Encontro surpresa

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P.O.V. Allison.

Meu Deus do céu! David Grayson é um doido. Sabia que ele iria me levar para viajar para fora do país, mas eu não imaginava isso. Nada disso. Estamos numa pista de pouso particular frente a frente com um jato particular que tem uma tripulação á postos. Eu estou de calça jeans e camiseta carregando uma mala velha com algumas roupas e uma nécessaire com produtos de higiene pessoal.

-Você é doido.- Comentei olhando para ele.

David deu risada.

P.O.V. David.

Adorei ver a cara dela. Ela está de queixo caído, encarando o jato com total incredulidade, parece que consegui o que queria. Impressionei a dama. Tudo está indo de vento em popa, está dando mais trabalho do que eu esperava, mas eu nunca perdi uma aposta antes.

-Você é doido.- Disse Allison olhando para mim com um sorriso e os olhos brilhando. Essa ai está no papo.

Eu só ri. Essa é uma reação inesperada, mas de novo quando foi que Allison reagiu a alguma coisa do jeito como eu esperava ou da maneira como a maioria das garotas que conheço reagiria? Até onde sei nunca. Fiquei observando as reações dela e apesar de estar impressionada e deslumbrada, notei que parecia um tanto desconfortável. Quando a aeromoça ofereceu champanhe ela aceitou educada e timidamente, sua postura era diferente da comum. Allison estava sentada corretamente, com as costas no encosto da poltrona, mas suas mãos se entrelaçavam freneticamente enquanto ela olhava em volta.

-Eu tãao não pertenço ao seu mundo.- Disse a morena enquanto olhava em volta.

-Meu mundo? O que isso quer dizer exatamente?- Perguntei.

-Sabe a resposta. Essa coisa de jatos particulares, tripulação que serve champanhe, sair para passear ir num encontro noutro país só porque... dá na telha. Essa coisa de Príncipe Encantado e Cinderela? Só existe nos contos de fada, mas na vida real? Falar que as diferenças socioeconômicas não importam, não valem de nada é uma mentira deslavada. Garotos ricos se casam com as garotas ricas e garotas pobres com os garotos pobres. Estar aqui para você é algo absolutamente normal, pegar o seu jatinho e sair para passar uma tarde em Paris ou em outro lugar, mas para mim? É como estar num universo paralelo, num mundo totalmente diferente. Me sinto uma estranha no ninho. Totalmente deslocada. - Explicou Allison. 

Quando ela deu um gole no champanhe, imediatamente fez uma careta e engoliu meio que á contra gosto.

-Ai credo! Que troço amargo. E pensar que os ricos pagam verdadeiras fortunas por uma garrafa disso ai. - Disse deixando a taça de lado.

Eu ri. Ela é só... demasiadamente autêntica e honesta, por uma ironia é por isso que gosto dela. Allison tem umas tiradas, ela faz umas observações num tom... que torna tudo engraçado, o jeito que ela fala, como conta as coisas.

-Você daria uma ótima comediante.- Eu disse.

-Porque acha isso?- Ela questionou.

Expliquei o motivo e ela deu risada.

-Que bom que eu divirto você, mas eu sou a pessoa mais entediante do mundo. Sou uma criatura de hábitos á ponto de ser caxias. Sempre vou aos mesmos lugares, nos mesmos dias, nas mesmas horas, todo o dia. Vou aos mesmos restaurantes, peço sempre a mesma comida tanto mais tanto que as atendentes me conhecem e já sabem meus pedidos de cor. Não gosto de sair, nem de beber, nem de barulho, de boates... acho que já te falei tudo isso.- Ela respondeu.

-Não. Bom, não sobre a rotina e os restaurantes.- Falei.

O piloto anunciou que iriamos decolar e pediu para apertar os cintos. Depois da decolagem, Allison passou o resto da viagem olhando pela janela do avião, com o olhar perdido e cantando era como se ela estivesse num mundo só dela. Completamente alheia a tudo o que acontecia ao seu redor. Reparei na roupa dela, uma blusa roxa sobreposta por uma branca e cinza, jaqueta acinturada bege, calça jeans azul skinny e botas marrons de cano médio de nobuk com um salto médio, a coisa mais colorida na roupa dela era a echarpe azul. Tudo nela é simples, básico e acreditem ou não há beleza nisso e chama a atenção.

