Capítulo 13

318 58 11
                                    

Azlynn

O meu corpo reagiu ao ouvir o som da sua voz. A conexão da nossa magia era muito forte, conseguia sentir a sua raiva e o desespero começou a estorcegar os meus músculos. Eu não conseguia respirar e minha garganta queimava como ácido. Sentia o sangue que corria em minhas veias pegando fogo, era uma sensação incomparável. Levantei a cabeça e olhei para o céu, os relâmpagos dançavam nas nuvens escuras. Os caçadores da Sociedade Laudatur eram os verdadeiros monstros, não tinha razões para sentir medo do meu próprio coniugi. A realidade criou garras ao redor da minha mente, aquele demônio estava destinado a ser meu. A força da nossa ligação fazia minha magia inflamar no meu peito. 

— Mãe… por favor. — Beanard murmurou, lutando para sair do meu colo, mas o seu tornozelo estava esmagado pela armadilha. 

O meu olhar ficou preso no corpo sem vida da Norris. Eu sabia que aquela morte me faria perder o Bean para sempre. A minha vontade era de gritar, expressar todo meu ódio e rancor. 
Pela Mãe Lua…
Eu queria todos os caçadores da Sociedade Laudatur mortos. 
A igreja já tinha nos tirado muito no passado e continuavam nos partindo em pedaços, mas ninguém vai queimar na fogueira nesta noite. 
O sangue jorrava do caçador que sofreu o ataque inesperado do demônio e não tinha palavras para descrever o cenário caótico que se tornou a floresta. Sombras circulavam as árvores e os trovões cantavam nos céus. Vanitas parecia um Deus do Caos, os espectros de sombras se aproximavam dos caçadores como uma piracema de mambas-negras.
Eu senti uma gota molhar o meu rosto. As nuvens choram como se reconhecesse que as mortes no passado já foram repletas de sofrimento. 

— Demônio de Satã voltará para o inferno. — Um caçador esbravejou. — Deus é portador de todo poder e todo conhecimento. Ele vai salvar…

— As divindades são seres insignificantes para mim. — Vanitas respondeu num tom ameaçador. — Eu sou um Demônio da Guerra e nunca vou seguir os propósitos de um Deus. 

— A Sociedade Laudatur vai purificar os seres humanos com a graça salvadora. Estamos aqui para convencer o mundo do pecado e destruir criaturas de Satanás. — Um novo grupo de caçadores surge na floresta. Vanitas continuou com sua postura e não ficou intimidado. — Seres das trevas nunca terão consciência da grandeza de Deus. 

— Por que um Deus com tamanha grandeza não destrói seus próprios inimigos? — Beanard vociferou. — Ele precisa de um grupo de adoradores doentes para fazer seu trabalho sujo. 

Vanitas não olhou para trás. A sua atenção permanecia nos caçadores que só esperavam uma ordem do líder.  

— Servo das trevas, vamos terminar o que começamos. A sua morte acontecerá nesta noite. — O caçador apontou a arma na direção do Bean. 

— Memento Mori. — Vanitas sussurrou como uma brisa noturna. E os espectros avançam, a cena foi impressionante. Os caçadores eram arremessados para longe e não conseguiam se aproximar do demônio. Beanard fez um esforço para sentar-se no chão, olhando a cena completamente em choque.

Eu jamais esquecerei os acontecimentos aterrorizantes desta noite. A morte da Norris não era justa, ela queria proteger os filhos de tamanha dor. 
Bean lutou para se aproximar do corpo da mãe. 

— A culpa é minha. — O desespero na sua voz fez aquela rachadura no meu peito ficar mais profunda. — Eu não deveria ter saído de casa. 

Uma revolta e um sentimento de impotência dominou a minha mente. 
Não era justo…
Segurei no meu pingente, observando as sombras que eram ligadas com o poder primordial do Vanitas. 
Os caçadores tentavam encontrar uma abertura para atacar o demônio, gritando as suas preces ilusórias.
Senti uma energia atingindo a mordida no meu ombro. A marca que o demônio havia feito há poucas horas, levei os meus dedos trêmulos para sentir o hematoma e as marcas dos dentes pontiagudos. A minha pele formigou e aquele vínculo se expandiu novamente, me convidando para uma dança sensual e prazerosa. Estremeci, aproveitando uma sensação imprópria para o momento caótico que estávamos vivendo. 
A minha magia transbordou, seguindo o poder arcaico do demônio.
Beanard falou alguma coisa, mas não conseguia identificar as suas palavras. 
Era somente a minha magia lutando para se conectar com aquele poder sombrio e admirável. Eu me agarrei naquele vínculo, aceitando a combinação da nossa essência. E senti um calor delicioso no meu peito, tornando a rachadura dolorosa mais suportável.
Lágrimas inundam meus olhos. 
Os meus pensamentos ficaram confusos, não consegui controlar as minhas emoções. 
Não fazia sentido…
Vanitas falou que a ligação só poderia ser concretizada com sexo.
O nosso poder se conectou como cordões elétricos, causando uma descarga de energia no meu corpo. Arfei, lutando contra aquela sensação vibrante e poderosa. 
As sombras dançam na minha direção, ignorando os inimigos que tentavam nos destruir.
Vanitas olhou para trás. O seu rosto estava pálido e as suas pupilas dilatadas. Ele exclamou um palavrão, desviando do golpe de um caçador. 
Eu sentia o nosso coração batendo em uníssono. Sentia aquele gosto delicioso de vinho envelhecido na minha boca e nossa magia crepitando ao meu redor. 
Um caçador tentou se aproximar, mas uma das sombras impediu o golpe. 
Sorri de uma maneira cruel… 
Desfrutei do poder primordial do meu coniugi. Fiquei em pé, observando os caçadores lutando contra o meu companheiro.
Vanitas era meu… 
E não existiam seres existentes neste mundo que machucaria o meu coniugi.
A sombra que me defendeu se aproximou, espreitando o meu corpo. 
Eu mudarei o rumo da história, e quem irá queimar nesta noite serão os caçadores da Sociedade Laudatur. As palavras eram como brasas na minha língua e não demorei para pronunciar o encantamento: 

Ignis umbrarum.

As sombras se tornaram fogo. 
Uma onda de calor e destruição. 
Elas avançaram nos caçadores.
E uivos de dor ecoavam na noite chuvosa. Eu me tornei o inferno que eles tanto temiam e aproveitei cada sofrimento… aproveitei os gritos de dor enquanto os seus corpos foram carbonizados na minha frente.

— Azlynn, está me ouvindo? — Ignorei o som daquela voz. O gosto amargo da vingança fez uma fumaça de puro ódio corroer meus pensamentos. As mortes que aconteceram naquele instante não eram suficientes. Os caçadores foram a distribuição das bruxas por séculos. 
Eles destruíram famílias…
Destruíram sonhos… 
Eles mataram os entes queridos e o futuro de vários mundanos e seres místicos. 
Eles já levaram uma parte da família quando mataram o companheiro da minha tia Bethia. 
As minhas primas cresceram sem a presença do pai. 
A fúria dominou completamente os meus sentidos. Eu me agarrei naquele poder arcaico do demônio. E senti as sombras responder de imediato.
Vanitas revelou que elas tinham a capacidade de devastar aldeias e exércitos de guerreiros. 
A Sociedade Laudatur irá queimar e conhecer o poder das filhas da Lua. 

— Já chega! — A voz dele fez meu corpo estremecer. Vanitas se aproximou determinado. E aquele cheiro delicioso de hortelã silvestre tranquilizou os meus pensamentos repletos de ódio. 
O demônio parou na minha frente e segurou no meu rosto. Senti um formigamento na pele e uma sensação de segurança. As minhas pálpebras ficaram pesadas. Vanitas observou cada detalhe do meu rosto de uma maneira intrigante. 
Ele estava muito perto…
O nosso vínculo se apoderou do meu âmago. O meu maior desejo naquele instante era aproveitar as suas experiências carnais. 
As bruxas de Walker não poderiam ter relações sexuais com demônios. A minha matriarca vai me exilar do Coven. Mas não fiquei com medo das consequências. Eu encontrei o meu coniugi e me senti completa com o seu poder. 

— Não invoque um poder que desconhece a grandiosidade, bruxinha. — As suas íris sobrenaturais brilharam. — É hora de dormir. — Vanitas afastou os cachos molhados que cobriam o meu ouvido para sussurrar: — Domina somniorum

VANITAS - Memento mori Onde histórias criam vida. Descubra agora