Aqui se faz, Aqui se paga

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P.O.V. Michael.

Se Victória estivesse viva sem dúvida alguma ficaria muito decepcionada comigo. Sim, eu consegui convencer Allison a voltar para casa entretanto pelo o que parece ela decidiu voltar única e simplesmente para se vingar de mim. Sempre que eu a convido para alguma coisa, Allison diz que tem um compromisso ou algo urgente e super importante e pelo tom de sua voz ela deixa abundantemente claro que está fazendo aquilo de propósito. 

Bati á porta do quarto dela e ela me mandou entrar. Assim que me viu fechou a cara, cruzou os braços.

-Então, vai ser assim de agora em diante?- Perguntei.

-Assim como?- Perguntou irritada.

-Eu não sou burro, você planejou isso não foi? Planejou voltar aqui só para se vingar de mim.- Comentei.

-Foi. Cansei de ser boazinha, uma coisa que eu aprendi á duras penas é que... o ser humano não aprende nada á menos que seja na dor. Você não sabe o que é ser abandonado, ser sempre a que sobra. O que foi que achou? Que podia fazer o que quisesse comigo, me largar e que eu iria ficar eternamente aqui esperando o dia em que você decidisse me dar dois minutos de atenção? Que eu seria a sua boneca? Bom, achou errado. Aqui se faz, aqui se paga Michael. Me diga, da última vez quando prometi que iríamos almoçar juntos na sexta e mandei uma mensagem de texto cancelando no último minuto porque eu tinha "outro compromisso" como aquilo fez você se sentir?- Perguntou Allison.

Só então eu entendi. 

-Você fez de propósito. Queria que eu sentisse o que você sentiu quando eu cancelei nossos almoços.- Constatei.

-Bingo. Quer saber qual era o meu compromisso? Nenhum. Eu fiquei aqui no meu quarto lendo Orgulho e Preconceito. Eu meio que pensei em voltar atrás, me senti culpada por te dar o cano, mas o único jeito de você aprender era sentindo na pele. Nunca ser a prioridade da pessoa que alega te amar mais do que tudo... dói não é? Você se sente uma merda. E agora que sabe como é estar do outro lado, talvez deixe de ser tão... narcisista e babaca. Já disse e repito, não sou árvore pra ficar plantada esperando.- Disse a minha filha.

Então ela começou a chorar, era um choro sofrido de dor. Eu fui até ela e a abracei.

-Sinto muito querida. Estou fazendo o meu melhor.- Falei.

-Eu sei, mas precisa saber que... quando tudo for dito e feito, os motivos pelos quais você não apareceu não vão importar, tudo o que importa é que você não estava lá. Que havia alguma outra coisa, outra pessoa, algo que você escolheu ao invés de mim. E não sou exigente e sei que você tem que trabalhar para viver e ganhar dinheiro. Conheço a importância disso, mas podia me escolher de vez em quando. Só pra variar um pouco. Podíamos conversar de vez em quando.- Disse a minha filha.

Então conversamos. E Allison perguntou de novo sobre Victória, pediu para ir visitar o túmulo da mãe dela e eu não pude negar. Ela disse que iria se trocar para irmos ao cemitério visitar o túmulo de Victória.

P.O.V. Allison.

Essa é a primeira vez que vou ver a minha mãe. Mesmo que seja só o túmulo dela, eu quero estar bonita então tomei banho, arrumei o cabelo, vesti uma das novas roupas caras que o meu pai me comprou.  Blusa, lenço, calças e scarpin pretos de salto alto. Um sobretudo vermelho com botões dourados, luvas de couro pretas. Amarrei a parte da frente do cabelo para cima e fiz uma maquiagem básica rímel e batom vermelho para combinar com o sobretudo.

Então entramos no carro e o motorista nos levou primeiro á floricultura onde eu comprei duas rosas vermelhas com meu próprio dinheiro e depois fomos até o cemitério e pela primeira vez fiquei frente a frente com a minha mãe

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Então entramos no carro e o motorista nos levou primeiro á floricultura onde eu comprei duas rosas vermelhas com meu próprio dinheiro e depois fomos até o cemitério e pela primeira vez fiquei frente a frente com a minha mãe. Ou com o que sobrou dela. Na lápide de mármore estava escrito: "Victória Clark amada esposa e mãe. 1966- 2021."  Também havia uma foto dela, uma pequena.

