Capítulo 01

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Azlynn

As minhas lágrimas molharam o meu travesseiro, não conseguia dormir. Eu tinha pesadelos horríveis e sempre acordava gritando de madrugada, estava vivendo um grande pesadelo.
Eu cresci presenciando fenômenos sobrenaturais, era normal em uma família de bruxas e nunca fiquei intimidada. Não tinha medo do mundo místico, ele poderia ser reconfortante em certas ocasiões… um refúgio para mim.
Eu me sentei na cama, a miopia me impossibilita de enxergar bem e no breu que estava o meu quarto era quase impossível me locomover sem cair de cara no chão. A minha ansiedade estava piorando, sentia uma sensação ruim nas costas… um peso estranho.

Ele ainda não foi encontrado!

O meu melhor amigo tinha uma alma aventureira, adorava praticar alpinismo e percorrer trilhas com sua inseparável bicicleta esportiva.
Ele estava desaparecido há quatro semanas. As buscas não param, a notícia do seu desaparecimento chegou na capital, jornalistas de várias emissoras estavam cobrindo o caso.
Uma angústia apertou meu peito e as lágrimas inundaram os meus olhos.

Por favor, esteja bem…

A minha família tentou um feitiço de localização, mas era como se ele nunca tivesse existido.
A dor no meu peito se intensificou…
Eu só queria a oportunidade de dizer o quanto te amava. O quanto a sua amizade transformou a minha vida.
Amei ele de uma maneira tão linda e verdadeira. Os meus sentimentos poderiam não ser correspondidos, não era recíproco e não me importava mais, queria a sua lealdade e valorizar uma amizade que atualmente era raridade encontrar.

Hátila, diga o meu nome…

Eu vou te encontrar!
O meu nome era conhecido pelos elementais, os espíritos que vivem na natureza me mostraram a sua localização.
Aquele angústia estava me sufocando.
Levantei da cama com cuidado para não tropeçar em alguma coisa e resultar num nariz amassado, liguei o meu abajur e corri para abrir a janela.
A brisa noturna fez alguns fios do meu cabelo chicotear, fechei meus olhos por alguns segundos.

― Hátila, volte para mim! ― Murmurei, sentindo as lágrimas escorrendo por minhas bochechas. ― Eu te amo muito, nunca vou deixar de te amar. ― Os soluços escapavam da minha garganta. ― Diga o meu nome… diga meu nome… diga meu nome, por favor, por favor… não esqueça… não esqueça nosso juramento!

― Azlynn.

O meu corpo ficou estático, abri a boca para pronunciar alguma palavra e o silêncio da noite me fez recuar. Eu prestei atenção no som da voz que o vento sussurrava.
E permiti que a minha intuição me guiasse, senti um zumbido forte no ouvido esquerdo que lembrava os sinos fortes da catedral da cidade.
Era um sinal de mau agouro!
Notícias ruins estavam prestes a chegar…
O zumbido ficou mais forte ao ponto de sentir uma dor insuportável no lado esquerdo da minha cabeça, me afastei da janela e aos tropeços caminhei até a cama.

― Azlynn, estou aqui. ― A voz sussurrou no exato momento que um inseto brilhoso adentrou pela janela.

A dor na minha cabeça foi diminuindo e estiquei o braço para alcançar meus óculos em cima da mesa de cabeceira.
Queria enxergar com clareza.
E quando coloquei meus óculos percebi que o inseto era uma belíssima mariposa dourada.
As mariposas têm uma ligação única com a morte, eram mensageiras do mundo espiritual. Elas sempre alertam quando um espírito ruim estava por perto ou quando a morte se aproxima de um ente querido.
Fiquei parada, observando a mariposa abrindo as asas cintilantes. Não queria aceitar o que ela significava, a tristeza e uma dor rompeu as minhas barreiras.
E meu grito ecoou pelo meu quarto, não poderia ser real.
O submundo poderia levar naquele instante.

― Azlynn. ― A sua voz doce e sempre amável me desfez. O meu choro eclodiu como uma avalanche descontrolada.

― NÃO… ― Cobri os meus ouvidos com as mãos. ― Não quero ouvir, por favor… não diga!

VANITAS - Memento mori Onde histórias criam vida. Descubra agora