Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)

Como você quiser, serei.

"Serena.

Achei que evitar você fosse a melhor opção, achei que você sairia da minha mente e do meu coração, mas claramente errei, tanto que escrevo essa carta agora.

Não vou mentir, eu joguei toda a culpa em você e ainda quis acreditar que a gente se beijou por causa do seu poder de persuasão, é irônico porque sei que não faria isso, como já não fez outra vez, mas acreditar nessa informação falsa fazia a culpa sair um pouco das minhas costas, porém ela caía inteiramente em você, fazendo de mim, uma pessoa egoísta e insensível.

Foi doloroso ver você tentando de todas as formas voltar a falar comigo, foi doloroso ignorar você, ouvir você me chamar com a voz trêmula e os olhos cheios de lágrimas, ouvir que perguntou por mim aos meus pais e que não deixou de tentar, mesmo eu pedindo com todas as letras para que você não me procurasse mais.

Seria ingenuidade minha acreditar que você abriria mão fácil assim, você é insistente e eu gosto disso.

Assim pude ter mais certeza dos seus sentimentos por mim.

Quanto mais eu tentava não pensar, quanto mais eu tentava me distrair, mais você vinha em minha mente, o tempo inteiro, eu via você em tudo. Meu coração se acelerava quando eu saía e meus olhos alcançavam você pelas janelas da sua casa ou procuravam você na porta conversando com alguém do lado de fora, eu ficava mais encantada vendo o seu sorriso lindo, ouvindo sua voz doce. E por mais que eu tentasse fugir e meu corpo, meus olhos faziam o que meu inconsciente queria, e eu ficava parada te namorando de longe.

Fiquei inativa, mal conseguia costurar ou fazer as coisas direito, foram inúmeras vezes em que me furei com minha agulha de costura... Toda vez em que fechava meus olhos era invadida pela sensação dos meus lábios tocando os seus, do seu cheiro, de como foi bom e de como eu queria repetir, repetir inúmeras vezes. E ai eu despertava assustada com os meus próprios pensamentos porque por mais que eu estivesse tentando fugir do que eu chamava de pecado, ele já estava em mim, ele já era meu e ele não vinha de você específicamente.

Eu resolvi aceitar, seja lá o que isso fosse.

Desde então eu só consigo imaginar ver você de novo, estar perto, poder te tocar de verdade sem toda a barreira que eu evitei por puro medo. Queria poder abraçá-la sem o temor dessa "impureza", queria poder retribuir o beijo na ponta do nariz que você me dá todas as vezes em que vai embora, queria poder beijá-la de novo curtindo cada segundo sem estar brigando internamente comigo mesma, por ter uma parte que queria continuar e ir além, e outra que gritava para que eu parasse imediatamente.

Agora eu continuaria, e seguiria, até quando você quisesse parar.

Eu me afastei não foi por medo de você, Serena, foi por medo das minhas atitudes, foi por medo de mim.

Existem lados meus que você nunca viu e que eu sempre tentei esconder, porque me assustam, e você aflora eles em níveis extremos... E isso é considerado um pecado em nossa religião, você sabe.

Então eu me sentia um ser abominável, porque as coisas iam se unindo de pouquinho em pouquinho, esse meu sentimento por você, esse meu desejo imenso e toda a vontade de fazer coisas impuras, de quebrar regras ao seu lado...

Eu me sentia como se estivesse queimando, e eu resolvi queimar, eu quero queimar com você.

Eu também sinto sua falta, Serena Kalitch, e mal posso esperar para vê-la novamente.

Como você quiser, serei, sua amiga ou sua amante.

Um beijo, igual ao nosso primeiro.

- Flora".