Capitulo 05

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Vanitas


"― Hátila, por que não podemos ter um cachorro? ― O garotinho choramingou, evitando as lágrimas na frente dos familiares.

― É seu aniversário, Bean. Não deveria ficar triste.

― O papai morreu, não podemos ter um cachorro e a nossa mãe está agindo normalmente. Ela preparou uma festa surpresa, mesmo sabendo que nosso pai… ― Beanard esfregou os olhos.

Hátila sorriu de uma maneira singela e fez um cafuné na cabeça do irmãozinho.

― Bean, não podemos mudar o passado. Infelizmente, pessoas que se foram não voltaram.

― É muito doloroso! ― O garotinho soluçou.

― Eu sei, mas ainda estou aqui e vou cuidar de você, sempre vou encontrar uma maneira para te proteger... ― Hatila sentou-se ao lado do irmão. ― E por pior que seja a situação pela qual uma pessoa está passando, a vida precisa continuar. Não podemos parar no tempo, Bean. ― Ele limpou as bochechas molhadas do irmão. ― Você é muito forte, tenho muito orgulho do homem que está se tornando, feliz aniversário."

As lembranças do espírito dourado chegavam em forma de sonhos. A iluminação do quarto queimava meus olhos, era um século novo e tudo ao meu redor me causava certo incômodo.
Eu me sentei na cama, percebi a presença de alguém no quarto. Esperei a minha visão se acostumar com a iluminação, a minha retina era mais equipada para ambientes sem luz e um cheiro familiar me fez relaxar.
O meu irmão do espírito dourado tinha um cheiro agradável, me fez esquecer da minha solidão.

― Você tem um cheiro de amanhecer. ― Diferente da jovem bruxa, ela trazia consigo o aroma da noite.

― É a coisa mais estranha que alguém já disse para mim! ― O garoto respondeu num tom rançoso. ― Eu dificilmente uso perfumes, somente antitranspirante masculino e gosto de tomar banho.

― Eu também gostava de me banhar nas fontes termais. Os Tylmyth-Teg tem fontes que enriquecem a beleza e tornam nossa aparência resplandecente.

― Não faço idade quem seja esses Tamitym. E quero explicações sobre…

― Os Tylmyth-Teg são "O povo Belo", foram grandes amigos do Rei Arthur. ― Sorri alegremente. ― Bons tempos, garoto!

― Jesus Cristo! ― Beanard balançou a cabeça, encarando-me de uma maneira estranha.

― Não, o profeta nunca foi um cavaleiro da Távola Redonda. E com certeza se tornou um farsante que modificou a história de Arthur.

― Você sabe em qual século estamos? ― Indagou, mantendo a mesma expressão.

Neguei com a cabeça e fiquei em silêncio.

― O Rei Arthur é uma lenda, ninguém consegue provar que ele existiu. A pequena evidência que encontraram foram resquícios de um grande palácio do século V, tudo indica que poderia ser o local onde o Rei Arthur nasceu. ― Beanard comentou, aproximando-se de mim. ― Estamos no século XXI, ano 2023.

Maldita, aquela divindade me destruiu… não tinha como recuperar 900 anos.

― Como é viver no século XXI?

― Você não tem o direito de fazer quaisquer perguntas. ― Bean protestou. ― Quero o meu irmão de volta, está usando um corpo que não te pertence.

― O seu irmão me autorizou, ele me garantiu que o seu corpo físico suportaria a minha magia. ― Expliquei, percebendo a semelhança entre eles. O garoto tinha cabelos negros e olhos cor de safira, a única diferença era a tonalidade da pele. Beanard não tinha a pele bronzeada pelo sol. ― Hátila está morto, ele caiu por vários metros e chocou-se contra uma rocha antes de encontrar o chão. A força do impacto causou uma morte rápida e ele não sofreu. ― Beanard empalideceu, mas continuou prestando atenção nas minhas palavras: ― A sua alma ficou vagando pela floresta, foi quando nos conhecemos. O seu irmão tinha um espírito forte e bondoso, ele acolheu as minhas sombras como grandes amigas.

VANITAS - Memento mori Onde histórias criam vida. Descubra agora