Capítulo 7

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— Você não consegue sobreviver sem telefone?

Nunew não precisava ligar para o escritório. Morava sozinho, ninguém o esperava. Hunter estava em outra cidade

— Se você não precisa telefonar para ninguém, certamente, eu também não.

— Se essa é uma maneira sutil de querer saber se sou casado, a resposta é não. Meus dois irmãos são divorciados, de modo que sou muito cauteloso em relação à relacionamentos.

— Quanta presunção! Não foi isso que eu quis dizer. Não estou nem um pouco interessado em sua vida pessoal.

— A curiosidade está estampada no seu rosto, Nunew. Você está doida para saber se eu tenho condições de comprar este imóvel. Não negue!

Vá se foder, Zee Pruk! Você é esperto demais para o meu gosto!

Nunew deu de ombros.

— Vou abrir o registro da água. Vá verificar a caixa de eletricidade antes que escureça ainda mais — Nunew ordenou antes de descer ao porão, onde ficava a válvula hidráulica.

Viu os encanamentos da lavanderia e um aquecedor de água desligado. Entrou no banheiro do porão. Havia chuveiro e o vaso sanitário, mas os registros estavam fechados.

Sem luz, o porão estava escuro demais e ele não encontrou a válvula hidráulica. Resignado, voltou à sala.

— Lamento, mas não encontrei o registro de água. Se você ligar a eletricidade, ficará mais fácil.

— Lamento, mas a eletricidade foi temporariamente desligada —ele imitou-o. — Acenda o fogo. Vou ao porão procurar a válvula hidráulica.

Sozinho na sala, Nunew olhou para a pequena quantidade de toras ao lado da lareira de pedra. Não viu fósforos. Tirou o isqueiro da bolsa e procurou por jornais velhos. Nada!

Onde poderia encontrar papéis? Abriu a pasta e pegou alguns formulários e prospectos da imobiliária.

Ele agora precisava de gravetos. Com uma rápida inspeção pela sala, viu uma cesta com pinhas usadas para decoração natalina e, satisfeita com sua ideia brilhante, colocou-a ao lado da lareira. Fez uma pirâmide com as pinhas sobre os formulários amassados e acendeu o isqueiro. O fogo ardeu rapidamente, e junto, veio uma onda espessa de fumaça. Nunew começou a tossir.

Uma mão forte empurrou-o para o lado, alcançou a chaminé e puxou uma alavancade ferro.

— Você tem que abrir o registro para saída da fumaça — Zee explicou. —Esqueceu-se deste pequeno detalhe?

Ele fingiu não ouvi-lo e mudou de assunto.

— Você encontrou a válvula hidráulica? — desafiou-o.

— Claro que encontrei.

O sorriso largo de Zee irritou-o. Aquele homem tinha o poder de fazê-lo  sentir-se inútil!

Ele colocou as toras na lareira, e logo o fogo ardia calmamente. Sem fumaça.

— Assim que você se aquecer, mostre-me a casa. — ele ironizou, ainda com um sorriso irritante nos lábios.

Momentos depois, estavam percorrendo a casa de madeira que era realmente prática, confortável e muito bonita.

Zee insistiu em conhecer primeiro o andar superior. Havia quatro suítes que davam para o terraço externo que rodeava toda a casa. A vista para o lago e a floresta era deslumbrante.

Zee levantou a cabeça e respirou profundamente, inalando o cheiro de eucalipto que vinha da mata. Nunew observava como os olhos dele acompanhavam os flocos de neve que pareciam dançar na tarde cinzenta.

— A noite passada foi de lua cheia. Havia um anel ao redor dela, o que geralmente prenuncia mudança de tempo.

— Andou lendo o Almanaque Rural, Sr. Pruk?

— Vocês da cidade levam tudo na brincadeira, mas nós aprendemos a não zombar da sabedoria popular. — E fazendo um gesto com a mão em direção à porta, disse: — A temperatura está caindo ainda mais. Vamos entrar antes de congelar.

Eles entraram e voltaram ao andar inferior. A sala ampla era dividida em dois ambientes: sala de estar e sala de jantar. A cozinha era moderna e bem equipada. Havia também um escritório, uma sala de televisão e um banheiro social, meio isolado no final de um corredor, um espaço envidraçado com uma banheira azul-cobalto e sauna.

Que romântico. Nunew pensou.

— Que foda! — Zee exclamou, sorrindo.

Nunew rapidamente bloqueou os pensamentos fantasiosos e direcionou o assunto ao negócio em perspectiva.

— Como você sabe, a propriedade está avaliada em quatrocentos mil dólares — ele o lembrou. — Até que o preço é razoável se levarmos em conta que a casa está bem conservada e totalmente mobiliada. A maioria dos móveis são todos novos e modernos, seguindo o estilo mid-century em cores planas e também as obras de artes penduradas pela casa são assinadas por variados artistas independentes. — Nunew duvidava de que ele percebe esse detalhe de tanto bom gosto. — Não é interessante?

Para decepção de Nunew, Zee não pareceu impressionado.

— Muito. Aliás, eu faço pinturas como estas. Na verdade, aquele quadro é de um dos meus grandes amigos. Desculpe, estou me desviando do assunto. O que você estava falando mesmo?

Nunew balançou a cabeça quase imperceptivelmente. Por que estava tão surpreendido? O homem era um verdadeiro faz-tudo! Uma caixa de surpresas! E egocêntrico! Começava a acreditar que Zee Pruk tinha condições de comprar aquela propriedade e outras, se quisesse.

— Então... Como você também é artista, além de bombeiro e professor de mergulho, acho que não tenho mais nada a acrescentar. — Ele sorriu. — Bem, já que conheceu a casa, acho que poderíamos...

Ele não o deixou terminar a frase.

— Quero conhecer a área externa antes que escureça.

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