Capítulo 5

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Nunew abriu a bolsa e tirou um cigarro do maço quase vazio. Estava tentando parar de fumar. Na verdade, ultimamente, ele até conseguia passar muitos dias sem acender um único cigarro, mas quando estava nervoso, acabava cedendo à tentação. E naquele momento, estava muito irritado com Zee Pruk! Pruk franziu o cenho.

— Este é um hábito muito perigoso — advertiu.

— Tem razão. Mas se eu pegar fogo, não poderia estar com uma pessoa mais qualificada para apagá-lo.

Ele ignorou a provocação e continuou dirigindo em silêncio.

Por volta de meio-dia e meia, eles chegaram a Berdwoo uma cidade borbulhante de turistas no verão, mas deserta no inverno. Ninguém se aventura a enfrentar duas horas de estrada em condições climáticas adversas para descansar à beira de um lago congelado.

Ou para mergulhar em um lago congelado, pensou Nunew ainda espantado com o esporte tão inusitado para ele. Só mesmo Zee para achar aquilo divertido!

Pruk parou em um posto de gasolina para abastecer o carro, e Nunew aproveitou para ir ao banheiro.

— Que tal almoçarmos antes de sairmos da civilização? — ele sugeriu assim que Nunew voltou. — Informaram-me que a cidade tem dois bons restaurantes, mas ambos estão fechados nesta semana de Natal. Mas na estrada encontraremos uma ou outra lanchonete aberta.

— Eu não costumo almoçar — ele disse, descartando a ideia de sentar-se à mesa com Zee Pruk. Tudo o que ele queria era mostrar-lhe logo o imóvel e voltar logo.

Assim que saíram da cidade, avistaram uma lanchonete. Pruk estacionou o carro e desceu.

— Quer ir? — ele perguntou.

— Não. Eu espero aqui.

— Posso lhe trazer um hambúrguer ou outro lanche qualquer. Seria bom você comer alguma coisa. Não sabemos o que vamos encontrar daqui para frente.

— Não, obrigado. Esse tipo de lanche faz muito mal à saúde!

Zee riu.

— E o cigarro não?

Nunew ergueu as mãos em um gesto resignado.

— Concordo com você, tanto que estou decidido a parar de fumar.

— Vou acreditar em você, Nunew Chawarin.

— Pode apostar Zee Pruk. Sou um homem de opinião forte.

— E teimoso também!

Pruk afastou-se ainda rindo, e Nunew quase o chamou para pedir-lhe um café. Mudou de ideia ao lembrar que se negara a servir-lhe um pela manhã.

Observou-o afastar-se com passos firmes e cadenciados até entrar na lanchonete. Depois, tirou o seu lip balm da sua bolsa e retocou. Se conseguisse realizar a venda da casa do lago, fecharia sua cota anual com chave de ouro. E ainda teria chances de ser aceita como membro do Círculo Presidencial.

Com o canto dos olhos, viu Zee saindo da lanchonete e guardou rapidamente o lip balm na bolsa. Endireitou-se no banco e virou o rosto em direção à estrada.

Zee entrou no carro com dois hambúrgueres e um milk-shake.

— Tem certeza de que não quer comer? — ele ainda ofereceu, sentando-se ao volante.

— Tenho, obrigado.

Ele não insistiu e, sem a menor cerimônia, abriu as embalagens e devorou os dois lanches. Depois, voltou à estrada.

A Avenida trinta e um se transformou em uma reta, e Nunew ficou atento. A entrada que deveriam pegar não estava muito longe. Lembrava-se do rio, mas não tinha certeza de onde entrar, depois de atravessarem a ponte. Ele já visitou a casa, mas era um dia claro e ensolarado. Encobertos pela neve, todos os caminhos ficaram muito parecidos e era difícil identificá-los.

Zee ligou o rádio e foi pulando as músicas no Spotify. Depois de pular, talvez, cerca de vinte músicas, por fim, ele deixou em um pop coreano cantando por vozes femininas.

— Você gosta de K-pop?

— Para falar a verdade, gosto de uma e outras músicas, mas não muito.— No momento em que as palavras saíram de sua boca, Nunew desconfiou que cometera um erro. Eventualmente, poderia até arrepender se da revelação.

E não se enganou. Zee não se preocupou em mudar de estação, e até aumentou o volume.

Nunew aguentou o que considerava uma tortura por uns cinco minutos, já que era uma música que apelava demais na fofura em sua opinião. De repente, sem pedir licença ou desculpas, esticou o braço e clicou no botão, decidido a desligar o som. Porém, sem querer clicou no botão que trocava do spotify para rádio. Naquele momento, o repórter começava a informar o boletim meteorológico.

— Agora, a previsão do tempo...

— Espere! — A voz autoritária de Zee o parou. Sufocando o mau humor, Nunew tornou a aumentar o volume.

— ...muita neve na região com grandes possibilidades de nevascas. Aconselhamos evitarem as estradas, exceto em casos de emergência.

— De que cidade é essa emissora? — Nunew perguntou.

— Não entre em pânico. Pode ser do outro lado do lago, em Standpoint ou até mesmo do Canadá.

— Sinto decepcioná-lo, mas não sou do tipo que entra em pânico — ele rebateu com frieza.

Zee lançou-lhe um olhar intrigado.

— De que tipo você é, Nunew?

Ele empinou o queixo e sustentou-lhe o olhar.

— De que tipo você acha que sou Pruk?

Curvando levemente os lábios, ele voltou a atenção à estrada.

— É difícil dizer, Nunew. Ainda não consegui decifrar se você é um príncipe de gelo ou se simplesmente ainda não foi despertado. Porém, não considero impossível descobrir a verdade.

Ele não gostou do comentário, mas não cometeu o erro de demonstrar seu desagrado.

— Muito interessante! Eu, ao contrário, não tive dificuldade alguma para identificar sua personalidade. Você é um arrogante e inconveniente!

Zee forçou um sorriso.

— Decididamente, Nunew Chawarin, você tem pavio curto. Eu só estava brincando.

— Para seu conhecimento, estou noivo e vou me casar logo. 

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