-Oi mamãe. Desculpe por ter te feito esperar. Te trouxe rosas, soube que são suas favoritas.- Eu disse colocando as rosas sob o túmulo.

E logo em seguida desabei a chorar eu nunca vou conhecê-la, abraçá-la e dizer que a amo e nunca vou ouvi-la dizer que me ama. E dói sabe.

-Mesmo que... isso não tenha sido o que eu imaginei quando sonhei em conhecer a senhora, estou feliz de ter conhecido. Eu sinto muito mãe, por ter sido uma decepção tão grande para você. É meio doido, mas mesmo eu nunca tendo te conhecido, te visto ou ouvido a sua voz... mesmo que não me lembre da senhora eu ainda te amo. Teria adorado ter te conhecido e sinto muito que tenha sofrido tanto. Espero que esteja em paz.- Eu disse.

P.O.V. Michael.

Ouvir a minha filha dizer que era uma decepção... doeu na minha alma.

-Você não é uma decepção nem para a sua mãe nem pra mim.- Falei.

-É gentileza sua dizer isso. Não precisa mentir para mim, eu agradeceria se não o fizesse. Você quer a sua filha Sophia de volta, mas essa pessoa ela nunca existiu. Não pense que eu não me pergunto que tipo de pessoa eu poderia ter sido se tivesse sido criada por vocês. Eu acho que eu teria gostado de ter sido sua filha, mas outro caminho foi escolhido para mim. E tenho sido pelos últimos vinte e cinco anos sido filha de ninguém. Paranoica, vingativa, solitária... quebrada. Por favor, saiba que eu não te culpo, você não é mais culpado ou responsável do que eu sou. Acho que foi melhor assim, imaginar uma versão patricinha, mimada, narcisista e cretina de mim faz eu querer me dar um tiro.- Disse Allison.

-Então você está namorando o filho do Christian?- Perguntei.

-É.- Respondeu a minha filha.

-Achei que o odiasse.- Comentei.

-Algo que você ainda não aprendeu é que a linha entre o amor e ódio, entre aquilo que nos trás dor e o que nos sustenta é muito mais fina do que se imagina. Você não pode odiar alguém com quem não se importa. Você só odeia alguém com quem se importa, talvez alguém que amou um dia. Amor pode virar ódio, sabe? Não se engane, eu já aprendi a muito tempo que família é mais do que apenas sangue. Família não é determinada pelo sangue, mas por quem você luta e por quem luta por você.- Disse a minha filha.

É, ela não é mais uma garotinha. Já é uma mulher, uma mulher inteligente, independente, madura e sábia.

-Você não é uma decepção para mim ao contrário, me orgulho muito da mulher que se tornou. Sua mãe também se orgulharia sei disso.- Eu disse.

-Então... trégua?- Perguntou Allison me oferecendo a mão.

-Trégua.- Disse apertando a mão dela.

-Eu te amo pai e tudo o que quero é que me ame de volta. Um lar, uma família é tudo o que eu quero. Não me negue isso. Seja honesto comigo é tudo o que eu peço.- Allison pediu.

E eu a abracei. Disse que a amava e era a mais pura verdade. Então nós fomos para casa e passamos o resto do dia juntos vendo o meu álbum de casamento, por causa dela eu me lembrei de todos os momentos felizes que passei com a minha esposa e fiz algo que não fazia á muito tempo. Rir. Rir de verdade.

No dia seguinte...

P.O.V. Allison.

Eu acordei com alguém me beijando, podia sentir os beijos sendo distribuídos pelo meu rosto, na minha bochecha, na minha testa e até na minha boca. Então meus olhos se abriram para encontrar o mais lindo par de olhos azuis e fiquei com vergonha por ele me ver assim tão desarrumada. Olha, se eu soubesse o que aconteceria jamais teria levantado da cama.

Meu Mauricinho InsuportávelOnde histórias criam vida. Descubra agora