Capítulo 6

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— Para seu conhecimento, estou noivo e vou me casar logo. 

Os olhos dele se fixaram nas mãos dele. Percebendo, Nunew apressou-se em explicar:

— Vou ganhar o anel de noivado no Natal. — De repente, ele se perguntou por que pensou ser necessário comentar sobre o noivado com aquele homem insuportável. O assunto era irrelevante para um desconhecido chamado Zee Pruk.

— Imagino que seu noivo seja do tipo sensível.

— Ele é professor de Inglês e Literatura. — Por que aquilo soara tão pedante? — Um intelectual — ele acrescentou para provocá-lo. — Hunter é o oposto de você. Sim, ele é sensível e compreensivo.

— Ele é passivo, e eu sou agressivo... Hunter é o cordeiro, e eu sou o lobo.

Nunew apertou os lábios na tentativa de evitar novos comentários, mas não conseguiu.

— E ele não dirige uma caminhonete ridícula.

— Certamente também não dirige um Mercedes prateado!

O dardo de Zee atingiu o alvo, e a reação de Nunew foi imediata.

— Hunter não se sente ameaçado pelo fato de eu ganhar mais do que ele.

— Acho que ele deveria. Você pretende ser o chefe da família depois do casamento?

— Não, Sr. Pruk. Eu pretendo viver em igualdade de condições com o meu parceiro. — Ele ergueu o queixo. — Mas admito que não seja nada dócil nem submisso. Não cozinho, não costuro, e não me deixo intimidar nunca.

— E aposto como não esquece de carregar sempre seus próprios preservativos!

Nunew corou porque realmente tinha dois ou três na bolsa. O fato de Zee tê-lo feito corar abalou seu equilíbrio. Ele virou o rosto para a janela e apontou o dedo para uma

entrada.

— Oh, acho que deveríamos ter entrado ali.

— Você acha? — Ele encontrou um lugar para manobrar o carro e, sem demonstrar impaciência, fez o retorno. — Como você não tem certeza, não custa tentar.

Os flocos de neve caíam do céu como pequenos cristais brilhantes, formando uma densa cobertura sobre a estrada e sobre as árvores ao redor. Nunew e Zee seguiam em um carro velho, lutando para manter o veículo na pista enquanto avançavam pela estrada deserta. O silêncio que pairava no ar era interrompido apenas pelo som dos pneus deslizando na neve.

Nunew olhava pela janela, desesperada por um sinal de que estavam no caminho certo. Mas, à medida que os minutos se arrastavam, ele começou a perceber que estavam perdidos. Ele sabia que devia confessar isso a Zee mas preferiu manter o silêncio.

— Talvez, logo depois daquela ponte... — ele sugeriu, mas Zee o interrompeu, com um tom de desconfiança.

— Você não sabe onde fica essa entrada, não é mesmo?— Ele o acusou.

Nunew engoliu em seco, sabendo que estava encurralado.

— Deveria ser por aqui. Certamente, você deve ter passado reto. — ele tentou novamente.

Mas Zee não parecia convencido.

— Seja sincero, Nunew. Você já esteve mesmo neste imóvel?— ele perguntou.

Nunew suspirou, sabendo que não poderia mais esconder a verdade.

— Claro que estive, mas era outono e o dia estava claro. Tudo parece diferente coberto de neve. Volte até o rio e... — Ele foi interrompido pelo gesto autoritário de Zee.

— Não diga mais nada e guarde suas sugestões para si mesmo. Eu me viro sozinho. — ele ordenou.

Nunew sentiu o golpe, mas sabia que aquele não era o momento de discutir. Ele observou Zee, usando a lógica e o velho bom senso, guiando o carro pelas estradas secundárias até chegar ao lago. Depois, seguiu devagar pela rodovia ao longo da margem. Nunew estava atento, observando atentamente as casas, até que, finalmente, reconheceu a propriedade de sua amiga.

— É aquela, tenho certeza!— ele exclamou, apontando uma mansão de dois andares.

Eram quase duas e meia da tarde quando Zee estacionou diante da casa de madeira. O tempo piorava sensivelmente e começava a nevar. Nunew e Zee trocaram um olhar de alívio e desceram do carro, correndo para a porta da casa. Agora, finalmente, estavam a salvo.

Nunew pegou a bolsa, a pasta e, com as chaves da casa na mão, e seguiu Zee.

Os ventos frios do lago Berdwoo tinham acumulado uma pequena quantidade de neve na frente da casa, obstruindo o caminho. Zee voltou ao carro e pegou uma pá.

—Parece que teremos que abrir nosso próprio caminho — disse ele sem nenhum sinal de ressentimento por ele ter perdido o caminho. — Não deixa de ser pitoresco.

— Se você tiver outra pá, eu poderei ajudar — prontificou-se Nunew

— Tirar uma camada leve de neve não irá me deixar puto.

Acho que não mesmo! Será preciso muita coisa para que isso aconteça, Sr. Bombeiro arrogante, Nunew pensou.

Quando conseguiram, finalmente, entrar em casa, o relógio marcava três horas. Nunew limpou as botas na entrada e, com as mãos, tirou a neve dos ombros e

cabelos. A casa estava gelada. Ele foi direto ao telefone para avisar ao chefe que chegariam tarde.

— Droga! O telefone está sem área. — Ele contemplou Zee com um olhar mordaz. — Meu Mercedes tem um telefone por satélite, e se tivéssemos vindo com ele, poderíamos nos comunicar com o mundo.

Zee fitou-o com desdém.

— Neste momento, o telefone do seu Mercedes não ia ajudar em nada!

Nunew tentou ignorar o comentário e revirou os olhos.

— Você não consegue sobreviver sem telefone?

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