VANITAS - Memento mori

Capítulo 24

Azlynn

Consegui secar os meus cachos com o difusor em tempo recorde e vesti um pijama simples para descer para o jantar. Quando passei em frente ao quarto do Vanitas, lutei contra minha curiosidade. 
Eu queria saber qual rumo estava seguindo a conversa deles, mas o Beanard precisava daquele tempo com o Vanitas. 
O Coven ficou eufórico com a chegada do Daren e com um Gardner legítimo pronto para começar a sua iniciação. As mudanças que vinham acontecendo dias após dias eram impactantes. E também havia um inimigo misterioso que estava atormentando as Bruxas de Walker. Era difícil manter as nossas emoções em perfeita ordem, principalmente manter uma conversa tranquila no Coven.
Os sinais de mau agouro ficaram mais fortes nos últimos dias. O pior era o gosto de sangue na minha boca, intensificando uma apreensão que castigava o meu peito. Eu não era uma bruxa sensitiva como as minhas tias, mas sentia que um acontecimento catastrófico se esgueirava na nossa direção como uma cobra traiçoeira pronta para atacar e nos envenenar, mas o Vanitas tornava tudo mais fácil de suportar. 
Um vinculum mútuo e a reciprocidade sentimental eram coisas às quais um imortal nunca deveria renunciar. O problema era a minha resignação aos comportamentos do meu coniugis. Vanitas nunca me procurava, as iniciativas sempre eram da minha parte. Ele preferia ficar isolado, fugindo da Dominique, evitando as perguntas da Monalisa ou afrontando a minha tia Lorna.
Vanitas não me procurava, nem mesmo para transar. Eu não queria migalhas, queria que ele me procurasse, que tivesse a iniciativa de entrar no meu quarto e me surpreender. 
E apesar de tudo, tínhamos uma sintonia incrível na hora do sexo. E nosso carinho encontrava certo equilíbrio quando estávamos naquele momento íntimo. Eu pretendia mudar um pouco a minha estratégia, não vou procurá-lo e vou ignorar a intensidade do nosso vinculum… bom, pelo menos vou tentar ignorar. 
A minha família já estava na mesa de jantar, mantendo uma conversa calorosa. O único que permanecia com o semblante fechado era o Daren. Era muito estranho presenciar aquela expressão dominando o seu rosto esculpido por um Deus Noturno. 
Daren tinha uma beleza que ofuscava o brilho das estrelas. E aquela fisionomia fechada não combinava com sua alegria contagiante, acho que a discussão entre o novo casal foi pesada.  
A orientação sexual do Bean não foi uma surpresa para mim. Hátila certa vez comentou que desconfiava que o irmão gostava de meninos, mas nunca cogitamos perguntar para ele ou invadir sua privacidade. Hátila sempre foi um irmão incrível, respeitava a individualidade do Bean. E seu amor era perdurável, completamente perfeito, a ponto de aceitar um “pacto” com um Demônio Celta para proteger o irmão mais novo.
E fiquei lisonjeada quando o Beanard falou abertamente sobre sua sexualidade para a minha família. 
Ele era um garoto pansexual…
Ele confiou em nós. 
E nunca me senti tão aliviada e feliz. 
Beanard estava aceitando o Coven, aprendendo a conviver com sete Bruxas, um Demônio e um Elfo. 
Não consegui evitar o sorriso ao perceber que o nosso Coven estava abandonando as tradições limitantes. Era extremamente raro encontrar seres de outras raças se associando a um Coven de Bruxas. 
Lobisomens lideram sua Alcateia e tem um Rei Dominante para controlar a selvageria dos Alfas. 
Vampiros vivem em Clãs e têm suas hierarquias.
Os Elfos têm seu próprio Continente e suas Cortes.
E cada ser místico segue suas tradições, culturas, regras e dificilmente se vinculam com outras raças. 
O Beanard e o Daren eram uma belíssima surpresa do Destino. E também tinha o meu vínculo com um Demônio. 

— Boa noite. — Falei com um sorriso, puxando uma cadeira para me sentar. 

— Boa noite. — A minha família respondeu em uníssono. 

— Vanitas e o Bean estão conversando, acho que vão demorar um pouco para participar do jantar. — Esclareci. 

— Ah, Monalisa disse que tem uma revelação agoniante sobre os Brasões de Rubi. — Domi comentou. — Ela estava esperando o Beanard para nos contar.