[Atenção: Morte de um animal silvestre]Nunew observava-o. As mãos dele eram grandes, fortes, hábeis e calejadas. Os movimentos eram rápidos e pareciam hipnotizá-la. Com relutância, ele admitiu a si mesmo que as mãos de Zee Pruk eram estranhamente atraentes.
Zee encontrou o que procurava: uma barra de ferro de uns trinta milímetros. Ele não lhe pediu para segurar o outro extremo da fita métrica, como Nunew esperava. Ele apenas acompanhou a cerca de arame, contando os passos até chegar a outro extremo.
Nunew fechou a gola do casaco e colocou as mãos nos bolsos. Estava congelando. Zee, sem chapéu, parecia não sentir o frio.
— Vejo que a vida selvagem por aqui é abundante e variada... Veja. Guaxinins, doninhas, raposas, veados, até mesmo alces.
Nunew não tinha notado as pegadas dos animais até ele apontá-las. Zee não perdia detalhe algum. Ele juraria que as pessoas não resistiam aos encantos dele.
Céus, de onde surgira aquele pensamento? Certamente, não era de sua conta o efeito que ele causava nas pessoas. Quanto a ele, o único efeito que Zee Pruk exercia era de revolta e irritação. Contudo, acreditava que aquela implicância não chegaria a afetar a venda. Ele parecia divertir-se muito, provocando-o.
De repente, um bando de faisões revoou entre as árvores, e um pássaro caiu no chão.
— Ele ficou preso na armadilha — disse Zee, pegando o pássaro. — Está com a perna quebrada. — Imediatamente, sem a menor hesitação, torceu o pescoço da ave.
Depois, partiu a armadilha em pedaços e atirou-a longe, em um gesto de raiva.
— Deviam prender esses irresponsáveis que espalham armadilhas pelos bosques!
Nunew não acreditou no que acabara de ver, e olhou-o com expressão horrorizada.
— Seu covarde cruel! Por que fez isso com o pássaro?
— Eu não sou cruel, a natureza é. A perna do pássaro estava quebrada e ele fatalmente seria comido por uma raposa assim que escurecesse.
— Poderíamos levá-lo conosco para a cidade. O veterinário cuidaria dele.
Zee encarou-o com expressão divertida.
— O frio está afetando seu cérebro, Nunew.
— É uma pena que não tenha trazido sua arma, Sr. Pruk, para acabar com o bando inteiro! — Revoltado com a atitude dele, Nunew deu meia-volta e correu em direção a casa.
— Aonde você vai? — ele perguntou ainda em um tom divertido.
— Vou esperá-lo na casa. Eu me recuso a compactuar de tamanha barbaridade!
— Nunew, volte aqui. — O tom divertido desaparecera. Era uma ordem.
— Deixe-me em paz! — ele esbravejou sem parar de andar.
— Não se atreva a voltar sozinho. — Agora, já não era mais uma ordem. Era voz de comando. — É perigoso. Está escurecendo rápido, e você pode confundir o caminho, Nunew.
Ele sentiu uma satisfação enorme em desafiá-lo.
— Guarde seus conselhos para seus alunos mergulhadores, professor.
A claridade diminuía rapidamente, mas por causa da neve, Zee ainda conseguia ver a bela figura dele desaparecendo entre as árvores. De repente, o casaco preto misturou-se ao tronco das árvores, e Zee perdeu-a de vista.
— Ah, porra, teimoso! — Ele colocou o pássaro no feno e foi atrás dela. — É melhor prevenir antes que o pior aconteça!
Nunew caminhava com rapidez. A imagem do pequeno faisão não saía de sua mente.
Zee não deixava de ter razão. Se a ave ficasse agonizando ali no chão, certamente, seria devorada por um predador. Mas poderiam ter tentado salvá-lo.
Desde criança, ele sempre se compadecera dos animais, principalmente dos feridos. Uma vez, ele e a mãe tinham cuidado de um gato que fora envenenado.
Passavam dia e noite medicando o animal, tentando uma comida após outra, até encontrar o alimento certo. A única coisa que o estômago do animal não rejeitara fora mel. De hora em hora, eles espalhavam camadas nas patas do gato. Ele ia lambendo o mel e, assim, foi se recuperando até sarar completamente.
Cuidar de animais doentes exigia uma grande dose de paciência e tempo.
Paciência, Nunew tinha de sobra, muito mais com animais do que com humanos. Mas ultimamente, seu tempo era escasso.
Caminhava absorto em seus pensamentos e, em consequência, prestava pouca atenção por onde andava. Seguiu na direção que imaginava ser o caminho até a casa e quando viu uma clareira, atravessou-a sem pestanejar. De repente, um estalido cortou o ar e ele sentiu o chão abrindo-se sob seus pés.
Gritou assustado sem saber o que estava acontecendo. Tudo ocorreu rápido demais e quando percebeu, a água gelada fechou-se sobre sua cabeça.
Só então percebeu o que acontecera. A paisagem coberta de neve o confundiu e, em vez do caminho de casa, ele seguira na direção do lago e afundara nas águas congeladas.
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Bônus, já que o capítulo dessa semana foi pequeno e como responderam que queriam capítulos mais longos e uma vez por semana, decidi soltar esse para complementar o capítulo 8!
Obrigada pela leitura!

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Aquela Noite
RomanceEra véspera de Natal daquelas bem memoráveis, o frio intenso e a neve que cobria tudo ao redor transformavam a paisagem em um conto de fadas. Na casa à beira do lago Berdwoo, o belo e destemido Nunew Chawarin se viu isolado do mundo em meio a tempes...