Capítulo 33 - Intensidade

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Ao ouvir Flávio, Palloma abaixou a cabeça. O amigo avistou uma lágrima escorrendo, discretamente. Vinha ao mundo com medo, insegurança, pavor. A mesma chegou ao fim de sua vida, quando tocou-lhe aos lábios de sua dona. Aproximou-se da amiga e se sentou ao seu lado.

- É hora de correr atrás do prejuízo, não?

- Ela não vai nem olhar na minha cara. Conheço ela. - sussurrou.

- Custa tentar?

- Custa.

- O que?

- Vou fazer papel de idiota! Já que ela não vai querer falar comigo.

- Você vai fazer papel de idiota, se ficar aí, parada, sem fazer nada.

- Não... Eu vou no hospital. - disse e levantou-se.

- Palloma! - chamou-a.

- O que, Flávio?! - virou-se, olhando-o.

- Você quer perder quem te faz bem, que supostamente, pelo que vejo, perder quem você gosta, por um orgulho besta? Assuma! Você errou! Todos erram, ela vai ter que entender.

- Ela não vai entender! Não vai! - gritou. Novas lágrimas apareciam em meio ao desespero.

- Calma, fica calma.

- Não dá pra ficar calma. - disse, em meio ao choro, quase inaudível.

Silêncio.

Flávio havia ido embora, a pedido de sua amiga. Agora, Palloma se encontrava, esparramada em sua cama, olhando para o teto. Pensava nela. Só nela.

Sentou-se, olhou para o espaço vazio que havia no outro lado da cama. Queria ela ali. Deseja ela ali. Precisava, dela, ali.

Sussurrou:

- O que ta acontecendo comigo, Deus?!

Amanhecia na cidade do Rio de Janeiro. A população inteira já acordara, uns iam trabalhar, outros estudar. E outros, até se divertir. Exceto ela.

Lá estava ela, sentada, agarrada em suas próprias pernas. Seus olhos piscavam com rapidez. Seu coração pulsava lentamente, respirava da mesma forma. Totalmente frágil. Vanessa.

Olhava para o nada que havia em seu quarto. Não tinha reparado que sua amiga ainda não tinha chegado. Não ligava para o mundo à fora, nem pro que tinha a fazer.

Estava completamente voltada para seu mundinho pequeno, que havia criado. Um mundo onde não exista amor, nem dor. Um mundo totalmente frio. Um mundo em que ela realmente queria estar. E que iria fazer de tudo, para habitá-lo.

Levantou-se e se dirigiu para a mesa que ficava no centro do quarto. Sentou-se. Procurou algum papel em branco e um lápis. Começou a escrever.

''As pessoas... Todo mundo tem sua hora. Todo mundo passa por isso. Todos sabemos que, algum dia, a vida irá fuder, com você. A vida, não. Digamos, que, as pessoas que as tem. Principalmente no amor. Ah, o amor! As vezes acho que não exista. ''Sofri por amor''. NÃO, ERRADO! Não sofreu por amor, o amor não existe. E se há alguém que irá dizer que ele existe: o amor não faz sofrer. Dizem, que o amor, é algo bom. O amor é algo que inventaram para fazer com o que o ser humano seja manipulado, seja frágil à favor de alguns. Quem inventou o sentimento? O sentimento, ele é uma merda.

Chegou o meu dia. Chegou o dia em que uma pessoa fudeu, comigo, com meu coração. Fez questão de despedaçá-lo, calmamente, transformando-o em cacos, grãos de areia. Em pouco tempo. Em um tempo muito curto.

Ah, essa pessoa! Essa pessoa é alguém que só ama a si mesma, e que tudo gira em torno do seu próprio ego. Ela está bem?

