— Você não consegue sobreviver sem telefone?
Nunew não precisava ligar para o escritório. Morava sozinho, ninguém o esperava. Hunter estava em outra cidade
— Se você não precisa telefonar para ninguém, certamente, eu também não.
— Se essa é uma maneira sutil de querer saber se sou casado, a resposta é não. Meus dois irmãos são divorciados, de modo que sou muito cauteloso em relação à relacionamentos.
— Quanta presunção! Não foi isso que eu quis dizer. Não estou nem um pouco interessado em sua vida pessoal.
— A curiosidade está estampada no seu rosto, Nunew. Você está doida para saber se eu tenho condições de comprar este imóvel. Não negue!
Vá se foder, Zee Pruk! Você é esperto demais para o meu gosto!
Nunew deu de ombros.
— Vou abrir o registro da água. Vá verificar a caixa de eletricidade antes que escureça ainda mais — Nunew ordenou antes de descer ao porão, onde ficava a válvula hidráulica.
Viu os encanamentos da lavanderia e um aquecedor de água desligado. Entrou no banheiro do porão. Havia chuveiro e o vaso sanitário, mas os registros estavam fechados.
Sem luz, o porão estava escuro demais e ele não encontrou a válvula hidráulica. Resignado, voltou à sala.
— Lamento, mas não encontrei o registro de água. Se você ligar a eletricidade, ficará mais fácil.
— Lamento, mas a eletricidade foi temporariamente desligada —ele imitou-o. — Acenda o fogo. Vou ao porão procurar a válvula hidráulica.
Sozinho na sala, Nunew olhou para a pequena quantidade de toras ao lado da lareira de pedra. Não viu fósforos. Tirou o isqueiro da bolsa e procurou por jornais velhos. Nada!
Onde poderia encontrar papéis? Abriu a pasta e pegou alguns formulários e prospectos da imobiliária.
Ele agora precisava de gravetos. Com uma rápida inspeção pela sala, viu uma cesta com pinhas usadas para decoração natalina e, satisfeita com sua ideia brilhante, colocou-a ao lado da lareira. Fez uma pirâmide com as pinhas sobre os formulários amassados e acendeu o isqueiro. O fogo ardeu rapidamente, e junto, veio uma onda espessa de fumaça. Nunew começou a tossir.
Uma mão forte empurrou-o para o lado, alcançou a chaminé e puxou uma alavancade ferro.
— Você tem que abrir o registro para saída da fumaça — Zee explicou. —Esqueceu-se deste pequeno detalhe?
Ele fingiu não ouvi-lo e mudou de assunto.
— Você encontrou a válvula hidráulica? — desafiou-o.
— Claro que encontrei.
O sorriso largo de Zee irritou-o. Aquele homem tinha o poder de fazê-lo sentir-se inútil!
Ele colocou as toras na lareira, e logo o fogo ardia calmamente. Sem fumaça.
— Assim que você se aquecer, mostre-me a casa. — ele ironizou, ainda com um sorriso irritante nos lábios.
Momentos depois, estavam percorrendo a casa de madeira que era realmente prática, confortável e muito bonita.
Zee insistiu em conhecer primeiro o andar superior. Havia quatro suítes que davam para o terraço externo que rodeava toda a casa. A vista para o lago e a floresta era deslumbrante.
Zee levantou a cabeça e respirou profundamente, inalando o cheiro de eucalipto que vinha da mata. Nunew observava como os olhos dele acompanhavam os flocos de neve que pareciam dançar na tarde cinzenta.
— A noite passada foi de lua cheia. Havia um anel ao redor dela, o que geralmente prenuncia mudança de tempo.
— Andou lendo o Almanaque Rural, Sr. Pruk?
— Vocês da cidade levam tudo na brincadeira, mas nós aprendemos a não zombar da sabedoria popular. — E fazendo um gesto com a mão em direção à porta, disse: — A temperatura está caindo ainda mais. Vamos entrar antes de congelar.
Eles entraram e voltaram ao andar inferior. A sala ampla era dividida em dois ambientes: sala de estar e sala de jantar. A cozinha era moderna e bem equipada. Havia também um escritório, uma sala de televisão e um banheiro social, meio isolado no final de um corredor, um espaço envidraçado com uma banheira azul-cobalto e sauna.
Que romântico. Nunew pensou.
— Que foda! — Zee exclamou, sorrindo.
Nunew rapidamente bloqueou os pensamentos fantasiosos e direcionou o assunto ao negócio em perspectiva.
— Como você sabe, a propriedade está avaliada em quatrocentos mil dólares — ele o lembrou. — Até que o preço é razoável se levarmos em conta que a casa está bem conservada e totalmente mobiliada. A maioria dos móveis são todos novos e modernos, seguindo o estilo mid-century em cores planas e também as obras de artes penduradas pela casa são assinadas por variados artistas independentes. — Nunew duvidava de que ele percebe esse detalhe de tanto bom gosto. — Não é interessante?
Para decepção de Nunew, Zee não pareceu impressionado.
— Muito. Aliás, eu faço pinturas como estas. Na verdade, aquele quadro é de um dos meus grandes amigos. Desculpe, estou me desviando do assunto. O que você estava falando mesmo?
Nunew balançou a cabeça quase imperceptivelmente. Por que estava tão surpreendido? O homem era um verdadeiro faz-tudo! Uma caixa de surpresas! E egocêntrico! Começava a acreditar que Zee Pruk tinha condições de comprar aquela propriedade e outras, se quisesse.
— Então... Como você também é artista, além de bombeiro e professor de mergulho, acho que não tenho mais nada a acrescentar. — Ele sorriu. — Bem, já que conheceu a casa, acho que poderíamos...
Ele não o deixou terminar a frase.
— Quero conhecer a área externa antes que escureça.
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Aquela Noite
RomanceEra véspera de Natal daquelas bem memoráveis, o frio intenso e a neve que cobria tudo ao redor transformavam a paisagem em um conto de fadas. Na casa à beira do lago Berdwoo, o belo e destemido Nunew Chawarin se viu isolado do mundo em meio a tempes...