Beanard
Dor…
Ela continuava pressionando o meu peito.
Era incansável…
Eu não poderia mudar o que aconteceu.
A minha visão estava fraca, há três dias vinha definhando no quarto.
O Grimório Gardner ganhou um lugarzinho especial no fundo do closet.
E não conseguia ouvir as vozes.
Elas tentaram me convencer que a morte da minha mãe era necessária.
Os nossos ancestrais deveriam estar no mundo dos mortos e não presos em Grimórios. A minha vida mudou completamente quando subi naquele sótão.
A dor se intensificou…
Os meus olhos voltam a ficar inundados por lágrimas.
Era minha culpa…
Ela morreu na minha frente e não consegui ajudar.
Era minha culpa…
Quando tentava levantar da cama enxergava o sangue da minha mãe espalhado pelo chão e não tinha forças para continuar, eu sabia que era uma ilusão da minha cabeça e que meu psicológico estava em pedaços, mas continuava mergulhado na dor… o desespero consumindo a minha mente.
Era difícil respirar…
Eu não conseguia respirar…
Pelos Deuses.
A minha garganta começou a fechar e meus soluços eram dolorosos.
Eu não deveria estar aqui…
Não deveria…
Precisava acabar com aquele sofrimento.
Mãe, eu te amo muito.
Por favor, me perdoe.
Eu te amo…
Eu te amo…
Por favor, me perdoe por tudo.
Busquei fôlego e consegui levantar da cama.
O chão se tornou carmim.
Sangue por todo lugar…
Eu segui aos tropeços até a porta e abri lentamente. A casa da Azlynn estava silenciosa. Não tinha um sinal das mulheres que mentiram para mim.
O meu corpo tremia.
As minhas pernas mal conseguiam sustentar o meu peso e não sei como desci as escadas. Não tinha ninguém na sala principal, somente o barulho do relógio carrilhão marcando 01h da manhã. Eu continuei caminhando, saindo do Coven Walker e seguindo pelas ruas. Estava descalço, sentindo muito frio e também um bile subiu pela minha garganta, conhecia aquele trajeto e continuei sem medo dos Caçadores do Crucifixo de Sangue.
Eles poderiam me encontrar agora…
Poderiam me matar.
E queimar aquele Grimório Amaldiçoado.
O meu corpo parou em frente de uma casa… da minha antiga casa.
O lugar que cresci e vivi os melhores momentos ao lado da minha família.
Segui até a entrada.
Procurei a chave reserva no vaso da planta. E quando abri a porta recebi uma chuva de lembranças. Eu consegui ver meu pai sentado no sofá, a minha mãe reclamando de uma massa queimada e meu irmão descendo as escadas.
Cai de joelhos no chão.
E gritei, implorei para tudo que existia no universo para ser mentira.
Eu estava sozinho…
Fiquei sozinho…
Não havia mais ninguém!— Por que? — Esbravejei, esmurrando o chão. — A minha família era boa, nunca causamos mal a ninguém. É injusto… — Solucei. — Eles não mereciam… eu não merecia.
A dor começou a quebrar meu peito.
E não restava nada…
Busquei força para levantar e subi as escadas. Entrei no meu quarto e procurei um pijama no closet. Eu já tinha escolhido o meu destino. Tomei um banho demorado e aproveitei meus últimos momentos naquela casa.
Obrigado por tudo…
A minha felicidade foi imensa…
Pai…
Mãe…
Hátila…
Eu não consigo viver sem vocês.
Subi até o sótão, vasculhando as caixas até encontrar uma corda.— Uau, ele vai mesmo tentar se matar. — Uma voz alegre cantarolou. E meu corpo ficou inerte. Eu não estava sozinho. — Que interessante, o meu povo sempre falou das fraquezas dos mundanos, mas presenciar tamanha estupidez é genial.
Comecei a me virar lentamente.
O sótão tinha pouca iluminação, mas a luz do luar entrava pela janela redonda e tornava o ambiente mais visível. A adrenalina fez meu raciocínio ficar acelerado. E esqueci de tudo… esqueci da dor, das mortes e também do meu plano lamentável.
Droga, o Grimório Gardner ficou na casa da Azlynn. Não tinha como me defender e pular da janela me causaria alguns ferimentos e com certeza não me permitiriam fugir.
Engoli em seco.
Levantei o olhar e fiquei sem reação por alguns minutos.
Não… não poderia ser real.
Havia um garoto na minha frente. Ele tinha no máximo 20 anos, mas a sua aparência me deixou extremamente anestesiado. Ele tinha uma pele muito pálida e sem qualquer mancha, era quase reluzente. E pequenos chifres em espiral saiam do começo da sua testa. O cabelo tinha um tom de azul royal e batiam no ombro. Fiquei estudando aquele ser incrivelmente assustador e belíssimo. Ele deu o primeiro passo e me afastei imediatamente. O ser tentou outra aproximação, mas corri até a janela.
Fiquei calculando a distância…
Eu poderia pular, talvez não quebre uma perna. A minha musculatura era forte devido aos treinos de king boxing.
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VANITAS - Memento mori
FantasyMonster Romance - Conteúdo Fetichista - Cenas Hot - Mistério - Sobrenatural. "Um demônio em busca de vingança e uma bruxa capaz de ultrapassar grandes limites em nome do amor" A minha avó sempre me falou que meu destino estava ligado com a morte. E...