramente, onde sabia que não gostava de homens, onde deixava se levar pelas suas sensações corporais caindo na libertinagem, sozinha, no seu quarto, em silêncio, enquanto sua mente imaginava coisas impuras...
E ela tinha o lado aceitável, que era o da mulher doce e gentil, cuidadosa, que encantava a todos pela sua simpatia, que se portava com delicadeza.

Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora