Capítulo 15

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Azlynn

O céu estava limpo, sem nenhuma nuvem de chuva. As bruxas de Walker permaneciam em silêncio, reunidas para a cerimônia. O meu coração pulsava num ritmo descontrolado, Beanard não compareceu para a despedida da mãe. Ele decidiu ficar no quarto, ainda não discutimos sobre os acontecimentos na floresta. E tinha várias interrogações castigando os meus pensamentos. Vanitas soltou um longo bocejo e espreguiçou o corpo. Eu percebi que era um gesto involuntário que ele fazia quando se sentia entediado. 
O corpo da Norris foi coberto por azaleias brancas e a minha tia colocou algumas moedas no caixão para pagar o barqueiro que conduzirá a sua alma até a Ilha dos Bem Aventurados. A Deusa Mãe estará esperando por Norris com todo carinho e amor. Ela merecia reencontrar o Hátila e também descansar em paz. 
Norris cumpriu a sua missão… 
Eu peguei um lírio e coloquei no caixão.

— Obrigada por tudo, minha adorada amiga. — Fiz uma pequena promessa: — Beanard nunca estará sozinho.

As minhas tias iniciaram os cânticos para uma passagem alegre e segura. As bruxas de Walker começam a dançar ao redor do caixão, rodando os seus vestidos e sorrindo. O rito de despedida foi lindo. Norris foi uma guardiã incrível e merecia aquela homenagem. 

— Bean precisa fazer um altar para a Norris. — A minha tia Lorna comentou, dançando com seu véu. — A sua passagem será mais exuberante com um altar. 

— Ele não quer participar da cerimônia. — Vanitas retorquiu num tom áspero. — O garoto presenciou o assassinato da própria mãe, não será fácil recuperar a seu equilíbrio de novo. Ele precisa de tempo e compreensão. Não quero um Coven intrometido disparando ordens, Beanard vai encontrar o próprio caminho. 
O meu rosto ficou quente. 
A minha tia parou de dançar e fuzilou o Vanitas com seu olhar. O orgulho da Lorna era terrível e odiava ser confrontada. Ela acreditava que um dia seria a sucessora da nossa matriarca.

— Demônio maldito, não pense que estará livre das regras do Coven de Walker. 

Vanitas exibiu um sorrisinho debochado e ignorou a minha tia. Lorna rangeu os dentes ao perceber a indiferença do demônio. Eu não poderia rir da situação naquele momento inadequado, mas presenciar o ego da minha tia ser massacrado foi satisfatório. 

— Estamos reunidos hoje em meia tristeza e alegria. — A nossa matriarca interrompeu as danças para finalizar a cerimônia. — Um capítulo se encerrou. A nossa querida amiga cumpriu a sua missão. E com o final da sua história, uma nova trama será escrita. — A minha avó me lançou um olhar significativo. A minha história não era mais a mesma, ela estava sendo reescrita pela Mãe Lua. A vida do Bean também mudou completamente. — Nós te invocamos, mãe da noite. A Deusa que os mundanos temem por falta de compreensão e conhecimento. Invocamos aquela que tem mil nomes, aquela traz consigo o poder das fases da Lua, acolhe a sua filha oculta que honrou seu nome com lealdade e amor. Hécate, nossa Rainha e Soberana, confiamos em ti. Receba a nossa irmã e amiga. 

— E com ela o nosso amor vai permanecer. — Dizemos em uníssono. 

O cemitério das bruxas de Walker ficava no bosque localizado nos fundos da nossa casa. Vanitas invocou o seu poder para carregar o caixão. Eu hesitei por alguns segundos, esperando qualquer sinal do Beanard. 

— Ele não vai comparecer, jovem bruxa. — Vanitas murmurou, observando com atenção o meu perfil. E por alguns segundos percebi certa compreensão no seu olhar. — A sua espera será desnecessária. 

Os meus olhos ficaram marejados. E não consegui controlar as minhas emoções. 

— Não quero perder o Bean. — Falei, sentindo o meu peito se contrair. 

VANITAS - Memento mori Onde histórias criam vida. Descubra agora