VANITAS - Memento mori

Capítulo 26

Azlynn

A minha pulsação acelerou quando o caçador subiu as escadas. Eu só conseguia pensar na minha priminha. E no desespero da Monalisa quando encontrasse um Brasão de Rubi. 
Aquilo não deveria estar acontecendo…
O meu corpo sobressaltou ao sentir um carinho no meu cabelo. Vanitas afastou uma mecha de cachos para trás, depositando um beijo sedutor no meu pescoço e senti um ronronar delicioso na minha mente. 

“Estou aqui”.

“Você está segura”.

Pela Mãe Lua… 
Aquela comunicação era mesmo possível?
E uma vibração quente relaxou os meus músculos rígidos pelo nervosismo. 
Os meus pensamentos se tornaram uma calmaria. 
Ele estava usando o vínculo novamente para diminuir o meu medo. Eu me agarrei naquela ligação deliciosa, desfrutando das sensações agradáveis que ele estava me proporcionando. Era glorioso entender a dimensão do nosso vínculo. Aproveitei a oportunidade para tentar transferir aquele sentimento mais vasto que as constelações do universo. O nosso vínculo era como um barbante maciço e poderoso, conseguia sentir a nossa magia fortalecendo aquele laço que costurava as nossas almas, desejos e corações. 
Eu estava disposta. E queria afugentar seus medos também, transferi aquelas sensações prazerosas que sentia quando ele me tocava… quando ele estava dentro de mim. E o resultado foi encantador, ele segurou no rosto e depositou um beijo carinhoso na minha testa. 
Eu não importei com os membros da Igreja ou com o Brasão de Rubi calculando os nossos movimentos.

— Eu sempre soube. — O Reverendo ganhou nossa atenção. — Hátila e a Azlynn são inseparáveis desde a infância. E se tornaram o comentário da cidade quando foram morar juntos na Capital. 

Vanitas ficou rígido ao meu lado. Aquele cuidado se apagou como um fogo. Ele prendeu seus olhos sombrios no Brasão de Rubi.

— Um casal adorável. — O Bispo falou com um desprezo notório. 

— Com toda certeza. — O Reverendo sorriu. — Acho que o seu filho mais novo adorou encontrar garotos da sua idade, Beanard é um garoto educado e muito inteligente.

O Bispo ignorou o comentário, observando cada uma de nós. 

— Quantas mulheres vivem nesta casa? — Quis saber. 

— Somos uma família tradicional, senhor. Estamos com uma visita adorável também, uma das minhas irmãs veio passar uma temporada conosco. — Evanna mentiu com naturalidade. — O verão em Walker é delicioso, ela não perde os festivais. 

— Vocês não estão com medo? — Bethia indagou, simulando uma apreensão. — Houve um assassinato no lago, uma criança foi morta e até o momento não encontraram o criminoso. Eu acho muito errado realizar o festival, a cidade está em luto. 

— Estamos aqui para ajudar. — O Bispo disparou, encarando a minha tia com desdém. — E vamos acolher os moradores de Walker. É no coração manso e humilde de Jesus que encontramos a cura para nossas dores e medos. O Senhor nos purifica dos terrores que nos assombram.

— Não vamos anunciar o Evangelho com palavras, mas com ações e humildade. Estamos visitando algumas famílias para fortalecer os moradores de Walker e mostrar que a justiça de Deus vai prevalecer e as trevas que estão assolando a nossa tranquila cidade será aniquilada.

— Eu não sabia que a igreja tinha soldados. — Vanitas debochou. 

O Bispo se virou, encarando cada detalhe do meu companheiro. 

— Os meus filhos…

— Eu também não sabia que um Bispo tinha permissão divina para trepar e gerar filhos.