 Tudo nela é simples, básico e acreditem ou não há beleza nisso e chama a atenção

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P.O.V. Allison.

Eu não sei como reagir, como me comportar nesse lugar tão chique, me sinto totalmente deslocada e apesar de David e eu termos conversado um pouco rapidamente acabei me perdendo em devaneios e descendo pela toca do coelho que é a minha mente. Posso ver o oceano pacífico pela janela da aeronave, as nuvens também. É tão lindo e pacífico, sem problemas, sem preocupações, sem ninguém cobrando, exigindo, demandando de alguma forma é um alívio. De repente a música Fly da Hillary Duff começou a tocar na minha cabeça.

-Fly. Open up the part of you that wants to hide away...

Foi muito relaxante, calmante. Tanto que comecei até a sentir uma certa sonolência. É, deve ter sido o champanhe. Sou fraca para bebida e aquele negócio era amargo para burro deve ter afetado meu cérebro.

P.O.V. David.

Em vários momentos me senti tentado á interagir com ela, mas gosto de ouvi-la cantar, de observar as suas inexplicáveis e surpreendentes reações. Allison tem uma voz doce e dá para ver que ela canta para si mesma como uma forma de expressar o que está sentindo. Ela não é atirada muito menos oferecida, não fala muito ao contrário é tão introvertida que canta em voz alta e nem percebe, entretanto isso não a impede de ser atrevida e geniosa. É como uma Femme Fatale e uma donzela fundidas numa única pessoa. Ela é durona sem deixar de ser feminina, é como se ela fosse a Branca de Neve e a Rainha Má ao mesmo tempo.

-Você gosta de ler?- Perguntei.

E ela voltou suas atenções para mim.

-Eu não sei, depende. Sou muito crítica e o material de leitura varia dependendo do meu estado de espírito.- Comentou Allison.

-Sei que gosta de Edgar Allan Poe, o que mais você gosta de ler?- Questionei.

-Contos de Fadas versão original. Meu preferido é Branca de Neve e Os Sete Anões, existe outro um de Hans Christian Andreson que é muito pouco conhecido chamado The Shadow em português, A Sombra. E você?- Ela perguntou.

-Não leio muito. Acho muito chato. A Sombra? Eu nunca ouvi falar desse conto, é sobre o que?- Perguntei.

-Um homem cuja sombra ganha vida. É uma metáfora interessante, o conto é incrivelmente atual e a história é muito... interessante.- Comentou a minha namorada.

-É mesmo? Porque?- Questionei.

-Vai ter que ler para descobrir.- Respondeu a garota com um sorrisinho sacana na cara.

Depois de várias horas de voo finalmente o piloto anunciou a decida. Começamos a descer e notei que Allison ficou massageando as têmporas com a boca aberta. Acho que está sentindo a pressão no ouvido. Então pousamos e quando o sinal de desafivelar os cintos acendeu, ela foi a primeira a obedecer, desafivelou o cinto, se levantou, esticando os braços, mexendo as pernas, flexionando os joelhos.

-Ai minha bunda tá quadrada.- Ela disse.

-Então é melhor descermos.- Falei.

P.O.V. Allison.

Desembarcamos e assim que saímos do avião tinha um Bentley esperando por nós. O atendente de bordo estava tirando a minha mala do bagageiro do avião e corri para ajudá-lo, tiramos a mala do bagageiro juntos e eu o agradeci.

-Obrigado.- Agradeci.

-Não há de que senhorita.- Respondeu o homem de uniforme.

O motorista então pegou as malas e colocou no porta-malas, agradeci-o, cumprimentei-o, nós entramos no carro e notei que David nem ao menos se dignou a dar boa tarde ao pobre homem. Então David ordenou ao motorista que nos levasse ao Lifestyles Suites, soa chique nunca nem ouvi falar. E conforme o carro se movia pelas ruas percebi que...

-Estamos em Roma!- Exclamei.

Meu Mauricinho InsuportávelOnde histórias criam vida. Descubra agora