Capítulo 15

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Estranhamente, a preocupação com Hunter evaporou-se logo em sua mente. No lugar dele, surgiu a imagem de Zee e os inúmeros conflitos íntimos que ele provocava. Nunew queria ficar perto dele, mas, ao mesmo tempo, mantê-lo à distância. Não era só o preço do imóvel que causava impasse. Zee também. Ele era irritante, mas atraente e encantador.

Para sufocar os pensamentos inconvenientes envolvendo Zee Pruk, ele foi à procura de alguma coisa para ler. Nas estantes do escritório, havia poucos livros. 

Examinou os títulos e, para sua alegria, encontrou um livro de contos de O. Henry. Levou-o para a sala, sentou-se diante da lareira, e mergulhou na leitura, desligando-se momentaneamente da realidade.

Notou o vai e vem de Zee, mas não interrompeu sua leitura. Ele se dividia entre cuidar do fogo da lareira e cortar lenha na garagem.

Apesar de não chegarem a um acordo no preço da casa, a atmosfera entre ambos era de agradável camaradagem. Nunew tinha plena consciência de que estavam forjando um elo. Estranhamente, não se sentia culpado por Zee estar trabalhando tanto. Afinal, ele era homem grande da relação. 

Estava tudo certo.

O último conto do livro era The Gift of the Magi. Era uma história de Natal, uma história de amor tão comovente que provocava lágrimas. Nunew começou a ler, mas desistiu. 

Era sentimental demais, emocional demais.

Deixando o livro de lado, caminhou pela sala e parou junto à janela. Ainda nevava. 

Minutos depois, Zee entrou, tirou o casaco e virou a carne que já estava crocante e tostada. 

Ele percebeu imediatamente a melancolia de Nunew e decidiu alegra-lo. Colocou algumas maçãs para assarem na lareira e foi à cozinha. Pressionou o botão do gerador e a luz prontamente iluminou a sala de estar, dissipando todas as sombras reais e imaginárias.

Nunew  bateu palmas de alegria.

— Oh, Zee! Que maravilha!
— Acho que merecemos um pouco de luz, não é mesmo? 

Com uma faca de churrasco, ele fatiou a carne assada, dispondo as fatias ordenadamente em uma travessa de inox. Nunew pegou os pratos, os talheres e encheu duas taças de cristal com água.

Depois, sentaram-se diante do fogo para jantar. Clint ergueu sua taça em um brinde.

— Feliz Natal, Nunew.

Ele encostou sua taça na de Zee.

— Feliz Natal, Zee.

Jantaram em um silêncio agradável, saboreando a comida, a companhia e o clima de encantamento. Quase ao fim da refeição, Zee quebrou o silêncio com uma brincadeira.

— Não é possível não termos nada em comum. Alguma coisa deve haver, com certeza. Vamos descobrir o que é? — Deliberadamente, escolheu um tópico que imaginava não ser do agrado de Nunew. — Seria acampar?

Ele forçou um sorriso.

— Ai, que horror! Eu arriscaria em fazer compras? — sugeriu. Zee negou com um gesto de cabeça.

— Jogar dardos? — arriscou ele.

— Xadrez — ele rebateu, depois de torcer o nariz.

— Ler revistas em quadrinhos?

— Poesias — Nunew respondeu, gentil.

—  Filmes de faroeste? — Ele o fitou interrogativamente.

— Drama e romance.

— Phil Collins?

— Bárbara Streisand.

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