OH, PORRA! TUDO ESTÁ BEM, SE ELA ESTÁ BEM! EU NÃO SOFRO, ESTÁ TUDO BEM. OS OUTROS SOFREM? FODA-SE! O QUE IMPORTA PRA MIM, É A MINHA VIDA. O que importa pra mim, é alimentar meu ego. E meu desejo. Me satisfazer e acabou. É assim, nesse ciclo.''

Depois de ter escrito, leu, releu. Pensou. Deixou o papel no mesmo local e foi diretamente ao banho.

Logo após o banho, pegou seu celular e o ligou. Ainda estavam lá, as mensagens de texto dela. Vanessa não queria ler. Apagou-as.

Olhou-se no espelho e disse para si mesma:

- Isso, é pra você finalmente entender, que ninguém nesse mundo presta. E ninguém, importa-se com você, muito menos com o que você sente. Ouviu? - perguntou, olhando para seu reflexo.

Ah, a Palloma! Nesse momento, lá estava ela, dirigindo até o hospital, com o coração na mão. No som de seu carro, tocava a música Você Me Faz Tão Bem, do Detonautas. Dirigia lentamente, cantando baixinho a letra da música. Lembrando dela.

Uma lágrima ameaçou a surgir, porém ela não deixou ela vir. Piscou os olhos rapidamente e mudou a estação da rádio.

Seus olhos estavam com olheiras, a mesma estava com a aparência acabada. Estava exausta. Vanessa a impediu de dormir, habitando em seu pensamento.

Chegou ao hospital e logo foi a procura de seu pai. O encontrou, sentado em uma das cadeiras da recepção. Sentou-se ao lado.

- E aí?! - cumprimentou seu pai, com a cabeça baixa, olhando para o chão.

- O que aconteceu, filha? Parece cansada. Não dormiu? - perguntou, observando seu estado.

- Ah, pai... É só uns problemas, aí...

- Que problemas?

- Ah, pai...

- Fala.

- É que... Uma garota. Uma garota que eu tava ficando...

- O que foi? Ela conseguiu fazer minha filha amolecer? Foi isso? - perguntou, com um sorriso no rosto. Palloma sorriu sem graça.

- É... Basicamente. Mas é que, mesmo assim, eu consegui magoar ela. E eu to mal. - suspirou. - E também, tem esse caso aí, da mamãe e, juntando tudo, eu to ficando louca.

- Sua mãe ta bem, filha.

- Não posso ter certeza, até ela sair daqui.

- Ela vai sair daqui a três dias. Ela ta bem. Só vai fazer uns exames.

- Mas...

- Filha. Sua mãe ta bem. Mas seu coração, não. Por que não vai atrás dela?

- Ah, porra! Por que todo mundo fala isso? - perguntou a si mesma, olhando para o alto. O pai de Palloma, pegou sua mão, e fez ela olhá-lo.

- Sabe, quando você quer algo, você tem que ir atrás. E se você gosta dela, você tem que tentar. E viver, intensamente, cada momento da sua vida. Por mais que doa, você tem que fazer isso. Afinal, que graça tem, se a gente viver a vida sem emoção? Eu aprendi isso, quando vi meu pai morrer, na sua vida triste. E é por isso, que eu aproveito a minha vida, e a minha vida com a sua mãe. Porque com ela, eu sei que vou até o final. E eu quero que você seja assim. Quero que seja feliz, como eu sou! E se essa garota, te faz feliz, de alguma forma, vai atrás dela, agora!

- Pai...

- Não é um pedido, Palloma! É uma ordem. Vai!

Olhou para o pai. Pensou.

Um sorriso se abriu, e em breve segundos, Palloma corria em direção a seu carro. Sentou-se. Pensou.

- Bom... Ela deve ta no trabalho.

Ligou o carro e foi.

Chegando ao hospital, parou o carro no estacionamento exclusivo. Andava depressa até a recepção.

- Pois não?

- Eu queria falar com a Vanessa. Estagiária. - pausou. - Na verdade, eu não quero, eu preciso falar com ela.

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