Faz calor, um calor tórrido, seco, onde esta o frio de agorinha?
Lá fora um grilo grita a sua despreocupação e tudo é calmo e tranquilo dentro dessa casa. Parece que tudo está fechado e protegido por uma redoma de vidro finíssimo e o calor torna os movimentos ainda mais pesados; (será esse mais um tipo de magia da Clara - pensei) mas não há calma dentro de mim (quero beijo, quero abraço, quero mãe, quero pai, quero meus amigos, quero minha liberdade, quero minha vida, quero minha amada...). É como se um rato estivesse roendo a minha alma, e de uma maneira tão imperceptível que até parece suave e agradável.
Não estou mal e também não estou bem, a coisa preocupante é que "não estou", eu não estou nada, nem ruim nem bom, nem doce nem azedo, nem insosso nem salgado...
Mas sei me reencontrar: basta levantar os olhos e cruzá-los com o olhar refletido no velho espelho que agora estava na minha frente para que uma calma e uma felicidade tranquila tomem conta de mim... É, as vezes, isso dava certo mais agora não esta dando.
De frente a janela, estou olhando para fora vejo a lua...
A única coisa que me faz ficar bem é aquela imagem que contemplo e amo ao me lembrar da minha amada Amanda naquela noite tranquila por um momento na praça: todo o resto é ficção.
São falsos, os meus pais (Senhor Antonio e Dona Rosa), me enganaram desde cedo, deveriam me contar que não sou filho deles.
Como ainda consigo me preocupar com eles (mentirosos), pergunto a mim mesmo. Mentiras nascidas do acaso e crescidas na mediocridade, tão pouco intensas (mentiras)...
Mesmo me sentindo amado por minha mãe (falsa mãe só para constar) agora sinto que tudo não passava de uma grande mentira, não posso evitar.
São falsos os beijos que timidamente ganhei dos meus avós, tios, primos; falsos os abraços de meus pais, da minha família...
É falsa aquela casa, tão pouco parecida com o estado de espírito de que tenho agora.
Sou um Mago. Não fui abandonado, fui perdido no tempo, por uma mãe desesperada para me vê livre, e agora estou aqui "preso"...
Queria que de repente todos os quadros saltassem das paredes, que pelas janelas entrassem um frio gélido e congelante (a névoa) queria ouvir os ganidos de cães no lugar dos cantos dos grilos.
Quero amor. Quero ódio.
Quero sentir o coração da Amanda batendo junto ao meu; se derretendo e quero ver cada camada que sou se quebrando e afundando no rio que agora existe fora desta casa que não é minha...
Não vou negar que amei aquela família, que ainda amo, que me preocupo com eles, que sinto muito, de verdade estou sentindo um grande vazio em meu peito, chega a sufocar.
Quero falar com o Seu Antonio, Abraçar a Dona Rosa, sentir o cheiro do bolo de cenoura que a Dona Susana estava preparando para mim antes disso tudo...
Quero brigar com a Criss!
Quero os meus falsos avós também...
Barulheira de caminhões passando na rua. Risadas que enchem esse sufocante ar de inverno. As noves estão no quarto ao lado com Clara. E eu estou aqui neste quartinho, que na verdade é bem confortável, ainda estou em Neum - Bósnia. Sinto saudades do meu Brasil, da minha cidade, minha Fortaleza (Ceará).
Imagino os olhos dos jovens da minha idade antes de saírem de casa: acesos, vivos, ansiosos por uma noitada divertida, bebedeira e gritaria.
Quando vão passar a noite pela primeira vez com uma garota, quando vai acontecer a primeira vez deles, agora é como se tudo isso não fosse real para mim, tudo que aconteceu outrora comigo estava se apagando, minha familia, meus amigos, eles estão se perdendo de mim...
Imagino esses jovens cantando acompanhando um violão em um bar de uma esquina qualquer. Um casal vai se afastar neste mesmo bar, lá para o fundo, onde a escuridão cobre tudo, e sussurrar palavras infinitas no ouvido um do outro, palavras doces e penetrantes.
Eles vão viver e saberão como cuidar da própria vida.
Ok, tudo bem, eu também respiro, biologicamente está tudo certo comigo... Não tenho minha Amanda aqui comigo e imagina - la sofrendo a minha falta faz doer aqui no meu peito outra vez.
Mais eu não sou mais eu mesmo e é como se eu já soubesse disso faz tempo! EU JÁ SABIA.
Mas tenho medo.
O que será que o futuro esta guardando pra mim?
Tenho medo de sair daqui de dentro e encontrar olhares desconhecidos, as noves agora são conhecidas, mais nunca falei com elas, apenas um dia não era uma vida, sinto falta dos meus amigos de uma vida...
Eu sei, vivo em conflito permanente comigo mesmo:
a) tem dias em que estar no meio dos outros me ajuda, e sinto uma irresistível necessidade disso. Tanto que tenho melhores amigos que são meus irmãos e eles como já falei anteriormente são: Allan, Carlos, Rodrigo e Léo (minha guange).
b) Em outros, me deito de barriga pra cima e penso... Talvez até coloque algum CD, quase sempre música clássica ou aqueles sons da natureza os que sempre coloco são de chuva. Sinto-me bem com a cumplicidade da música e não preciso de mais nada. Gosto muito de música, gosto muito de chuva, sempre gostei.
Mas essa barulheira está me atormentando, sei que nessa noite alguém está vivendo mais do que eu. E eu vou ficar dentro desse quarto ouvindo o som da vida, vou escutá - lo até que o sono me abrace. O Alex ainda não chegou desde a hora que ele saiu ou poderia falar O MEU PAI?...
Não consigo parar de imaginar como esta a minha família nesse momento. Será que estão procurando por mim?
Afinal toda aquela preocupação da minha mãe / Dona Rosa era só de mentira, só farsa...
Estou vivendo um tormento desde a hora que esse homem me falou que ele era meu pai (meu pai sempre foi o Senhor Antonio e eu sempre tive orgulho disso) e se ele estiver mentindo! Mais ele não pode esta mentindo, eu já fiz cada coisa mesmo sem entender esses poderes, só pode é ser verdade!...
Ele chegou! Meu pai.
***por motivos de força maior mudei a história para Fortaleza - Ceará***
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A Névoa
Short StoryUm destino que mudou por uma escolha. Uma vida que se transformou para sempre. Uma história que nasceu de um amor impossível. E assim você vai conhecer quem é A Névoa. De princípio nos dias de hoje e depois antes disso... Boa leitura! ____________...