Cap. XXVII - Sem acordo

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Saint Germain, França (2006), momento exato em que Nathan tocou o albino artefato do tempo. Como um carro desenfreado em alta velocidade, fora de controle, o artefato tomou as rédeas dos ponteiros do mundo. Esta é a regra de ouro dos cinco artefatos históricos.

Alí estava Lótus recostada em uma coluna alta e branca na capela abandonada daquela região. Mesmo do outro lado do continente ela sentiu aquele poder, o poder de Nathan retrocedendo o tempo, desconfigurando as horas e até mesmo as épocas.

Estados inteiros sumiram dos mapas, voltaram até não existirem mais, cidades evoluíram tão rápido quanto os velhos reclamam de suas dores. A Bélgica voltou tanto no tempo que os carros deixaram de existir, a iluminação voltou a ser por pequenas velas nas vielas da cidade, carroças e longos vestidos sinos voltaram a ser a beleza da atual época.

Lótus, com seu rosto coberto por seu chapéu pontudo e roxo, sorriu com o canto da boca. O poder não durou mais que dez segundos, mas foi tempo o suficiente para sentir a direção de onde emanava as fagulhas daquela magia tão conhecida.

--- Achei você. --- Disse ela abrindo seus olhos fundos e escuros.

•••

Toronto, Canadá (2016), o justo momento em que Nathan toca o artefato pela segunda vez. Não era difícil sentir o poder, mas dessa vez parecia estar abafado por algum tipo de poder que se igualava ao artefato do tempo.

Lótus, sempre recuada da cidade, não costumava pisar no chão e sempre estava levitando. Sua vontade era absoluta, seu maior anseio era encontrar o dono daquele atual poder temporal. E assim se limitou a seguir a direção suldoeste da Província de Alberta, ainda no Canadá. Aos poucos ela ia se aproximando de Banff, onde estava seu alvo e, mesmo se passasse mais dez anos, ela o encontraria, essa era a decisão que a mantinha viva.

No dia seguinte ela chegou a Banff com suas doninhas demoníacas, subiu no pico de uma montanha. No terceiro dia, ainda na montanha, seus olhos negros estreitavam-se olhando a imensidão daquela floresta. Alí naquele meio, escondido por algum feitiço, estava Nathan e seu glorioso artefato, a única bússola de Lótus.

A dama, de cabelos trançados com a tonalidade ruiva já desbotada pelo tempo, deixava uma trilha de flores por onde passava. Um poder inconsciente que esvaía por baixo do seu longo vestido negro, dessas mesmas flores, saíram três mulheres, as pétalas saiam a voar e formar seus corpos.

As três mulheres bateram o pé direto no chão e ergueram, juntas, as mãos. Sumiram em forma de raio, as quais apareceram na frente de Thomas. Lótus via tudo através dos olhos das três moças, que não diziam uma única palavra.

Não viam nada além de um homem de meia idade, cansado e com um semblante sério, o pai de Nathan que acabara de esconder seu filho na caminhonete. Thomas erguendo a mão, faz descer as nuvens de tempestade que se formou no céu, enquanto as moças de traços mortos dançavam com os raios que envolviam a montanha.

Alí lutaram, Thomas já de meia idade tinha dificuldade para se mover, enquanto as três mantinham o vigor da juventude, se assim poderia dizer, já que seus corpos já não tinham vida alguma. Mas não sentindo mais a presença de Nathan, as três somem e voltam à sua conjuradora.

Lótus sabia dos acontecimentos que Nathan ainda iria fazer, como uma bruxa enxergando através de uma bola de cristal. E assim foi, até ela sentir novamente o poder do artefato e persegui-lo novamente.

•••

Lótus carregava a séculos os rostos de todos que ainda iriam se encontrar com Nathan.

No trajeto Banff a São Francisco, estava Albert, trilhando para a cidade cercado de árvores e frio. Lótus não teve dificuldade em encontrá-lo com suas doninhas, seu plano, na pressa de ter sua tão aguardada vingança, era matar Nathan e Albert antes mesmo de irem tão longe no passado e quebrarem seu coração.

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