Capitulo 04

419 79 16
                                    

Azlynn


Eu estava saindo do hospital, lutando para não desabar. A história do demônio não poderia ser mentira, cresci presenciando o amor do Hátila. Ele amava a vida, tudo que cercava a sua existência e aceitaria qualquer acordo sombrio para acalentar os seus entes queridos. As minhas emoções se alteravam a cada segundo, perdi um grande amor e descobri que sua morte foi planejada.
Vanitas, não era um demônio comum.
A minha avó me contou que algumas divindades deixaram de existir com o passar dos séculos, elas precisam das crenças, dos rituais dos mundanos para continuar se fortalecendo, quando o deus de Israel começou a converter os mundanos, muitos deuses sumiram e sua grandeza se tornou um simples borrão nos livros de história.
Vanitas, poderia ser um Deus da Calamidade. Eu precisava viajar para a capital, as bibliotecas da Universidade tem um grande arsenal da mitologia celta. E apesar de conhecer várias lendas, eu tinha a sensação de que encontraria algo nas lendas galesas.

"Nunca ignore a sua intuição, Lynn", era o que a minha mãe sempre me dizia. "O seu nome vem dos sonhos, permita que eles abrem os caminhos e mostrem a verdade".

Eu parei de andar, recordando do meu sonho na floresta. A cabana... será que ela tinha alguma ligação com o demônio? Pensei em dar meia volta e esclarecer as minhas dúvidas com o Vanitas, mas percebi o Beanard parado no estacionamento, bem próximo do meu carro.
Pobrezinho, ele sofreu muito nas últimas semanas. Eu me aproximei, pegando a chave do carro que estava na minha bolsa.

― Oi, lutador. A sua mãe já está no quarto e perguntou sobre você.

Beanard me observou por alguns segundos.

― Ele não é meu irmão, Azlynn. ― Bean assegurou sem qualquer dúvida. ― Eu ouvi uma parte da conversa, me desculpa por minha curiosidade, mas precisava saber a verdade.

Respirei fundo, era a ocasião certa para usar toda sabedoria que herdei das minhas ancestrais. Ele era um adolescente inteligente, já tinha passado por uma perda difícil e agora perdeu o irmão que tanto amava.

― O nome dele é Vanitas. ― Revelei. ― A ligação entre ele e o Hátila é uma trama articulada, eu pretendo descobrir mais detalhes e vou ajudá-lo no for necessário.

― Existe uma maneira de trazer o meu irmão de novo? ― Os seus olhos ficam inundados por lágrimas.

― Sinto muito, Bean. O mundo espiritual é muito complexo e tem sérias consequências. ― Invadir o mundo dos mortos e quebrar o véu que nos separa era perigoso. Eu não tinha a magia perniciosa de uma bruxa necromante e nem gostaria de ter.

― Você é uma inútil. ― Ele trovejou, passando o dorso da mão nos olhos para limpar as lágrimas. ― Agora entendo a escolha do Hátila, a Glenda sempre foi mais aventureira e não seguia as regras idiotas da família.

O garoto deu meia volta e correu para a entrada do hospital.
Quando eu era criança a minha avó me contou sobre uma maldição chamada "sancta mors", era destrutiva e perigosa. A maldição era absorvida pela vítima como um líquido, causando uma necrose horripilante. A pele derretia como um plástico numa fogueira, os músculos e os ossos ficavam expostos. A maldição aniquilava a vítima em poucas horas, uma das mortes mais tristes de presenciar no mundo místico.
Algumas doenças para os mundanos são curáveis, mas as maldições para seres como nós... podem se tornar o nosso fim.
As palavras do Bean foram como receber uma maldição dessa magnitude, elas me corroeram e terminaram de destroçar o que restava do meu coração.
Eu entrei no carro, ligando o motor.
As lágrimas foram a minha companhia no trajeto de volta para casa. Não deveria ter me apaixonado pelo Hátila, viver aqueles clichês românticos não faziam parte da minha natureza. As bruxas são ardilosas e costumam ultrapassar grandes limites em nome do amor, mas quando o Hátila começou um envolvimento com a Glenda, fiquei sem reação e não lutei por ele. Existe uma regra muito clara dentro da magia: toda ação gera uma reação.
Não poderia usar encantamentos para afastar a Glenda, tentar modificar o destino ou interferir no livre arbítrio de alguém poderia me trazer consequências terríveis. Eu me tornei uma espectadora patética e quando decidi me declarar era tarde demais.
Hátila não me escolheu...
E nossa amizade enfraqueceu muito nos últimos meses, menos meus sentimentos por ele.
Estacionei o carro em frente de casa, observando os meus olhos inchados e entristecidos pelo retrovisor interno.
Chegou a hora de enfrentar a interrogação da minha família.
Fiquei alguns minutos me preparando e admirando a fachada da nossa casa. Ela foi construída em 1706 por nossas ancestrais, tinha um estilo eduardiana e foi originalmente o coven das Bruxas Walker e a maioria foi executada na inquisição, moramos em uma cidade vizinha de Edimburgo, a capital foi uma das cidades da Europa que mais torturou e matou mulheres acusadas de bruxaria.
E somos as últimas bruxas do Coven Walker: As minhas primas Monalisa e Dominique.
Mona, tinha 19 anos
E Domi, apenas 16 anos.
As minhas tias, Lorna e Bethia.
A minha adorada mãe, Davina.
E nossa matriarca... Evanna.

VANITAS - Memento mori Onde histórias criam vida. Descubra agora