Capítulo 13

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Nunew baixou os olhos. Ele era atraente demais, envolvente demais.

— Não é fácil manter um olho na concorrência e outro nas vendas— ele justificou. — É como matar um leão por dia. É muito desgastante.

— Não deixa de ser uma posição divertida de encarar a vida. Mas garanto que posso ensinar-lhe outras posições tão ou mais interessantes do que essa.

Nunew o fitou, e o olhar de ambos se encontrou por um longo momento, cheio de promessas e malícias.

— Aposto que sim, Super-homem. — disse ele, quebrando o silêncio.

Zee reuniu toda sua força de vontade para não beijá-lo. O desejo de tocá-lo era tão intenso e sufocante que ele sentiu a necessidade física de se afastar.

Aquele não era o momento apropriado para fazerem amor.

Afinal, ele não queria e nem poderia se aproveitar da vulnerabilidade de um homem, que acabara de se reanimar, depois de quase morrer congelado!

Quando o momento certo chegasse, e ele tinha toda certeza de que chegaria, queria Nunew em forma para retribuir tudo o que receberia dele. Ele queria que a energia de Nunew estivesse em alta voltagem.

—Preciso de alguma coisa para vestir. — Nunew olhou para o tailleur que um dia fora um Alfred Sung. Talvez, suas roupas íntimas pudessem ser salvas.

— Vou ver o que posso achar nos dormitórios — Zee prontificou-se, dando graças aos céus pela oportunidade de sair da sala.

Assim que ele desapareceu escada acima, Nunew enrolou-se na manta e caminhou até a lareira. 
Pegou a box e a escondeu sob a manta.

Minutos depois, Zee voltou à sala.
— Lamento, mas não encontrei nada de interessante. — Ele exibiu seus achados: uma cueca vermelha longa de lã e alguns pares de meias grossas.

— Vista minha camisa. — Os lábios dele se curvaram em um sorriso.

— Para cobrir a cueca.

— Não, por favor, Zee. Não será necessário. Veja, posso enrolar-me na manta como um xale.

Zee pareceu não ouvi-lo. Tirou a camisa, ficando de camiseta branca de mangas curtas. Os olhos de Nunew deslizaram pelo peito musculoso sob a camiseta de malha, e pelos braços rígidos. Ele vestiu o casaco de couro.

Ele simplesmente não conseguiu evitar admirá-lo e elogiá-lo.

— O que você faz para se manter em forma? — A pergunta escapou dos lábios dele, mas Zee não pareceu surpreso.

— Nada. Meu emprego e meus passatempos fazem isso por mim.

Não havia a mínima necessidade de perguntar se ele ficaria bem aquecido vestindo apenas o sobretudo forrado de lã de carneiro. Um homem como Zee Pruk dificilmente sentiria frio. Ele parecia um autêntico urso.

— Vou buscar mais lenha enquanto você se veste — ele avisou. — Temos água nos banheiros, mas está fria. Se quiser, tome um banho rápido, não é conveniente expor-se muito à água gelada. Fique à vontade. Eu não demoro. — Ele saiu e fechou a porta.

Felizmente, no dia anterior, Nunew deixara a bolsa e a pasta na casa ao saírem para conhecer a propriedade. Pegou a bolsa e subiu para uma das suítes.

Nunew, que sempre apreciara banhos longos e relaxantes, bateu o recorde de rapidez. Enxugou-se e vestiu a cueca de lã por cima da combinação e da box. Levou um susto ao olhar-se no espelho, estava pálido, com olheiras e os cabelos desgrenhados.

Parecia um personagem de filmes de terror!

Vestiu a camisa azul de lã de Zee. Seu cheiro másculo inebriou-a e fechou os olhos, tentando identificar a fragrância. Era uma mistura de maçã, fumaça e suor. Um verdadeiro afrodisíaco!

Calçou as meias e penteou os cabelos. Milagrosamente, a água do lago não causara danos maiores, seus cabelos estavam apenas mais encaracolados do que o normal. A única maquiq
agem que carregava na bolsa era um hidratante labial com cor, e escolhera aquela cor para combinar com o tailleur vermelho de Alfred Sung. Agora, combinaria com a cueca de lã!

Nunew saiu do banheiro sentindo-se bem melhor. Ao descer a escada, viu Zee colocando mais lenha na lareira. Ele tirara o casaco e estava só de camiseta. Virou-se e, vendo-o, os olhos dele brilharam.

