Capítulo 10

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O impacto que a água congelada provocou no corpo de Nunew foi terrível e assustador. Ele debateu-se e gritou antes que a água gelada lhe cobrisse a boca.

— Socorro! Zee me ajude!

O lago não parecia raso. Ele afundou, bateu os pés e lutou para voltar à superfície.
Agarrou-se à borda do buraco que se abriu com a queda. Sabia nadar, mas o peso do casaco molhado e as botas dificultava os movimentos.

Queria raciocinar, mas não havia tempo para rezar nem sequer para pensar com coerência. O pânico tomou conta dos seus sentidos. Quanto mais lutava para se segurar, mais o gelo se partia e, de repente, o buraco tornara-se grande demais.
Nunew nunca sentiu tanto frio e medo em toda sua vida. A friagem penetrava em sua  pele, misturava-se ao sangue, ia congelando todos os ossos até atingir a medula.

Zee ouviu os gritos. Gritos desesperados. A claridade era mínima, e, apesar do cenário cinzento, ele conseguiu seguir as marcas que Nunew  deixou na neve. Ao notar que as pegadas levavam ao lago, ele parou e olhou com atenção ao redor. Não viu nada até ele emergir e gritar novamente. Ele se voltou rapidamente na direção do som e viu o buraco na camada de gelo que cobria o lago. Assustou-se ao ver que Nunew estava com água até o pescoço.

— Nunew! Já o vi! — ele gritou. — Fique calmo, tente não entrar em pânico. — Era
difícil, ele sabia, mas era necessário animá-lo.
— Zee! — ele exclamou debilmente em tom de alívio e esperança.
—Sim, sou eu, Nunew.. Procure ficar calmo, estou aqui para te ajudar. Você consegue se levantar?
— Não.
— E nadar?
— Também não. Meu casaco está pesado demais.
— Tire-o! — ele ordenou.

A mente de Zee trabalhava freneticamente. Se a camada de gelo não suportar o peso de Nunew, dificilmente suportaria o dele. Precisava pensar em uma maneira de tirá-lo logo da água, antes que fosse tarde demais.

Lembrou-se de ter visto uma escada de madeira na garagem. Havia uma corda em seu carro, ele nunca saía de casa sem a corda. Não havia alternativa. Nunew poderia afogar-se ou morrer de hipotermia. O risco era duplo.

Decidiu tentar resgatá-lo com a corda e a escada. Se não conseguisse, então, entraria na água para pegá-lo. Esperava ter sucesso na primeira tentativa. Era importante não molhar suas roupas, pois tinha que se manter aquecido para enfrentar a longa noite que teriam pela frente.
Concentrou-se inteiramente em Nunew. Não havia tempo a perder. Cada minuto era precioso demais para ser desperdiçado.
— Tire o casaco! — ele ordenou pela segunda vez.

As mãos dele estavam duras e Nunew atrapalhou-se com os botões.
— Impossível!

A água encobriu-o novamente enquanto ele tentava desabotoar o casaco.
— Não consigo mexer os dedos!
— Mantenha a cabeça fora da água, Nunew. Concentre-se nos botões.
— Não consigo... — ele repetiu.

Se ele não se livrasse do casaco, poderia morrer, mas Zee não queria assustá-lo ainda mais.
— Arranque os botões!

Por fim, milagrosamente, ele tirou o casaco encharcado, que afundou por conta do próprio peso. Nunew sentiu muito mais frio sem o casaco, mas pelo menos, conseguia mover os braços e as pernas.
— Vou buscar uma corda no carro. Continue boiando a qualquer custo e tente não se debater e nem quebrar mais gelo! É só um minuto!

Zee correu para a casa. Na garagem, tirou o casaco. Depois, pegou a escada que estava encostada na parede e levou-a para fora.
Pegou a corda, amarrou-a na escada e voltou ao lago.
À medida que se aproximava do local, ia gritando palavras de encorajamento para Nunew. Não obteve resposta e seu coração começou a bater mais forte. Já escurecera completamente. Ele apertou os olhos para localizar o buraco no gelo e não viu nada!
— Nunew! Nunew! — gritou. — Está me ouvindo?
Passado um segundo de silêncio e aflição, ele ouviu um gemido débil, quase inaudível, mas o suficiente para indicar que ele ainda estava vivo!
— Aguente firme, querido! Estou indo! Você é muito corajoso. Vou tirá-lo daí em um minuto.

Aquela NoiteOnde histórias criam vida. Descubra agora