Escuro.
Tudo estava tão escuro, Serena sentia algum tecido abaixo do seu corpo, mas ele era fino demais fazendo com que a textura da superfície fosse mais identificável.
Era um tanto desconfortável, dura, não era lisa, algumas partes até lhe machucavam pois pareciam pedras potiagudas.
Seu corpo estava deitado, pois sentia ele em total contato com esse algo que parecia o chão, ventava, mas nada muito forte, porém sufiente para mover seus cabelos.Então teve a sensação de que precisava abrir os olhos, era isso, seus olhos estavam fechados e por esse motivo não enxergava absolutamente nada além do escuro.
As pálpebras se abriram dando a imagem para um céu inigualável com uma mistura de cores, sua visão parecia ter um filtro amarelado, mas era apenas a luz do sol que estava se pondo.
Piscou algumas vezes, para desembaçar tudo o que via, inalou profundamente o cheiro, era o cheiro de natureza e de um perfume, um perfume doce... Ela conhecia aquele cheiro, mas não ousou se mexer porque seu coração havia acelerado rápido demais.Tudo estava tão enevoado, nada era nítido o suficiente, mas ela tinha a certeza de tudo que estava ali e de onde estava, era o rio, o rio que ficava depois da plantação de trigo que inclusive conseguia ouvir o barulho deles se movendo e batendo uns nos outros.
É pouco dizer, que você é minha luz, meu céu, minha outra metade
É pouco dizer, que daria a vida por seu amor e ainda mais...
— Acordou dorminhoca. — A voz... Aquela voz fez Serena se levantar em um solavanco desesperada para verificar se era realmente ela quem estava ali.
— Flora? — Sua voz embargou imediatamente avisando um possível choro.
— E quem mais seria, meu amor? — A mulher se sentou, estava deitada ao lado da esposa, mas com um pouco de distância.
As orbes cor de mel analisaram ela dos pés a cabeça, os cabelos ruivos tinham ondas perfeitas e volumosas no mesmo cumprimento, na altura dos seios, usava um vestido solto e com alças finas, dedos lotados de anéis e duas argolas na orelha.
Lá estava ela, com a pele mais brilhosa e polvilhada, os olhos azuis claros refletindo a luz amarela do sol, os cílios curvados e as sobrancelhas também vermelhas, a boca ainda rosada, o nariz arribitado, e uma cicatriz, cicatriz no canto da cabeça, uma nova cicatriz... Flora parecia mais vívida, mais segura de si, tão mulher adulta e linda, tão encantadora.— Não chore, Serena. — Pediu comovida encarando a esposa que já deixava suas lágrimas escorrerem sem nenhum controle.
— Que saudade de você. — Foi a única coisa em que conseguiu expressar com sua voz trêmula.
— Saudade? — O cenho franziu e ela sorriu logo depois. — Eu sempre estive aqui, o tempo inteiro.
Estava sendo complicado para Serena conseguir expressar tudo o que sentia, tinha a respiração ofegante e um avalanche enchia seu peito e olhos, amor e lágrimas.
— Tome, são suas. — Empurrou o buquê de flores para a esposa, deixando-as no lençol para que ela pudesse pegar. — As flores que não consegui lhe entregar, as últimas flores. — Observou Serena pegá-las pelos caules e cheirá-las profundamente. — Jasmins, são Jasmins, colhi enquanto você estava dormindo.
— Elas são lindas. — Serena se deixava levar, só a presença da sua mulher lhe bastava naquele momento.
— Como você. — Elogiou genuinamente enquanto suas orbes azuis passearam no corpo da morena, curiosamente. — Eu sinto muito, amor.
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Cartas para Flora - Lésbico. (CONCLUÍDO)
Romance• Livro 2 da saga "Para Nos Eternizar". • Serena era uma cigana que encantava a todos com o seu poder de persuasão e seus olhos cor de mel. Sua beleza estonteante deixava qualquer homem completamente apaixonado, ofereciam dotes extremamente valiosos...