Disfarçando o embaraço, ele apressou-se em propor:

— O que acha de vasculharmos a casa para ver se encontramos alguma coisa que nos possa ser útil? - Zee sorriu.

— Tão brilhante quanto bonito!
Na cozinha, ele abriu o armário e mostrou-lhe o tesouro escondido.

— Um gerador, veja. Eu tirei gasolina do carro e coloquei aqui para garantir a eletricidade.  Entretanto, teremos de economizar — ele explicou. — Hoje, quando escurecer, teremos luz, poderemos usar o fogão e, talvez, ouvir os boletins meteorológicos pelo rádio.

Nunew também sorriu e curvou os lábios em um gesto de admiração.— Tão brilhante quanto bonito.

Dentro dos armários, encontraram todos os tipos de panelas, potes e utensílios conhecidos pelo homem moderno. Porcelanas, pratarias, copos e xícaras, aparelhos eletrodomésticos e outras novidades. Mas quase nada comestível. Em um compartimento, havia quinze espécies diferentes de chás e condimentos, uma caixa de velas, algumas latas decoradas, um pacote de guardanapos de papel com corações vermelhos e uma caixa de suco de laranja em pó esquecida em uma gaveta vazia.

Quando já perdiam as esperanças, depararam-se com um vidro de café solúvel pela metade. Para Nunew e Zee, foi como encontrar um pote de ouro em uma mina abandonada.

— Café! — exclamaram alegremente em uníssono. Zee levou uma caneca com água ao fogo da lareira e Nunew colocou pó de café em duas xícaras. Depois, sentaram-se na frente da lareira, esperando a água ferver.— Dizem que o melhor da festa é esperar por ela — Nunew brincou.— Não acredite nisso. — A voz dele soou enrouquecida, o duplo sentido das palavras descaradamente claro.

Nunew sentiu uma onda de prazer percorrer lhe a espinha. Zee entornou a água fervente na xícara de Nunew, que fechou os olhos inalando o aroma do café.

— Que cheiro delicioso!Um gesto simples e espontâneo. Para Zee, porém, teve uma conotação extremamente sensual que revelava a paixão de Nunew por tudo na vida. Decididamente, sua frieza e arrogância eram só aparência!

Ele adicionou algumas gotas de uísque ao seu café, e Nunew ergueu sua xícara para Zee fazer o mesmo com o dele. Depois de provar o café com uísque, Nunew revirou os olhos.

— Isto sim é luxúria! — Ele bebeu dois longos goles e estalou a língua. — Céus, é melhor do que sexo!
Zee soltou uma gargalhada.

— Se você realmente pensa assim, é porque deve ter tido apenas amantes inadequados, Nunew Chawarin!

De repente, Nunew pegou-se pensando sobre as palavras dele. Até o dia anterior, ele teria negado veementemente, agora, porém, já não via razão para negativas. Estava a menos de vinte e quatro horas com Zee Pruk e suas convicções a respeito de muitas coisas tinham mudado completamente. Nada mais era igual e jamais seria.

Ele olhou dentro dos olhos Zee.

— Acho que é a sua vez de tomar banho frio, Zee Pruk.

Ele sorriu. Seria preciso muito mais do que um banho frio para acalmar seu corpo. No mínimo, um mergulho nas águas congeladas do lago Michigan.

Só então, lembrou-se da linha de pesca. Levantou-se e, vestiu o casaco.

— Aonde você vai? — Nunew perguntou, vendo-o sair da sala.— Verificar meu barbante. Eu volto já.

Nunew encolheu os ombros. Não tinha a menor ideia do que poderia ser o tal barbante e também não sabia por que tocara no assunto de sexo. Decididamente, ele ainda não estava em seu estado normal. Lembrou-se de ter lido que sobre a síndrome de Estocolmo, onde a vítima se apaixona por seu sequestrador. Bizarro.

Começou a rir. Zee Pruk não tinha o sequestrado. A imagem romântica envolvendo sequestrador e sequestrado era pura fantasia.

Pare de brincar consigo mesmo, Nunew Chawarin! Ele é o homem mais desejável e encantador que você já conheceu em toda sua vida, e a atração é definitivamente mútua.

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O capítulo 14 será postando logo em seguida.

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